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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O drama da violência
04/11/2017 - O ESTADO DE S.PAULO

Divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), uma organização sem fins lucrativos especializada na análise de dados solicitados ao Ministério da Justiça, às Secretarias de Segurança e às Polícias Civil e Militar dos Estados com base na Lei de Acesso à Informação, o mais novo mapa da violência do País mostra que o quadro da criminalidade está cada vez mais sombrio e que as taxas de morte violenta vêm batendo recordes.

Criado pelo FBSP para padronizar dados, o conceito de morte violenta engloba não só homicídios, mas, igualmente, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais.

Em 2016, foram registradas 61.619 mortes violentas – um aumento de 4,7% em relação a 2015. Segundo o levantamento, a taxa nacional média de mortes violentas passou de 27,8 por grupo de 100 mil habitantes, em 2013, para 29,9, em 2015.


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Os Estados que registraram as maiores taxas são Sergipe (64), Rio Grande do Norte (56,9) e Alagoas (55,9), situados no Nordeste, revelando que a violência já não é mais exclusiva dos Estados mais desenvolvidos e populosos da Região Sul.

O levantamento também mostra que as principais vítimas de mortes violentas são negros e jovens.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quando a taxa de homicídios é superior a 10 vítimas fatais por grupo de 100 mil habitantes, a violência é epidêmica.

Entre 2014 e 2015, o número de homicídios passou de 56.337 para 58.383.

Classificando o cenário da segurança pública como “trágico” e “obsceno” e apontando aumentos significativos não só de homicídios, mas em quase todos os indicadores nacionais de criminalidade, como latrocínios, estupros e crimes contra o patrimônio, o estudo do FBSP foi além dos levantamentos da OMS.

“Os números só são comparáveis a grandes tragédias”, afirma o presidente da entidade, Renato Lima.

A ampla gama de fatores responsáveis por essa situação trágica é conhecida.

O estudo do FBSP destaca a recessão econômica, que restringiu o orçamento dos Estados e os investimentos da União.

O total gasto em segurança pública por governos estaduais e federal foi de R$ 81 bilhões – cerca de 3% a menos do que em 2015.

Também afirma que o Plano Nacional de Segurança Pública – lançado em janeiro deste ano, como resposta aos massacres em prisões – vem sendo implantado de modo lento e que só teve a adesão de 12 Estados.

Mais preocupados em garantir dividendos de curto prazo do que em investir em políticas de médio e longo prazos, os dirigentes dos demais Estados limitaram-se a recorrer à Força Nacional de Segurança Pública, coordenada pelo governo federal.

Além de só produzir resultado paliativo, a Força Nacional custa caro – em 2016, ela consumiu R$ 319,7 milhões, ante R$ 184 milhões em 2015.

O estudo critica ainda a má qualidade dos sistemas de informações, alegando que as áreas da segurança e Justiça vivem um “apagão estatístico”.

Ao lado desses fatores, que propiciam o aumento da violência, há problemas não menos graves, mas que não têm sido suficientemente discutidos, como a desagregação da família e a má qualidade do sistema educacional.

Famílias estruturadas com base em valores morais são fundamentais para que as novas gerações aprendam com seus pais as noções de disciplina e sociabilidade.

Escolas capazes de formar essas gerações, ensinando ética, respeito ao próximo, solidariedade e cidadania, são decisivas para que a sociedade brasileira se torne mais civilizada e justa.

Família e escola são os ambientes propícios para ajudar a enfrentar uma crise de segurança que decorre não só de fatores econômicos, mas também da perda de padrões éticos – face ao consumismo e ao hedonismo que empobreceram espiritualmente as novas gerações.

Se é preciso melhorar a qualidade de vida das pessoas, para deixá-las menos expostas à “gramática” do crime, como disseram respeitados especialistas que analisaram o estudo do FBSP, também é necessário lembrar onde esse triste cenário de criminalidade pode começar a ser revertido – em casa e na escola.


  

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