Vamos aos fatos: Luciano só falou como candidato no Faustão porque os donos da Globo permitiram. O resto é papo-furado 11/01/2018
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Pretendia voltar ao blog só no dia 15. Sabem como é: as chamadas “férias”… Decidi me antecipar um pouco. Pois é… De vez em quando, cismo que sou eu a ter de dizer algumas coisas.
Começo com uma questão de princípio: nunca sou judicioso ou opiniático sobre intenções, apenas sobre fatos. A razão é simples: para os crentes, o fundo das consciências a Deus pertence; para os que não se fiam nessas coisas, resta constatar que o dito-cujo se extingue com o vivente.
Ou vai com ele, integrando o não-ser universal, “arcano impossível de ler”, como já disse o poeta. Só os fatos me interessam — ainda, ou sobretudo, os por virem.
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O Luciano Huck que apareceu no “Domingão do Faustão” é candidato à Presidência da República.
Sim, Luciano ainda é candidato — por mais insana que eu considero, e considero, a postulação.
Fausto Silva serviu de cabo eleitoral, e quem sabe como são feitas as salsichas na Globo, sejamos óbvios, sabe também que o programa não teria ido ao ar sem a anuência já nem se diga da cúpula — como se sabe, cúpula sempre pode ser demitida.
Não!
O programa foi ao ar com a anuência dos donos.
Tinha jeito de campanha eleitoral.
Tinha sotaque de campanha eleitoral.
Tinha conteúdo de campanha eleitoral.
Era, em suma, campanha eleitoral.
E a negativa oficial da emissora e a determinação de que ninguém permanece nos quadros da empresa com essa agenda e coisa e tal?…
Bem, esperavam o quê?
Só faltava que se admitisse ali um projeto, não é mesmo?
Já imaginaram: “A TV Globo admite que vê com simpatia a candidatura de Luciano Huck. Assim, a emissora reconhece o seu direito de usar o seu principal programa de entretenimento e seu apresentador mais estrelado, e caro, para dar suporte a tal postulação”.
Bem, sendo isso impossível, convenham, a negativa da emissora foi uma desnecessidade, beirando o ridículo.
Por que afirmo isso?
Ora, a Globo teria um jeito bem mais convincente — e, ouso dizer, honesto — de deixar claro que Luciano não é seu candidato: impedindo manifestações daquela natureza.
Afinal de contas, não se tratava de um programa jornalístico, não é mesmo?
Estamos falando da área de entretenimento, que vem assumindo na emissora, note-se, cada vez mais, um sotaque politicamente correto, engajado, “cidadão”.
Nesses casos, é preciso tomar cuidado para que o jornalismo, então, não se confunda com entretenimento…
Convenham: não é um imperativo do mundo da informação a gente saber que Angélica reprova esse negócio de os brasileiros ficarem se dividindo em partidos.
Coisa feia!
Da mesma sorte, o público do “Domingão do Faustão” não teria tido violado o seu direito à informação se não ficasse sabendo que Luciano acha que devemos construir pontes, não muros…
O Reino da Metáfora talvez estivesse melhor sem o clichê.
Para encerrar o capítulo das intenções: “o programa foi gravado faz tempo!”, dizem alguns.
É mesmo?
Então houve o devido tempo para, inclusive, não levar o quadro ao ar.
A Globo tomou uma decisão política.
Isso é apenas fato.
Não me interessam as intenções.
Plano B do tucanato insensato
Luciano, de resto, é um projeto com mais conexões do que se parece.
Só se surpreenderam, por exemplo, com o flerte de FHC com a candidatura do apresentador os desinformados.
Os leitores deste blog e os ouvintes do programa “O É da Coisa”, da Band News FM, sabem da coisa desde 27 de novembro, não é?
Nessa data, publiquei um post intitulado “Huck era o Plano B do alto tucanato; em linguagem épica, um ‘cavalo de Troia’: Soletrando 3”.
Luciano havia, então, anunciado que não seria candidato de jeito nenhum.
Escrevi o seguinte:
“Há quem não aposte, e não estou fazendo juízo de valor, mas apenas um registro, que a candidatura de Geraldo Alckmin possa empolgar o suficiente. Luciano, que não é um desses populistas vulgares que os meios de comunicação fabricam às vezes, era uma espécie de “hedge”, de proteção, de segurança, para a hipótese de isso acontecer. Vínculos familiares e outras afinidades eletivas o aproximam da elite empírea do tucanato, que não via a candidatura com maus olhos. Muito pelo contrário.”
E isso não mudou.
É claro que se trata de desespero político, de insanidade em altíssimo grau.
Tudo o que os setores mais radicalizados à esquerda e à direita querem é um candidato que tenha a marca da “Globo”.
Já expus meu ponto de vista e reitero: é o caminho mais curto para a esquerda voltar ao poder.
As rejeições à emissora que se articulam à direita e à esquerda se somariam, fiquem certos.
Nota à margem: o raciocínio de que o caminho se abre para Luciano se Lula não estiver na disputa é coisa de asnos.
Ao contrário: sem o chefão petista e com o apresentador no páreo, a “verdade” que se consolidaria seria outra:
“A Globo ajudou a tirar o petista para tentar eleger o seu presidente”.
Se Lula escolhesse um poste, elegeria um poste.
E ninguém venha me dizer que ele não seria capaz disso, não é mesmo, Dilma?
Já disse ao apresentador o que eu tinha de dizer na minha coluna na Folha de 27 de novembro, intitulada “Luciano ajuda longe da urna; não pode ser nome palatável do medo de pobre”.
Lá se lê:
“A fragmentação no terreno do antipetismo seria de tal ordem que um engenheiro celestial — ou infernal — de esquerda não conseguiria pensar em nada melhor para seus propósitos. E é nesse ponto que chego ao “é da coisa”.
Luciano, o Tiririca dos descolados, teria grande chance de disputar o segundo turno com o candidato de Lula.
Seria o nome mais derrotável.
Isso vai contra o senso comum?
Paguem para ver.
Não teríamos, reitero, uma eleição, mas um plebiscito.
Luciano, que me parece ser uma boa pessoa e um empresário capaz, seria massacrado pela pergunta:
“Você aceita ser governado pela Globo?”
O “não” venceria com folga, ainda que a questão não fosse exatamente verdadeira.”
Num dado momento da conversa de Fausto com Luciano, ouvimos algo mais ou menos assim: o Brasil precisa mudar, abandonar certas práticas que provocam a repulsa da maioria do povo brasileiro…