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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Tucanos chutam aliados, petistas os buscam
15/11/2017 - BLOG DE REINALDO AZEVEDO

Vejam vocês como são as coisas. Quase ao mesmo tempo em que o tucano Bruno Araújo deixava o ministério das Cidades aqui no Brasil, lá longe, na Alemanha, a ex-presidente Dilma Rousseff repetia a, por assim dizer, generosidade de Luiz Inácio Lula da Silva e, ora vejam, também ela encontrava, como queria Cazuza, um abrigo no peito do seu traidor. Também ela perdoava os golpistas.

Lembro: no dia 30 de outubro, ao discursar em Belo Horizonte, Lula se abriu àqueles que apoiaram o impeachment e aproveitou, de quebra, para se declarar superior a Getúlio Vargas, João Goulart e Juscelino Kubitschek somados. Bem, nem eu esperava outra coisa.

Afirmou então:


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“Toda as vezes em que a direita nesse País resolveu usurpar o poder, a primeira coisa que fez foi destruir moralmente seus adversários. Foi assim com Getúlio (Vargas), depois com Juscelino Kubitschek, depois com Jango (João Goulart). Sou mais paciente que Getúlio e João Goulart e talvez mais que JK, que tentaram tirar três vezes e ele sempre perdoou. Estou perdoando os golpistas desse País”.

Que homem bom!

Em entrevista à TV alemã Deutsche Welle, em Berlim, Dilma repetiu o chefe, ainda que de forma menos inteligente e sem entender direito o que ele quis dizer.

Afirmou:

“Não acho que perdoar golpista é perdoar o PMDB e o PSDB. Acho que perdoar golpista é perdoar aquela pessoa que bateu panela achando que estava salvando o Brasil, e que depois se deu conta de que não estava. Uma hora nós vamos ter que nos reencontrar. Uma parte do Brasil se equivocou. Agora isso não significa perdão àqueles que planejaram e executaram o golpe. Você tem uma porção de pessoas que foram às ruas e que estavam completamente equivocadas. Mas você não vai chegar para elas e falar ‘nós vamos te perseguir’. Precisamos criar um clima de reencontro, entende? Não vai ser um clima vingativo, não pode ser isso.”

Ah, agora fico mais tranquilo…

A gente nota que Dilma ainda não aprendeu tudo com Lula — o que deve deixa-lo furioso e o que explica, também, que ela tenha caído. Observem que o perdão dele não tem restrições — até porque não se perdoa pela metade.

O dela, que é mais sanguínea e estupidamente menos inteligente, sim.

Ele pensa nas lideranças políticas que podem fazer as alianças de que precisa para seu partido vencer a disputa; ela ainda está distinguindo os culposos dos dolosos.

É por isso que ele se elegeu duas vezes e a elegeu outras duas. E é por isso que ela perdeu o mandato.

Registrada a diferença entre ambos, cumpre notar que os dois petistas repercutem o debate interno do seu partido.

Observem como os respectivos movimentos de PT e PSDB são rigorosamente opostos.

Os tucanos estão, sabe-se lá por que razão, rompendo com antigos aliados.

E o principal partido, por enquanto, que eles esnobam é o PMDB.

Já os petistas estão fazendo o contrário: buscam restaurar antigas alianças.

Como é bem menos inteligente, reitero, Dilma revela detalhes do jogo que Lula tenta tratar na esfera, vamos dizer, moral e religiosa. Ele não forneceu nomes — a não ser os dos adversários inelutáveis.

Ela, coitada!, mais simplória, deu com a língua nos dentes.

Afirmou:

“Dificilmente nós faremos aliança com o PMDB em nível nacional. Mas você vai falar que não pode fazer aliança com o [senador Roberto] Requião? O Requião é do PMDB, e uma pessoa que combateu o golpe. Você não vai fazer uma aliança com a Kátia Abreu? Ela foi outra que combateu o golpe.”

Ainda que tudo seja óbvio, como óbvia é a aliança com o senador Renan Calheiros, em Alagoas, essas coisas não se entregam assim, com essa ligeireza. Eu sempre me pergunto, sem conseguir chegar a uma resposta racional, como foi que Dilma chegou tão longe.

De toda sorte, meus caros, o que importa é que o PT já está em marcha.

Até pela fala de Dilma, embora ela ainda dê mostras de que, para não variar, não entendeu direito a coisa, percebe-se que o partido já superou a fase da resistência heroica, que inventaram para si mesmos, e já chegou a hora, bem mais cínica, de costurar as alianças.

Não custa lembrar que o PT desistiu do “Fora Temer” bem antes de setores do tucanato, de grupelhos de extrema direita e de alguns veículos de comunicação, reféns de seu erro de análise.

Bem, o PT descobriu que se vence uma eleição somando aliados, e não os jogando, sem motivos, ao mar.

Convenham: um placar que seria de 5 a 2 se a eleição fosse agora evidencia quem sabe ler melhor o jogo.


  

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