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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Lula e o PT sabem que o resultado do dia 24 será adverso; mas os adversários vão lhes dar palanque para 1º comício de 2018
20/01/2018 - BLOG DE REINALDO AZEVEDO

Sei que parece impressionante e cheira mais a literatura do que a política, mas se trata de uma verdade inelutável.

Os adversários do PT e o bacharelismo sem imaginação se encarregaram de transformar o julgamento do recurso de Lula, no dia 24, num ato de resistência do PT, pouco importa o resultado.

E, pois, em campanha eleitoral. Mesmo que Lula colha um três a zero, o circo está armado — e, curiosamente, armado mais pelos adversários do que pelo próprio PT.


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A senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente do partido, falou a asnice e acenou com cadáveres em caso de prisão de Lula.

Seu colega, Lindbergh Farias (RJ), a apoiou, dizendo que essa não é hora de uma “esquerda frouxa”.

Não entendi quando a frouxidão, em qualquer circunstância ou caso, tem o seu “momentum”.

Lindbergh, que brincou, no máximo, de guerra de esguicho d’água quando criança, falava por falar.

Lula e figurões do partido se encarregaram de botar a bola no chão.

A ordem é mobilizar pessoas, mas evitar a todo custo o discurso do ódio e o risco de confronto.

Nas palavras de um chefão petista a este blog, “temos de deixar claro que o ódio é coisa do outro lado; dos que querem destruir Lula”.

Pois é.

E existem bocós que estão caindo na armadilha.

O chefão petista não é bobo nem nada.

Na quinta, participou de um ato com “artistas” e personalidades do mundo, digamos, da cultura em São Paulo.

E falou abertamente da possibilidade mais provável: a recusa, pelo TRF-4, do recurso e, pois, a confirmação da condenação decidida por Sérgio Moro.

Afirmou que continuará “tranquilo”, que vai “viajar pelo país” e que está “disposto a enfrentá-los“.

No discurso, e nem poderia ser diferente, Lula reafirmou a sua inocência e deixou entrever uma suspeita de martírio.

Afirmou:

“Confesso a vocês que duvido que juízes que já me julgaram e que vão me julgar estejam neste momento com a tranquilidade com que eu estou. Estou com a tranquilidade dos justos, dos inocentes. Eu sei que não cometi crime."

O ex-presidente trata seus julgadores como os romanos que seviciaram Jesus Cristo.

Estariam todos eles já atormentados por suas respectivas consciências, sabendo que estão vitimando, então, um inocente.

Mas não ficou só na psicologia das vítimas e dos algozes.

Também antecipou alguns marcos da campanha eleitoral: apontou a criminalização do PT; voltou a falar no suposto golpe que destituiu o partido do poder; tratou a reforma trabalhista como parte dessa arquitetura diabólica dos inimigos e foi por aí…

E por que falei que os adversários e o bacharelismo sem imaginação organizaram esse simulacro de publicitária resistência?

Ora, os que desejam a confirmação da condenação não poderiam jamais ter endossado a suposição de que o tribunal decidirá segundo o clamor público.

Que o PT fosse para as ruas sozinho fazer protestos e eventualmente ameaças, sem que o outro lado legitimasse a pressão.

Mas legitimada está.

Como a confirmação da condenação é praticamente certa, a vitória do PT não sai do resultado do tribunal, mas da suposição de que o julgamento foi apenas um capítulo de uma luta política e eleitoral.

Tanto seria assim que lá está “o outro lado”.

Em suma: não se trataria de matéria de Justiça, mas de disputa pelo poder.

E contribuiu para a pantomima petista o desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, presidente do TRF-4 — aquele que já havia, de modo impróprio, elogiado a sentença de Sérgio Moro.

Ele fez o desfavor de ir a Brasília para anunciar um suposto clima de insegurança que, até agora ao menos, parece irreal.

Ao fazê-lo, assumiu o lugar do poder oficial que estivesse sendo cercado pelas ruas, simulando uma minoria sitiada por uma maioria.

Convenham: o que de melhor Lula poderia querer?

Só a absolvição!

O julgamento do dia 24 será o primeiro grande evento da campanha eleitoral do PT na disputa pela Presidência.

Organizado por seus adversários.


  

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