Mais que o diploma 09/11/2017
- O ESTADO DE S.PAULO
Diferentemente do que ocorreu em outros países, o aumento do número de anos de estudos não representou um aumento de produtividade no País, segundo análise feita por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Mais do que uma idiossincrasia referente à produtividade brasileira, a constatação aponta para as sérias deficiências do ensino oferecido no País.
Aumentou-se a quantidade dos anos que o aluno passa em sala de aula, mas isso não proporcionou uma melhora de fato da educação.
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Não raro, o que se vê é justamente o oposto: uma despreocupação com a qualidade do ensino, seja ele fundamental, médio ou superior, como se a exigência acadêmica fosse uma espécie de condenável elitismo.
Essa deformação da educação foi um dos muitos efeitos dos anos do PT no governo federal.
Como não havia um compromisso com a qualidade da educação – a prioridade eram os objetivos eleitorais –, os governos petistas simplesmente ampliaram a oferta de vagas, especialmente no ensino superior.
Depois, a propaganda eleitoral tentava vender a ideia de que esse mero crescimento quantitativo do ensino formal tornaria o País mais produtivo.
Como se pode constatar agora, era falso o discurso petista de que a multiplicação de cursos universitários transformaria a cara do País, com a promessa de uma inexorável melhora da qualidade de vida.
Recentemente, o Estadão mostrou a história da capixaba Monique Morozin, de 23 anos.
Depois de cursar Engenharia de Petróleo e Gás, com a ajuda de uma bolsa integral, após a formatura ela voltou a vender farinha de mandioca com os pais em uma feira de produtores locais em Guarapari (ES).
“Quando comecei o curso, a gente imaginava que era uma chance de mudar a realidade da família. Sempre ajudei os meus pais na produção e na venda dos produtos na feira, mas quando ganhei a bolsa integral para estudar Engenharia, achava que isso mudaria nosso padrão de vida”, disse Monique Morozin.
Desiludiu-se.
Logicamente, há uma vinculação entre educação e produtividade.
É o caso, sempre lembrado, da Coreia do Sul, que obteve, por meio de uma significativa e estável melhora da educação, um salto em sua produtividade e, consequentemente, um notável avanço em seu desenvolvimento econômico e social.
O ponto é que os bons resultados sul-coreanos não foram decorrência apenas de mais anos em sala de aula.
A educação formal foi capaz de capacitar tecnicamente os alunos para que pudessem realizar, de forma competente, uma atividade profissional.
Já no Brasil, a questão da educação foi vista, por um longo período de tempo, sob outra perspectiva. Não havia preocupação com a capacitação profissional.
Parecia que o objetivo era simplesmente aumentar os valores gastos com a educação, dando por certo que os bons resultados, em termos de desenvolvimento econômico e social, seriam uma consequência automática de um orçamento maior para a educação.
É evidente o erro dessa tese.
Os investimentos públicos em educação cresceram sucessivamente nas últimas décadas, reconhecem os pesquisadores da FGV.
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), os gastos passaram de 3,8%, em 1994, para 6,0%, em 2014.
Além disso, esse aumento de gastos produziu um aumento da escolaridade no período, com um maior número de pessoas ingressando no ensino superior.
No entanto, esses maiores gastos e essa maior escolaridade formal não foram suficientes para elevar a produtividade do País.
“O aumento do nível educacional praticamente não se reverteu em ganhos de produtividade”, diz Bruno Ottoni, um dos autores do estudo.
Essa constatação deve servir de alerta.
Não basta um sistema educativo que municie os alunos de diplomas e tampouco basta aumentar o dinheiro destinado à educação.
É preciso cuidar da qualidade do ensino em todas as suas etapas, resgatando padrões mínimos de exigência e adequando os currículos às necessidades contemporâneas.