Luciano ajuda longe da urna; não pode ser nome palatável do medo de pobre 27/10/2017
- REINALDO AZEVEDO - FOLHA DE S.PAULO
Se me pedirem para dar conselhos financeiros a Luciano Huck, nada tenho a lhe dizer. Nunca ensino gente mais rica do que eu a ficar... rico!
Mas posso lhe expor duas ou três coisas que sei sobre Godard e sobre política. Num caso, sempre teremos Paris. No outro, não.
Luciano candidato à Presidência é o caminho mais curto para um plebiscito de resultado certo e para a volta da esquerda ao poder.
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"Endoidou, Reinaldo?"
Não!
Perguntaram isso a Cassandra antes de meterem Troia adentro um presente de grego.
Eu apenas ajudo Luciano a ajudar o Brasil.
Se ele disputar a Presidência, os eleitores vão ser convidados a dizer "sim" ou "não" à TV Globo. E vencerá o "não", como já vence hoje.
Ainda que o capeta esteja do outro lado. "Ajuda Luciano".
Há três dados de realidade a levar em conta para 2018:
1) a esquerda é mais coesa e leal (entre os seus, claro!) do que os adversários;
2) os liberais de verdade se contam na mão de menos dedos de Lula;
3) o discurso antipetista mais visível aderiu, com impressionante ligeireza, a um reacionarismo abjeto.
Prefere caçar tarados a se dedicar à reforma da Previdência ou à privatização da Petrobras.
Lixo.
Lula não será candidato. O TRF-4 vai condená-lo. Já escrevi que será sem provas.
Os pares de toga de Sergio Moro não deixariam na mão o seu "jedi".
Pouco importa.
Candidato ou não, preso ou não (e, nesse caso, seria pior), a ressurreição do petista, como antevi nesta coluna no dia 17 de fevereiro, já aconteceu.
Não sendo ele próprio o nome do PT, o Datafolha aponta que o líder petista transfere tal número de votos que o seu ungido, dada a fragmentação do terreno antipetista, disputaria o segundo turno.
Assim, o que temos de certo?
Lula hoje seria eleito se disputasse.
O que temos de provável?
O nome que indicasse iria para a etapa final.
Mas contra quem?
Bem, aí não há nem certo nem provável.
Só o imenso mar da incerteza.
Isso, por si, atesta a qualidade do trabalho de Rodrigo Janot, de seus valentes e da direita xucra.
Outro ente metafísico foi ressuscitado, além de Lula.
Atende pelo nome de "Ozmercádus".
Esse tal se entusiasmava com João Doria.
A candidatura virou farinata.
Os que apostarem no PSDB devem entrar na fila do beija-mão de Geraldo Alckmin.
Não vejo razão para Jair Bolsonaro desistir de suas imposturas.
À diferença de Ciro Gomes, um postulante possível, penso que a clorofila de Marina Silva comporá com a testosterona retórica da "macharia".
Coloquem, então, Luciano nessa glossolalia de 2018.
A fragmentação no terreno do antipetismo seria de tal ordem que um engenheiro celestial — ou infernal — de esquerda não conseguiria pensar em nada melhor para seus propósitos.
E é nesse ponto que chego ao "é da coisa".
Luciano, o Tiririca dos descolados, teria grande chance de disputar o segundo turno com o candidato de Lula.
Seria o nome mais derrotável.
Isso vai contra o senso comum?
Paguem para ver.
Não teríamos, reitero, uma eleição, mas um plebiscito.
Luciano, que me parece ser uma boa pessoa e um empresário capaz, seria massacrado pela pergunta:
"Você aceita ser governado pela Globo?"
O "não" venceria com folga, ainda que a questão não fosse exatamente verdadeira.
Notem que Luciano já é refém, ainda que involuntário, de "Ozmercádus", como Doria foi um dia.
É esse ente quem diz:
"Precisamos de alguém para enfrentar Lula ou o ungido de Lula".
Ou, como afirmou um desses gênios com os dois pés no chão e as duas mãos também, só ele poderia fazer o povão aderir à reforma da Previdência.
O raciocínio embute a tese mentirosa de que a dita-cuja seria ruim para os pobres, mas que o apresentador poderia trapaceá-los, fazendo parecer coisa boa.
É a má consciência que aquece esse caldeirão.
"Ozmercádus" quer fazer de Luciano o nome palatável do medo que tem dos pobres.