O PT e o dinheiro de Kadafi 08/12/2017
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Epa! Então mais uma bomba ameaça destruir Lula e o PT? É mesmo, é? E quem teria acendido o estopim? Ele! Antonio Palocci.
Muamar Kadafi voltou do inferno para assombrar a companheirada, carregando uma maleta com US$ 1 milhão.
Será mesmo?
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Um espectro ronda o universo das delações premiadas: justamente Palocci.
Tudo, no seu caso, obedece a caminhos um tanto heterodoxos.
Saiu de sua boca aquela que era, até ontem, a mais bombástica acusação contra o ex-presidente: o petista teria feito um “pacto de sangue” com Emílio Odebrecht que envolvia o tal sítio de Atibaia, palestras a R$ 200 mil (fora impostos), o terreno para a construção do Instituto Lula e, bem…, uma reserva de R$ 300 milhões para enfrentar o interregno fora do poder.
O dinheiro seria de livre uso de Lula ou do partido.
Primeira estranheza: Palocci poderia ter contado essas coisinhas nada irrelevantes, se verdadeiras, no âmbito da delação.
Mas preferiu acender velas no altar de Sérgio Moro, ao qual devotava tal sujeição e submissão no depoimento que beirou a caricatura, o que não escapou ao olhar atento de advogados treinados na arte de construir a imagem do seu cliente.
Nunca é demais lembrar: delator é bandido.
Palocci ambicionava o lugar não do marginal pego com a boca na botija, mas o do arrependido por ter colaborado com o malfeito.
Em que aquilo tudo lhe poderia ser individualmente útil?
Não ficou claro.
Que o objetivo ali fosse incriminar Lula, bem, isso era evidente.
Palocci contou o que lhe foi indagado e também o que não foi.
E se ofereceu para revelar mais coisas.
Desde aquela data, aguarda-se com certa ansiedade a sua delação.
Empacou.
Uma das dificuldades, tudo indica, está no fato de que a Procuradoria-geral da República não quer ter um novo Joesley Batista nas costas.
Sim, as acusações do açougueiro eram também explosivas, mas a população não engoliu os benefícios que o empresário recebeu.
Ainda pior: descobriu-se depois que parte daquelas ações que procuraram atingir Michel Temer e Aécio Neves eram armações, com características de flagrante armado.
A Lava Jato não precisa de uma nova desmoralização, agora com Palocci.
Uma das dificuldades estaria no fato de que ele é bom para apontar crimes alheios, mas fraco quando se trata de revelar os seus próprios.
Prefere ser, assim, aquela testemunha ocular da história, entenderam?
Tudo indica que a operação já tem impunes demais.
Depois que Palocci fez aquelas graves acusações contra Lula, o petista saltou do patamar de 30% para o de 35% nas intenções de voto no primeiro turno; no segundo, ele alargou a dianteira no confronto com possíveis adversários.
E olhem que, naquele caso, o ex-ministro fazia acusações cujo conteúdo é compreensível para as massas: sítio, terreno, R$ 300 milhões, palestras a R$ 200 mil.
O próprio Lula chegou a imaginar estragos na sua imagem.
O eleitorado não deu a menor pelota.
No país em que tudo vai se mostrando possível, por que não isso?
E, agora, mais uma bomba ameaça implodir o PT: o carniceiro Muamar Kadafi, então ditador da Líbia, teria repassado ao PT US$ 1 milhão para a campanha eleitoral de… 2002!!!
Reportagem da Veja informa que Palocci teria feito essa acusação em seu pré-acordo de delação.
A acusação, obviamente, é gravíssima.
Se for comprovada, o PT pode perder o registro, segundo dispõe o Artigo 28 da Lei 9.096, a dos partidos políticos, a saber:
O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão, determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado:
I – ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de procedência estrangeira;
II – estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros.
Mas é precisamente nesse ponto que a porca torce o rabo.
Como provar que se fez uma doação irregular em 2002?
Não existe mais nem mesmo a elite que governava, então, a Líbia.
Recomendo aos senhores leitores antipetistas entusiasmo comedido com a notícia.
Parece-me estranho — e a qualquer pessoa minimamente experimentada nas artimanhas da política — que aquele que era o braço operante do PT do mercado financeiro tenha como “a grande bomba” contra o partido a doação ilegal feita em 2002 por um ditador que já está morto.
O atual governo da Líbia mantém segredo até sobre o local do sepultamento.
A menos que haja uma prova, coisa de que duvido, esse negócio vai gerar muito barulho nas redes sociais, excitar o ânimo da militância antipetista, inflamar ainda mais os já inflamados e morrer no nada.
Ah, sim: servirá para Lula dizer que não só tentam tirá-lo da eleição como querem agora fechar o partido.