Vazamentos, ambiente eleitoral e toxidade em 2018. A vez de Meirelles no Paradise Papers 06/11/2017
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
A toxicidade do ambiente eleitoral brasileiro não será garantida apenas por substâncias exaladas em solo pátrio.
Também há as que vêm de fora, especialmente em tempos em que se incentiva o vazamento de documentos públicos e privados, o que lança uma sombra de suspeição sobre todos os nomes citados — e as pessoas, depois, que tratem de provar sua inocência.
Temos, por exemplo, os vazamentos caboclos do lava-jatismo.
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Bem, meus caros, em ambientes de alta toxidade, costumam subsistir não exatamente os mais virtuosos, mas os que se mostram mais adaptáveis à baixa oxigenação.
Acho que as pesquisas eleitorais no Brasil praticamente desenham o que quero dizer.
A questão da hora é o tal “Paradise Papers”, que traz uma lista imensa informações do escritório de advocacia Appleby, especializado em empresas offshores.
Uma fonte anônima enviou cerca de 1,4 terabytes de informações ao jornal "Süddeutsche Zeitung", de Munique, compartilhadas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês).
Sim, lá está uma penca de assessores de Donald Trump e figurões de governos dos mais variados países.
E, ora vejam!, aparecem na lista dois ministros brasileiros: Henrique Meirelles (Fazenda) e Blairo Maggi (Agricultura).
O primeiro já deixou claro que mira, sim, a Presidência da República.
Vamos ver.
Brasileiros podem manter offshores e contas a elas vinculadas no exterior?
Podem.
A única exigência é que estejam devidamente declaradas a autoridades competentes no Brasil.
E assim costuma ser nas democracias de todo o mundo.
A Lava Jato demonstrou que essas empresas podem ser usadas para atividades ilegais e para o pagamento de propina?
A resposta é “sim”.
Mas as múltiplas operações da Polícia Federal e do MPF evidenciam que isso pode ser feito com estatais, por exemplo.
Ou com empresas privadas.
Ou com igrejas.
Ou com ONGs.
Ou com doações oficiais de campanha.
Meirelles já tornou públicos documentos provando que sua empresa está devidamente declarada.
Isso não impede que a questão fique martelando por aí, e é certo que servirá à exploração eleitoral caso venha mesmo a ser candidato e ainda que fique evidenciado que não cometeu irregularidade nenhuma.
A empresa do ministro da Fazenda se chama “The Sabedoria Trust”.
Foi criada, diz o documento “a pedido de Henrique de Campos Meirelles, especificamente para propósitos de caridade”.
Deixa claro que os administradores do trust “renunciarão a seus direitos” e apontarão novos beneficiários, conforme lista expressa em testamento de 2002.
Pois é…
Memória rápida: naquele ano, ele se elegeu deputado federal pelo PSDB.
Tinha feito carreira no Bank of Boston, que chegou a presidir.
Não tinha exercido cargo público nenhum antes.
Em janeiro de 2003, uma semana depois de ter criado a tal offshore, assumiu a presidência do Banco Central, no governo Lula, lá ficando até o fim de 2010.
Outra empresa aparece em seu nome: “Boston – Administração e Empreendimentos Ltda”, criada em 1990 e encerrada em 2004.
Maggi
O ministro Blairo Maggi, segundo documentos da Appleby, é diretor da Ammagi & LD Commodities S/A, mesmo nome de uma empresa registrada no Brasil, de que sua família é sócia, junto com o grupo francês Louis Dreifus Company.
A empresa brasileira aparece como controladora da offshore.
O ministro também diz que está tudo declarado no país e nega qualquer irregularidade.
Bem, meus caros, qual é o problema principal desse tipo de procedimento?
Olhem para o que nos reserva, por enquanto, a disputa de 2018.
No dia em que todos forem culpados, até os inocentes, então todos serão inocentes, muito especialmente os culpados.