SEMENTES DE MOSTARDA (MT 13; 31-32) 08/12/2017
- SANDRA STARLING
Devo admitir que, em minha vida, tenho passado por experiências as mais variadas. Em minha adolescência, por exemplo, cheguei a ser catequista católica, em Diamantina.
Recordo-me disso agora, quando vejo que o calendário anuncia para os cristãos, a partir do primeiro dia de dezembro, o início do Advento.
Para mim, esse período, que literalmente significa “chegada”, representa um tempo em que vivo à cata de sinais de esperança em dias melhores.
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O que, aliás, está cada vez mais difícil. Mas não esmoreço.
Dia desses, assistindo ao canal Arte1, deparei-me com mais um capítulo da série “O Canto dos Exilados”, dirigida pelo jornalista Alberto Dines.
Trata-se de ilustrações da saga de alguns milhares de judeus que, na época da supremacia nazista na Europa, lograram chegar aos portos brasileiros e aqui refazer suas vidas.
Chegaram “sem lenço e sem documento, nada no bolso ou nas mãos”, mas sãos e salvos.
Nesses episódios, invariavelmente, aparecem os nomes do diplomata Souza Dantas e da oficial de chancelaria Aracy Moebius de Carvalho, companheira de João Guimarães Rosa.
Aquele, em Paris, e esta em Hamburgo, foram responsáveis por centenas de judeus, homossexuais e comunistas terem se livrado das garras do terror nacional-socialista.
Aliás, no mesmo canal, já foi exibido também o belo documentário “Esse Viver Ninguém Me Tira”, dirigido pelo ator Caco Ciocler, no qual é relatada a vida de Aracy. Muito emocionante.
Pois bem. Ao que eu saiba, Souza Dantas e Aracy são os únicos brasileiros até agora contemplados com o título de Justos entre as Nações, honraria outorgada pelo Estado de Israel a pessoas que se empenharam, com risco da própria vida, em salvar judeus do Holocausto.
Quem assistiu ao filme “A Lista de Schindler”, de Spielberg, certamente lembrará que Oskar Schindler também faz parte da legião dos agraciados com essa emérita titulação.
No final de outubro deste ano, pela primeira vez, um árabe, muçulmano, e ainda por cima chamado Maomé, teve seu nome inscrito no memorial Yad Vashem, em Jerusalém, onde são honrados os Justos entre as Nações.
Mohammed Helmy era um urologista, nascido em Cartum, no Sudão, que se encontrava no exercício de suas funções em um hospital em Berlim, em plena Alemanha nazista.
Na época, empenhou-se em proteger amigos judeus, mesmo sendo estrangeiro e vítima de discriminação racial (foi demitido, impedido de se casar com sua noiva alemã e, posteriormente, preso por protestar contra o regime).
É incrível que a imprensa mundial não tenha dado destaque a esse acontecimento.
Eu, porém, vi ali mais uma “semente de mostarda”, segundo o evangelista Mateus, a alimentar minha esperança num mundo melhor.
Não bastasse isso, neste início de Advento, vejo o papa Francisco reunir-se com monges budistas e citar o próprio Buda para que os birmaneses não prossigam em suas atrocidades contra os imigrantes muçulmanos oriundos de Bangladesh.
Que esses belos exemplos reforcem em cada um de nós tolerância e respeito para que a paz e a justiça prevaleçam.