54% querem prisão de Lula; 40% não! Por que nada há a comemorar. E o arranca-rabo de classes 02/10/2017
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Pois é, pois é…
Cantarole com Renato Russo: “Que país é este?” Mas, em vez de se indignar, faça um esforço para entender o que está em curso.
Segundo o Datafolha, 54% dos que responderam a pesquisa Datafolha acham que Lula deveria ser preso. Mas é gigantesca a parcela que diz o contrário: 40%. E olhem que a pergunta traz um certo constrangimento: “Considerando o que foi revelado pela Operação Lava Jato, Lula deveria ser preso?” Esse “o que foi revelado” leva aquele que responde a pesquisa a processar rapidamente um cotidiano de denúncias que caminha para o quarto aniversário.
PUBLICIDADE
Sei que o que vou escrever a muitos desagrada, mas lá vai: é baixo o percentual dos que querem o petista preso. E é estratosférico o dos que não querem. Um pouco de ponderação e bom senso nos leva a essa conclusão. Exceção feita aos petistas, quem atesta a inocência de Lula? O noticiário contra ele é devastador — não estou fazendo juízo de valor sobre a qualidade do que se noticia.
Basta comparar esses dados com os que acham que a denúncia contra Michel Temer deve seguir para a Câmara. É claro que quem respondeu a pesquisa desconhece os detalhes das acusações contra um e contra outra. O que conta é o ânimo de punir. Ocorre que Lula já tem uma condenação e é réu em mais uma penca de processos. Não é o caso de Temer.
Reitero: esses números foram fabricados pelos descaminhos da Lava Jato. Como é mesmo que escrevi na Folha no dia 17 de fevereiro? “Se todos são iguais, Lula é melhor”.
Dado o resultado do levantamento eleitoral; dado o evidente crescimento do petista, comemorar esses 54% é coisa de quem não entendeu nada. Trata-se de um número muito baixo.
Pior: ele traz um traço preocupante: entre os que têm ensino superior, 69% querem Lula na cadeia; entre os com ensino fundamental, apenas 37%.
Entre os mais ricos, 76% expressam esse desejo; entre os mais pobres, apenas 42%. No Sudeste e Sul, são, respectivamente, 65% e 61%; no Nordeste, 34%.
Ao se fazer a intersecção “desejo de prisão-voto”, nota-se um Lula que cresce como opção dos mais pobres e adversários que ainda não encontraram o caminho que os leve a falar a essa parcela imensa do Brasil.
Além de todos os desastres que a Lava Jato está nos legando no território do Estado de Direito, há o risco, nada desprezível, de que ela açule também o arranca-rabo, que luta não é, de classes.
Não há nada a comemorar. É o caso, isto sim, de se preocupar.