Diante da percepção mais ou menos generalizada de que as eleições de 2018 terão como principal vetor o desejo de mudança da população, todo mundo resolveu apostar em se vender como o novo.
Mas muito pouco foi oferecido até aqui de realmente inovador, ou que seja a um só tempo diferente e também consistente. O que se tem, na maior parte do caso, é uma recauchutagem em partidos, candidatos e ideias, feita na base da gambiarra, muitas vezes.
O caso mais bizarro é a onda que tenho chamado de retrofit partidário.
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Quem vai comprar nas urnas a conversa mole de que Podemos, Patriota e Avante são, além de palavras com um viés cafona-motivacional, partidos com alguma nitidez programática?
Tirando a mão de tinta linguística que tiveram, são os antigos PTN, PEN e PTdoB.
E aí, alguém se animaria a eleger um candidato apresentado por esses partidos-empresa, comandados desde sempre por dirigentes profissionais que se eternizam nos postos à base de fundo partidário e negociação para dar mais minutos de tempo de TV a outros partidos mediante alianças?
Os únicos casos mais “orgânicos” de criação de partidos recentemente são o Novo e a Rede, cada um em um campo ideológico.
E a autenticidade, na política brasileira, muitas vezes acaba se confundindo com ingenuidade: num ambiente em que grassa o pragmatismo (sendo aqui bastante benevolente), partidos como esses nascem quase sem recursos materiais, por estarem fora do bolo do fundo partidário e do tempo de TV.
Da mesma maneira, os candidatos no páreo até aqui pouco trazem de propostas realmente modernas ou inovadoras. O que se tem até aqui é uma tentativa apenas de encaixar um discurso conveniente ao figurino esperado pelo eleitorado, num páreo congestionado de postulantes sem que se saiba se todos conseguirão viabilizar as candidaturas.
O fato de que partidos como o PPS - outro que é tudo, menos novo - busquem nas gôndolas alguém como o apresentador de TV Luciano Huck para desempenhar esse papel é sintomático da falta de clareza generalizada sobre o que o eleitor busca depois do tsunami que varreu o cenário político nos últimos anos.
Uma quadra em que muitos dos principais políticos e empresários do País foram parar atrás das grades, uma presidente foi apeada do cargo, seu sucessor foi denunciado duas vezes por corrupção, o segundo colocado nas eleições teve o afastamento do mandato aprovado pelo Supremo Tribunal Federal, a economia mergulhou na pior recessão da história e o líder nas pesquisas de intenções de votos é um condenado em primeira instância não é algo trivial.
PSDB, PMDB e PT, os principais atingidos por esse tsunami, chegam às vésperas da sucessão perdidos e sem estratégia para enfrentar o novo cenário de cacofonia política pós-Lava Jato.
O PT abdicou de tentar alguma refundação e hipotecou seu destino ao de Lula, que hoje é alguém mais preocupado com a Justiça que com a política, e que usa a última para tentar se proteger da primeira.
Os tucanos deixaram Geraldo Alckmin na pior situação: o partido integrou o governo impopular de Michel Temer durante a tempestade das denúncias, começou a sair pela porta dos fundos e agora nem o discurso de que apoiará as reformas esteja onde estiver consegue sustentar.
O comportamento errático pode efetivamente afastar o PMDB da aliança e fragmentar o chamado centro.
Assim, em parte pela busca desse novo que ninguém sabe ao certo o que é e em parte pelo desnorteamento dos grandes partidos, vai se tornando real o cenário de que, pela primeira vez desde 1989, haja de fato uma eleição não polarizada.
Até aqui 2018 é um jogo de cabra-cega. A diferença é que todos - eleitores e candidatos - parecem estar vendados.