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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Os Sonâmbulos
13/11/2017 - BLOG DE REINALDO AZEVEDO

O PSDB está como a conclusão de um soneto de Camões: a firmeza somente na inconstância.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, saiu praticamente aclamado na convenção estadual de onem como o candidato tucano à Presidência.

Mas uma convenção regional pode fazer essa definição?


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Quando a outra postulação que tentou alçar voo é da mesma praça — no caso, o prefeito da capital, João Dória —, e se dando como certo que os dois não se enfrentariam numa prévia, então se tem como certo: Alckmin será o candidato.

Agora será preciso ver com quem. E aí as coisas começam a se complicar.

Reelegeu-se para o comando do partido em São Paulo o deputado estadual Pedro Tobias, virulentamente crítico do senador Aécio Neves (MG).

Não só.

Ele quer também que os tucanos entreguem os ministérios e deixem a base do governo Temer.

Não economizou nas tintas.

Segundo disse, Aécio tem “de pôr o pijama e voltar para casa” porque “não está ajudando em nada”.

Afirmou também que a entrada no PSDB no governo provocou um “estrago enorme” e que, se o partido não sair logo, “pode comprar o caixão” porque será o fim.

Os mais exaltados entre os presentes fizeram coro de “Fora, Aécio”.

Neste domingo, eu falava ao telefone com um amigo jornalista sobre as vicissitudes da política brasileira e lembramos do livro “Os Sonâmbulos”, de Christopher Clark, que explica, e isto vai no seu subtítulo, “Como Eclodiu a Primeira Guerra Mundial”.

Os que somos racionais temos certa dificuldade de aceitar — não de entender — os momentos em que a irracionalidade dá as cartas.

Em silêncio, ou lá de onde observamos a cena, indagamos:

“Mas vocês não estão vendo ser este um mau caminho?”

Não!

Eles não estão, cegados por suas convicções, por seu conforto, por seu erro de análise, pelo conjunto de todas essas circunstâncias, sei lá.

Desde sempre, os tucanos sabem que as dificuldades para fazer a campanha de Alckmin em São Paulo, Sul do Brasil e Centro-Oeste são relativamente pequenas.

As coisas já se complicam no Rio, podem ser dramáticas no Nordeste e não encontram, e um paulista nunca transita com desenvoltura por lá, os melhores auspícios em Minas.

Os petistas venceram todas as eleições presidenciais no Estado desde 2002.

No sábado, Aécio elegeu um aliado seu para o comando do PSDB mineiro.

O senador nem réu é ainda.

As evidências de armação contra ele e contra o presidente Michel Temer se adensam a cada dia.

No que diz respeito à Justiça, ambos são tão culpados ou tão inocentes como outros membros da cúpula tucana que aparecem em delações.

O próprio Alckmin é acusado de ter feito caixa dois.

Os adversários do PSDB podem muito bem desempenhar o papel protagonizado ontem pelos críticos de Aécio e por aqueles que pediam que deixasse o partido.

Pergunta meramente retórica: quando Alckmin for fazer campanha em Minas, vai dispensar o apoio da base local do partido?

Tobias vai chegar com um pijama em papel de presente para dar a Aécio?

Sim, a saída dos tucanos do governo, outro exemplo ímpar de sonambulismo, parece inevitável.

E até Aécio tratou como uma fatalidade na convecção estadual mineira, que se deu no sábado.

Mas, disse, haverá de ser pela porta da frente, sem ações sorrateiras.

E lembrou de uma coisa que é fato, pela qual eu o critiquei à época: ele resistiu à entrada do PSDB na base do governo.

Ora, era uma obrigação política e moral participar, à diferença do que diz Tobias.

E não estou dizendo isso agora.

No dia 21 de dezembro de 2015, escrevi aqui:

“Uma coisa o PSDB não pode fazer (…): colaborar para que se cumpra a lei, com a deposição de Dilma, e, depois, dizer ao futuro governante: ‘Vire-se’. O PT agiu desse modo em 1992: praticamente liderou a deposição nas ruas e depois anunciou: ‘Governabilidade não é problema meu’. (…) Ao se recusar a participar do governo em 1992, o PT fez a coisa errada para si mesmo e a coisa certa para o Brasil. Na hipótese do impeachment de Dilma, sugiro que o PSDB considere a hipótese de um duplo acerto [participar do governo]. E isso, claro!, segundo um programa.”

Por enquanto, os sonâmbulos do PSDB de São Paulo fizeram a seguinte escolha: estão criando dificuldades imensas para que Alckmin ajeite o seu palanque em Minas; estão, por ora, descartando a aliança com o PMDB e estão escolhendo fazer um discurso de oposição ao governo Temer — e aí restará saber a exatamente qual aspecto.

Um dos erros dos sonâmbulos pré-Primeira Guerra era olhar para o próprio poder e para seus brocados e imaginar:

“Isso dura para sempre, e nada vai nos atingir. Saberemos impor a nossa vontade”.

Deu no que deu.


  

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