Record compra jornal ¨Correio do Povo¨, de Porto Alegre 13/03/2007
- Elder Ogliari - O Estado de S.Paulo e Agência Estado
O jornal Correio do Povo foi vendido pela Empresa Jornalística Caldas Júnior à Rede Record, controlada pela Igreja Universal, do bispo Edir Macedo. O negócio foi confirmado ontem pelo diretor-administrativo da empresa gaúcha, Carlos Alberto Bastos Ribeiro, aos editores e funcionários do jornal.
Com a nova aquisição, a Record fica com todos os veículos da Caldas Júnior. A rede já era proprietária das rádios Guaíba AM e FM e a TV Guaíba desde o mês passado.
O valor das operações não foi divulgado.
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Jornal mais tradicional do Rio Grande do Sul, o Correio do Povo completa 113 anos em 1º de outubro, depois de ter deixado de circular temporariamente em 1986 e de ter trocado de formato, do standard para o tablóide, em 1987. A circulação é de mais de 150 mil exemplares por dia.
A Rádio Guaíba AM está no ar desde 1957 com programação voltada quase integralmente para o jornalismo e os esportes. A Rádio Guaíba FM foi criada em 1980 e transmite música ambiente e clássicos internacionais.
A TV Guaíba foi fundada em 1979 e divide sua programação entre filmes antigos, transmissões esportivas e espaços locados a produtores independentes.
TRANSFERÊNCIA
Os veículos, que estavam em mãos da família Caldas desde a fundação do grupo, entraram em crise financeira nos anos 80 e foram vendidos ao empresário e economista Renato Bastos Ribeiro em 1986.
A data de transferência das operações para a Record não está definida e fica na dependência das formalidades legais. Os novos proprietários ainda não falaram publicamente sobre as aquisições e o perfil que darão a seus novos veículos.
¨Vidas Opostas¨ começa a incomodar a líder Globo
O amor de Romeu e Julieta já não está restrito aos cenários de conto de fadas ou às praias do Leblon. No imaginário de Marcílio Moraes, autor de Vidas Opostas, um romance tão intenso pode ter como palco um violento morro carioca. Entre os coadjuvantes da trama, policiais corruptos, traficantes e muitos tiros. Ao apostar no folhetim ¨inovador¨, a Record conquistou o público, chamou a atenção da mídia e, de quebra, incomodou a Globo.
¨Não sei se minha novela preocupa a Globo. Acredito que mais do que a audiência, o que pode perturbar é a repercussão¨, diz o autor, que já esteve no time de autores da emissora líder e, hoje, é responsável pela história de amor entre a mocinha pobre - a universitária e moradora de favela Joana (Maytê Piragibe) - e o rapaz rico, o professor Miguel (Leo Rosa).
Ainda surpreso com a comoção que o folhetim tem causado, Moraes não acredita que o segredo do sucesso se deva, apenas, às alardeadas cenas de tiroteios, rebeliões em presídios e brigas de gangues. ¨Quando falam na trama, sempre tocam na questão da violência, mas não é só isso. Ali estão presentes todos os elementos de uma novela, como o romance do casal principal¨, destaca.
Os números do Ibope, entretanto, mostram que os picos de audiência de Vidas Opostas ocorrem justamente nos capítulos em que a ´realidade´ tem mais destaque que a ficção. Foi assim no último 31 de janeiro, quando as cenas de um tiroteio com vários mortos colocaram a Record na liderança de audiência, com 26 pontos - isso em pleno horário nobre, às 22h.
O roteiro de Moraes expressa sua experiência em retratar temas indigestos, como a corrupção na polícia, propina e tráfico de drogas. ¨É um universo que eu já mostrei há dois anos, quando escrevi o romance Crime da Gávea. Eu acho que a violência urbana é um tema pouco retratado pela dramaturgia¨, opina. Segundo ele, ainda existe um certo pudor na TV ao retratar a pobreza. ¨As novelas têm a mania de mostrar o pobre folclórico, morador de subúrbio e que está sempre sorrindo¨, alfineta.
CLUBE DOS MACHOS
Não são apenas os índices de audiência que impressionam na trajetória de Vidas Opostas. Outro fato curioso é que muitos homens são fãs confessos do folhetim. ¨Acho isso muito interessante. Pode ser mesmo pela questão da violência, as seqüências de perseguição, esse universo de macho¨, diz o autor.
Diante da boa recepção de sua teledramaturgia junto ao público, a Record até decidiu concorrer ao Emmy, prêmio considerado o Oscar da TV. A emissora inscreveu o folhetim de Moraes e também seus principais atores, como Heitor Martinez (Jacson) e Maytê Piragibe (Joana). ¨Há um certo mito de que pobre não é bom para novela. Provamos que não passava de mito.¨