É hora de saber quem é quem 12/11/2017
- O ESTADO DE S.PAULO
Passada a crise criada artificialmente pelas ineptas denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Michel Temer, o presidente tem pela frente a tarefa de reorganizar sua base no Congresso.
É hora de saber quem está com o governo na ingrata missão de aprovar as urgentes reformas ainda pendentes e quem pretende apenas jogar para a torcida e contra o País.
Conforme o noticiário dos últimos dias, Temer aparentemente pretende realizar as substituições em sua equipe antes de abril, limite legal para a desincompatibilização de ministros que almejam concorrer a algum cargo nas eleições do ano que vem.
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Pode ser que as mudanças ocorram ainda neste ano. Seria uma medida importante para sinalizar a disposição do governo de encaminhar as reformas, em especial a da Previdência, independentemente do calendário eleitoral e dos interesses políticos dos ainda ministros e de seus partidos.
Também será uma oportunidade para Temer substituir ministros que, embora talvez não pretendam deixar o cargo para disputar eleições, já cumpriram seu compromisso com o presidente nessa difícil trajetória desde o impeachment de Dilma Rousseff.
Se em algum momento a presença desses auxiliares da confiança de Temer foi importante para a consolidação do governo, malgrado o fato de que são personagens de escândalos de corrupção, hoje essa presença não se justifica.
Se o presidente pretende concentrar seus esforços e sua atenção naquilo que realmente interessa, isto é, a aprovação das reformas, deve finalmente se desfazer dos focos de constante rebuliço em seu governo.
Além disso, uma mudança ministerial agora tem de ser um movimento para deixar claro que não cabem ambiguidades dentro do governo.
Se um partido tem cargos no primeiro escalão, deve ser governista.
Pode parecer uma platitude, mas infelizmente o que mais se tem visto ultimamente são partidos que, embora muito bem posicionados na administração, não conseguem garantir os votos de seus parlamentares para aprovar a pauta de interesse do governo, mesmo em relação às reformas que esses partidos, oficialmente, dizem apoiar.
É o caso, por exemplo, da reforma da Previdência.
Quando Temer disse que a viabilidade de seu governo não dependia da aprovação dessa reforma, sugerindo a possibilidade de “derrota eventual” ou de “não votação” da proposta, muitos leram ali, equivocadamente, que o presidente havia “jogado a toalha” em relação à Previdência.
Na verdade, o que Temer fez foi lembrar que não depende apenas da vontade do presidente a aprovação das reformas, sendo necessário igualmente o esforço dos que acreditam que somente com as mudanças constitucionais o gasto público se tornará mais racional do que é hoje.
“A reforma da Previdência não é minha, não é pessoal, mas é do governo compartilhado”, afirmou Temer, enfatizando que todos os que estão representados em seu Ministério devem se comprometer com essa demanda.
Mas ele acrescentou: “(Se) o Parlamento, que ecoa as vozes da sociedade, também não quiser aprovar (a reforma), paciência”.
A própria reação fortemente negativa dos mercados a esse discurso mostra que o presidente foi capaz de expor, em poucas palavras, o risco que o País corre se a reforma não for aprovada já.
Ato contínuo, as forças governistas no Congresso retomaram as discussões sobre a Previdência, uma vez que, agora ou depois da eleição, a reforma é mesmo inevitável.
Como disse Temer, uma eventual derrota agora não será sua, mas do País.
Assim, a reforma ministerial deve levar em conta a necessidade de unir forças para evitar que, mais uma vez, a agenda de interesse nacional dê lugar às conveniências eleitoreiras.
Haverá as chantagens de praxe, em que cargos serão exigidos em troca de votos, mas o importante é reorganizar a base de modo a fazer a pauta das reformas prevalecer, obrigando os líderes políticos que hoje se dizem governistas a assumi-la integralmente mesmo diante do risco de prejuízo eleitoral.