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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Eis o desastre a se consumar
20/09/2017 - BLOG DE REINALDO AZEVEDO

Os idiotas que foram às ruas berrar sandices e jumentices já podem comemorar. Apenas 205 deputados votaram nesta terça na proposta que criava o distritão para as eleições de 2018 e o voto distrital misto para 2022. Nada menos de 238 dos nobres parlamentares disseram “não”.

Como se tratava de uma Proposta de Emenda à Constituição, a PEC, eram necessários 308 votos para efetivar a mudança.

Deve ir para o vinagre também a proposta que cria o fundo público para financiar a campanha.


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Como é mesmo o grito de guerra?

“Não queremos mais dinheiro público para os políticos”.

Não haverá.

O crime organizado tomará conta da coisa toda.

Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente do Senado, anunciou ontem a formação de uma comissão para redirecionar para a eleição dinheiro público que já vai hoje para os partidos.

Como a coisa seria feita?

Uma das ideias é manter obrigatório o horário eleitoral apenas nas TVs públicas.

Os recursos com que o Estado ressarce as emissoras privadas para transmitir os programas, via renúncia fiscal (as emissoras deixam de pagar impostos), seria convertido em fundo eleitoral.

Os partidos que quisessem acesso a esse canal de propaganda teriam de comprar o horário.

Duvido que prospere.

Se acontecer, a coisa está longe de ser uma solução.

Por quê?

Estamos falando de algo em torno de R$ 1 bilhão.

Oficialmente, as eleições de 2014 custaram mais de R$ 5 bilhões.

De verdade, em razão do caixa dois, foi muito mais do que isso.

Assim, a reforma política pode mesmo se limitar à proibição das coligações proporcionais e uma nova regra para a chamada cláusula de barreira.

E mesmo isso passou a correr risco.

Eu tinha especial amor pelo “distritão” e “pelo fundo público”?

Eu não!

Trata-se de duas estrovengas.

Eu estava de olho no futuro.

Entendia, e estava certo, que eram caminhos para duas soluções virtuosas: voto distrital misto e volta da doação de pessoas jurídicas, com novas regras.

Mas estava antevendo a tragédia.

E ela está aí, com todas as letras.

Eu sou favorável ao horário eleitoral obrigatório nas emissoras privadas?

É claro que não!

Que cada partido compree o seu tempo, como acontece nos EUA, por exemplo.

Mas, para tanto, as empresas não podem ser proibidas de fazer doação.

O nosso país, o Bananão, como chamava Ivan Lessa, resolveu, no entanto, inventar quadratura do círculo.

Assim, a disputa de 2018 estará entregue, como nunca, ao crime organizado e ao caixa dois.

O dinheiro que vai financiar a disputa será mais secreto do que aquele que alimenta os ditos “movimentos de rua”.

É inútil tentar saber quem os financia.

E eles têm uma resposta na ponta da língua: não são obrigados a nominar seus “donos” porque são entes privados e coisa e tal…

Pois é!

São agentes privados, financiados por alguém, que têm o topete e a ambição de determinar o que devem fazer os agentes públicos.

Não poderia haver pior desdobramento do que este que aí está.

Caminhamos, pois, para 2018 mantendo o voto proporcional — com sua ineficiência conhecida — e com os candidatos aptos a receber a “doação” de pessoas que se movem nas sombras.

Está tudo de acordo com o, como é mesmo?, espírito da Lava Jato.

Desde que o Supremo proibiu a doação de empresas e desde que ficou claro que o Congresso não a resgataria por intermédio de uma PEC, restava evidente que a transição deveria ser feita com o voto em lista — não com o distritão — em 2018 e com o fundo público.

Era o preço a pagar para fazer a coisa certa em 2022.

O falso moralismo e o moralismo de meia-tigela resolveram sair gritando burrices por aí.

Então fica tudo como está.

Os pretendentes a cargo público já podem dar início à Interlocução com aqueles que realmente vão mandar no circo: os chefões do PCC, do Comando Vermelho, da Família do Norte, dos doleiros, das igrejas mafiosas…

Viva a Lava Jato que levou esse espírito às ruas!

Viva Rodrigo Janot, o cadáver que procria!

Viva Deltan Dallagnol na casa de Caetano Veloso!

Viva a boçalidade de rua!

Viva Marcola, que deve começar a ser chamado de “excelência”.


  

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