Lula quer frear debate sobre eleições de 2008 e 2010 25/02/2007
- Kennedy Alencar - Folha Online
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse aos aliados e petistas com os quais se reuniu nos últimos dias que julga prematuras as articulações já em curso para as eleições de 2008 e 2010. Deseja frear essas discussões para organizar sua base de apoio no Congresso e a equipe de governo do segundo mandato.
O presidencialismo brasileiro tem forte ingrediente parlamentarista. Eleito com 60% dos votos, Lula não tem maioria no Congresso. Precisa negociar com os partidos para aprovar os projetos de seu interesse e evitar crises e CPIs no Legislativo. Acha que bastou o sufoco que passou no primeiro mandato.
Onze partidos apóiam o chamado governo de coalizão. É difícil encontrar espaço no primeiro e segundo escalões para tantas e díspares correntes políticas. Isso explica em parte a demora da reforma ministerial, discussão que já dura quatro meses.
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Se esticar ainda mais o assunto, Lula permitirá que apareçam mais dificuldades. Em reuniões reservadas, ele disse que colocaria Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo, no ministério. Afirmou que buscava uma pasta. Estava indeciso entre Educação e Cidades.
A decisão presidencial vazou. E rapidamente interesses se articularam contra Marta. O ministro Fernando Haddad, que faz um bom trabalho na Educação, agiu rápida e politicamente. Apresentou ao chefe os seus planos e ganhou a posição.
O PP, partido que apóia qualquer governo, cerra fileiras para tentar segurar as Cidades, pasta que Lula, agora, tentará dar a Marta. Como ainda vai conversar de novo com o PP, o partido já se arma. Se entregar o ministério, cobrará fatura mais alta do que se Lula já tivesse resolvido o assunto antes do Carnaval.
Se deixar Marta fora do ministério, Lula verá o PT se rebelar. O partido argumenta que os ministros petistas são mais lulistas do que partidários. Com exceção de Paulo Bernardo (Planejamento), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Tarso Genro (Relações Institucionais), os demais ministros do PT não têm base no partido.
O PT já se preocupa com as eleições municipais do ano que vem. Com Marta fora do governo, essa preocupação só tenderá a crescer. No ministério, ela teria de fazer o jogo de Lula. Ficaria sob controle, dizem ministros próximos ao presidente, que o aconselham a abrigar a ex-prefeita no primeiro escalão.
Outro nó importante a ser desatado é a relação com o chamado grupo neolulista do PMDB. Essa ala ajudou Arlindo Chinaglia (PT-SP) a derrotar Aldo Rebelo (PC do B-SP) na recente disputa pela presidência da Câmara.
Se o presidente adiar a reforma ministerial, num gesto que ajudaria o antigo grupo governista do PMDB, poderá arrumar encrenca pesada com os neolulistas. O PMDB terá uma convenção no dia 11 de março para escolher seu novo presidente.
Os neolulistas querem reeleger Temer. Os antigos governistas desejam emplacar Nelson Jobim na presidência. O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) é amigo de Lula. Obviamente, o presidente gostaria de tê-lo no comando do PMDB.
Se postergar a reforma, deixando os neolulistas sem ministérios até a convenção, dará claro sinal pró-Jobim. Poderá até ajudá-lo a vencer Temer. Mas seria uma vitória de pirro.
Temer e os neolulistas continuarão a ter peso na bancada da Câmara, e a dissidência peemedebista poderá ser ressuscitada. Se tivesse o apoio do grupo no primeiro mandato, Lula teria evitado, por exemplo, as CPIs que o atormentaram. Se Temer vencer apesar de Lula, será mais duro nas negociações com o governo.
Os interesses do PT, de Marta e dos neolulistas do PMDB estão entrelaçados nessa reforma. Se o presidente der uma banana para eles, poderá enfrentar dificuldade de governabilidade no Congresso _peemedebistas e petistas têm as maiores bancadas na Câmara.
PT e PMDB poderão ainda fazer planos paralelos aos de Lula para as eleições de 2008 e 2010. Em menos de dois anos haverá eleições municipais. Em 2010, acontecerá nova rodada presidencial. E também pleitos dos governos Estaduais, de dois terços do Senado, de toda a Câmara dos Deputados e de todos os legislativos estaduais, inclusive do Distrito Federal.
O PT e um setor do PMDB menos compromissados com Lula criariam naturalmente dificuldades políticas que não interessam a quem ainda tem um mandato inteiro pela frente. Podem, por exemplo, querer modificar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) mais do que o Executivo deseja.