SOBRE BAMBUS E FLECHAS 19/09/2017
- MÁRCIO COIMBRA - DIÁRIO DO PODER
Se Rodrigo Janot pensava que sua passagem pela Procuradoria Geral da República (PGR) deixaria um legado e catapultaria seu nome para a política mineira, o resultado pode ser bem diferente do planejado.
A soma dos erros do procurador, coroados com a atrapalhada delação dos irmãos Batista, encerra um período conturbado, polêmico e politizado de um órgão que deveria estar além dessas disputas.
Escolhido e reconduzido por Dilma, Janot disse que “pau que dá em Chico, também dá em Francisco”, em sua sabatina.
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Vimos o contrário.
A excessiva parcialidade política do procurador deixou marcas profundas em suas ações. A excessiva leniência com que tratou o governo Dilma contrasta com a fúria que destinou ao presidente Temer.
Suas ações, que agora paralisam a agenda do parlamento pela segunda vez, nos mostram que talvez algumas prerrogativas de seu cargo precisem ser revistas.
A busca pelo espetáculo e holofotes afastou a procuradoria de suas funções mais importantes, essencialmente de fiscal da lei.
Devemos lembrar que somos uma democracia jovem e nossas instituições ainda encontram-se em amadurecimento, assim, devemos evitar egos em excesso no comando de órgãos importantes, pois as vaidades podem se confundir com o cargo, ferindo nossas liberdades.
Janot quebrou uma tradição de procuradores gerais discretos, porém ativos em nossa democracia, como seus antecessores Antônio Fernando de Souza e Roberto Gurgel.
Enquanto ainda buscam-se explicações para entender os motivos de Janot ter suspendido a delação de Léo Pinheiro, que implicava Lula e Dias Toffoli, seus dias na procuradoria terminam com a corrupção brotando dentro de seu gabinete.
Convivemos com o escárnio do PGR dividir copos de cerveja em botecos de Brasília com representantes de seus investigados e ao mesmo tempo descobrir que Marcelo Miller, seu homem de confiança, era na verdade um agente duplo que o ajudava a afiar flechas para alimentar seu bambu. Mas não falemos de corda em casa de enforcado.
Janot ainda brincou com a democracia.
Depois de se omitir diante das evidências contra Dilma, solicitou o afastamento dos presidentes da Câmara e do Senado de suas funções, além da prisão, suspensão e afastamento de mandatos parlamentares.
Ganhou algumas, perdeu outras.
Tentou fazer a sua própria justiça, esquecendo-se que lei deveria balizar suas ações.
Lembro que suspensão de mandato parlamentar outorgado pelo povo é uma violência que somente encontra paralelo em atos institucionais.
Democracia se faz com voto, não com caneta.
Na ânsia de mostrar independência, as flechas da última semana miraram no petismo e no governo.
É preciso muito mais do que isso para higienizar o passado.
Sua denúncia final paralisa mais uma vez a agenda parlamentar e joga o país na incerteza.
O fim melancólico de um período de muitos holofotes, porém de pouco brilho.