Maré vermelha: na turma ou no pleno do STF, placar pode ser favorável a terrorista italiano 24/10/2017
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Pois é, pois é… Escrevi dois posts apontando o risco que corre o Tribunal Superior Eleitoral a partir de fevereiro do ano que vem, quando passa a ser presidido por Luiz Fux.
Em agosto, ele transfere o bastão para Rosa Weber, num tribunal que contará com as presenças de Roberto Barroso e Edson Fachin.
Risco por quê?
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Ora, por óbvio, não me agradam a heterodoxias do trio — ou do quarteto. Houve quem dissesse que estou pegando no pé dos doutores.
Eu não.
Aprontam tais e tantas no STF que posso esperar o pior no TSE.
Nesta terça, Luiz Fux, ministro do Supremo, quer dar um truque no Regimento Interno do Supremo e levar para a Primeira Turma a decisão sobre o habeas corpus preventivo que ele concedeu ao terrorista italiano Cesare Battisti, que o presidente Michel Temer pretende extraditar.
Segundo decisão tomada pelo STF em 2009, o refúgio ao valente era, sim, ilegal, mas a extradição seria um ato soberano do presidente.
E Lula decidiu, rasgando o tratado firmado coma Itália, que o homem deveria ficar no Brasil.
Barroso, membro da Primeira Turma, está impedido de votar porque foi advogado de Battisti.
Fux parece estar com a posição definida, e não vejo Rosa a contrariar aquela que seria a opinião de Barroso.
Marco Aurélio votou contra a extradição há sete anos.
Assim, sobra Alexandre de Moraes como eventual voto contrário a Battisti, mas ignoro o que fará o ministro.
Apenas presumo.
Tenho poucas razões para duvidar de que, segundo a Primeira Turma, o italiano permaneceria por aqui.
Ocorre que a decisão tem de ser do pleno, segundo dispõe o Artigo 6º do Regimento Interno do Supremo, que diz com todas as letras:
“Também compete ao Plenário:
I – processar e julgar originariamente:
a) o habeas corpus, quando for coator ou paciente o Presidente da República, a Câmara, o Senado, o próprio Tribunal ou qualquer de seus Ministros etc.”
Fux pretende que seja a Primeira Turma a decidir se ela mesma dá a palavra final ou se remete o caso ao conjunto dos ministros.
Não existe tal dispositivo no Artigo 6º.
Logo, o pleno do tribunal tem de votar.
Mas atenção!
Mesmo assim, o cenário é favorável a Battisti.
Explico por quê.
Em novembro de 2009, o Supremo tomou a decisão em duas etapas:
– a primeira: por cinco a quatro, autorizou a extradição e pediu que se exercesse o Tratado entre os dois países.
Assim votaram os ministros Cezar Peluso (relator), Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Ayres Britto e Ellen Gracie.
Só Mendes e Lewandowski seguem na Corte.
Colocaram-se contra a extradição Joaquim Barbosa, Eros Grau, Cármen Lúcia e Marco Aurélio.
Os dois últimos permanecem na Casa.
– a segunda etapa: mesmo com a extradição autorizada, a quem caberia a decisão?
Eis que Ayres Brito mudou de trincheira e aderiu ao quarteto contrário a extradição.
E Lula bateu o martelo no último dia de seu mantado.
Battisti ficou.
Quem vota desta feita?
O único suspeito óbvio é Barroso.
Mas Toffoli e Celso de Mello podem achar que remanescem as razões que os impediram de votar.
Se acontecer, apenas oito ministros participarão.
E será grande a chance de um 5 a 3 em favor de Battisti, a saber: Fux, Rosa Weber, Edson Fachin, Marco Aurélio e Carmen Lúcia.
No polo oposto, podem ficar Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.
Ainda que Celso e Toffoli votassem, ter-se-ia a possibilidade de um cinco a cinco.
E Battisti ficaria no Brasil.
Parecer da AGU defende o óbvio: que a extradição é legal e que a decisão cabe ao pleno do Supremo.
Nota: não estou a fazer uma previsão, mas apenas analisando tendência.
Vai que baixe o bom senso em Fachin e Rosa…
Mas não tenho muitas razões para acreditar nisso, não é?
Levam aquele jeitão de que vão fechar com o valente Fux, aquele que queria manter afastado e em prisão domiciliar um senador que nem ainda é réu, mas que concede habeas corpus preventivo a um anjo dos direitos humanos como Battisti.
Ah, sim: se o STF mantém a posição de que extraditar é um ato soberano do presidente, e isso não está em debate, Temer poderia, em tese, extraditar Battisti independentemente do que dissesse o tribunal, mas é evidente que não o fará se a maioria dos ministros votar em favor do terrorista.
PS: O ministro Marco Aurélio é presidente da Primeira Turma.
Deveria, de saída, tomar a decisão de levar a questão para o pleno e ponto final.
E a decisão seria tomada amanhã, quarta.
O ministro andou se insurgindo, corretamente, contra a heterodoxias de alguns de seus pares.