O exemplo da Argentina 25/10/2017
- O ESTADO DE S.PAULO
O resultado das eleições legislativas da Argentina, realizadas no domingo passado, é a prova de que um discurso firme e coerente em favor da responsabilidade fiscal e das reformas é viável como bandeira política e eleitoral.
Trata-se de um bom exemplo para o Brasil, que até agora não tem, entre os pré-candidatos a presidente, nenhum com coragem de assumir integralmente essa agenda, tão necessária para a reconstrução do País depois da devastação lulopetista.
Ao contrário: o atual líder das pesquisas de intenção de voto, Lula da Silva, prometeu reverter todas as principais reformas levadas a cabo pelo presidente Michel Temer.
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O grande vencedor na Argentina foi o grupo político do presidente Mauricio Macri, cuja administração, cumprindo o que fora anunciado em sua campanha, está levando adiante um programa de mudanças para ajustar a economia, que, assim como aconteceu no Brasil, foi arruinada pela demagogia do casal peronista Néstor e Cristina Kirchner.
É verdade que Macri vinha implementando seu programa a conta-gotas, já que julgava não contar com suficiente apoio político para acelerar o processo.
No horizonte do governo estava a memória de uma série de presidentes que se afastaram do peronismo, nenhum dos quais conseguiu terminar o mandato.
Mesmo assim, Macri entendeu que era urgente reduzir os imensos subsídios concedidos pelo governo de Cristina nas tarifas de energia elétrica, água e transportes, pois essas bondades clientelistas estavam ajudando a quebrar o Estado.
O resultado imediato foi uma deterioração dos salários, uma forte alta dos preços e um aumento do desemprego.
Aos poucos, porém, os efeitos das medidas de Macri – que incluíram a abertura do país a investidores estrangeiros, o fim do controle cambial, depois de quatro anos de tentativas desesperadas de conter a fuga de divisas, e a renegociação com credores externos para restabelecer a confiança internacional no país – começaram a se fazer sentir.
A inflação, ainda na casa dos 20%, recuou e a economia aponta uma expansão de 3%.
A tese da necessidade das reformas, ainda que tímidas, ganhou mais força eleitoral.
No domingo, o eleitor argentino tornou a chancelar a intenção de deixar para trás os anos de aventura kirchnerista.
A coligação do presidente Macri venceu em 13 das 24 províncias e de quebra seu candidato ao Senado pela Província de Buenos Aires foi o mais votado, deixando em um amargo segundo lugar a também eleita Cristina Kirchner.
Assim, a base de Macri passou de 86 para 107 cadeiras na Câmara, enquanto no Senado o presidente terá o apoio de mais 9 senadores, num total de 24.
Nenhum desses blocos lhe garante maioria, mas está claro que Macri dispõe de sustentação popular para continuar as reformas, ainda que seja necessário manter o gradualismo.
“A Argentina não pode ter medo das reformas”, discursou Macri quando os resultados foram anunciados.
Para o presidente, cuja candidatura à reeleição em 2019 ganha força desde já, especialmente diante da fragmentação do peronismo, “esse é um caminho longo que nos levará a uma sociedade mais justa, a um país que se baseará na cultura do trabalho e de mérito de cada argentino”.
Já no Brasil, não há postulantes à Presidência da República com discurso semelhante, embora seja claro, a esta altura, que sem reformas profundas o País, a despeito de seu enorme potencial, estará condenado à segunda divisão do desenvolvimento global.
Quase todos os possíveis candidatos omitiram-se em relação aos esforços do governo de Michel Temer para aprovar o ajuste fiscal e as reformas, quando não os sabotaram.
É o caso, por exemplo, do ex-presidente Lula, que avisou, em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, que pretende convocar “um referendo revogatório de muitas das medidas aprovadas por Temer” e chamou de “criminoso” o teto estabelecido para os gastos públicos.
A atual experiência argentina mostra que é possível vencer uma eleição defendendo o oposto do que pregam Lula e outros demagogos.
Basta dar uma chance ao eleitor cansado de tanta irresponsabilidade.