A VOLTA DO CHICOTE 10/02/2018
- JOSÉ MAURÍCIO DE BARCELLOS*
Alguns dias atrás li em um dos maiores jornais do País um artigo no qual o editorialista recriminava, com ameaçadora veemência, as pessoas que durante um voo comercial disseram a um Ministro da Suprema Corte poucas e boas por causa de sua conhecida posição política em defesa da liberdade dos mais abomináveis bandidos alvos da Operação Lava Jato.
Por arraigada convicção no sentido de que se devem discutir ideias e não combater pessoas deixo de nominar a turma do mal envolvida naquele episódio, até porque dela o futuro cuidará e o que for soará, como diriam os antigos.
Tudo acabou sendo gravado. O respectivo vídeo correu pelos territórios livres da rede mundial de computadores e dele duas imagens resultaram impactantes.
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Uma revela a justa ira dos homens de bem, massacrados por tudo que aquele servidor público vem fazendo em desfavor do grande esforço desta Nação para combater os crimes contra a coisa pública.
A outra exibe a atitude debochada e escarnecedora do tal Ministro diante do incidente, menosprezando, com um irônico sorriso nos lábios, os cidadãos indignados, como se eles fossem reles mortais ousando, petulantemente, atingir um semideus.
Ainda a propósito desse magistrado, cumpre lembrar que sua nomeação pode até ser contestada em face do princípio da moralidade administrativa porque oriunda da pena de um abominável político que já admitiu ter sido eleito com o dinheiro de corrupção, recebido em caixa dois.
Sua Excelência – uma figura hoje execrada por significativa parcela da sociedade - que acaba de libertar um bandido graúdo que roubava nos hospitais públicos, enquanto vive na sua ilha da fantasia chamada de Brasília já se esqueceu de que aqueles míseros mortais são justamente os que sustentam seu salário e seu odioso código de benesses e de vantagens, mas tal como outros Mandarins da República não se peja de proclamar que ao povo nada deve e muito menos respeito pelo que pensa e pelo tudo que padece.
Como ia dizendo, o tal artigo de opinião, publicado com singular destaque, chamou todos os brasileiros que vaiaram e disseram ao Ministro contundentes verdades, de abomináveis fascistas comparando-os aos nazi de Hitler porque teriam sidos injustos e desrespeitosos com a intocável autoridade e com o querido Ministro em especial que, no entender do jornalão, tem todo o direito de pensar, de defender e de exibir sem rebuço suas ideias libertárias e de usar as prerrogativas de sua função de servidor público para afrontar a esperança da gente do bem deste Brasil sem ser criticado.
Será?
Alto lá senhor deformador de opinião!
Generalizando sustento que fascista não vem a ser a atitude do povo que se revolta contra quem considera um indigno funcionário público.
De nítido cunho fascista são os procedimentos dos governantes e dos grandões que se valem do poder, como fazia o ditador alemão e seus ministros do holocausto, para punir e subjugar o homem do povo.
Não vou me permitir cair na armadilha da imprensa defensora do stablischement porque sócia usurpadora dos cofres públicos (lembrem-se das verbas para propaganda oficial) e discorrer sobre a questão do direito à liberdade de expressão, tanto dos cidadãos quanto da autoridade, bem como não me permitirei enveredar pelo caminho tortuoso e movediço do ataque à independência do Judiciário.
Todos aqueles direitos e prerrogativas são válidas, porém têm limites e os limites que se impõem a todos e a tudo são os inerentes ao interesse público e ao bem-estar comum, os quais, em linha de princípio, se sobrepõem ao entendimento sórdido e inconfessável de qualquer patife encastelado na máquina pública ou a de qualquer entidade que viva e se locuplete da riqueza nacional.
Relevem o Senhor Ministro e os donos do Jornalão, mas entre eles e o povo que vem pagando um alto preço para eles existirem e reinarem no fausto em que vivem, fico com aquele último porque é dele que ouço a voz de Deus, como recomenda o velho ditado.
Ponderem.
Quando em cenários semelhantes o povão desancou uma senadora acusada juntamente com o marido de roubar os empréstimos dos aposentados; quando da mesma forma nossa gente indignada quase agrediu um imbecil de um senador do PT, defensor do condenado Lula, principalmente quanto este se encontra drogado e vem dizer baboseiras da tribuna do Senado Federal ou de um palanque na praça pública; quando descontrolado quis linchar o médico estuprador Roger Abdelmassih o mesmo que foi solto pelo tal Ministro do STF que, se fosse em outro país já teria levado, em público, uns trancos do povão; ai então a mídia esperta não fez nenhuma campanha editorialista contra ou a favor, rezando para que os malfeitos caiam logo no esquecimento da sociedade.
Vejam como tudo soa esquisito e sorrateiramente falso.
Sabemos nós que a grande mídia, que ousa dizer que pugna pelo povo e pelo melhor regime de governo ou por um País mais livre e igualitário, na verdade apenas representa os interesses dos ricos donos dos conglomerados de informação, os quais ela defende com unhas e dentes.
Por estes a tal mídia é capaz dos atos mais abjetos até o ponto de, por exemplo, escamotear quando conveniente o real calvário de nossa gente e os nomes dos criminosos responsáveis por tanta indigência nesta Nação, tudo para que não ocorra muito balanço na ordem vigente e para que possam continuar desfrutando de um descomunal poder.
Nada me deixa mais revoltado do que quando vejo uns empregados ou lacaios das dinastias proprietárias da grande imprensa, com ar cínico de grandes patriotas, massacrando diariamente nos ouvidos da população desavisada, de norte a sul desta “Terra Brasilis”, seus psicóticos conceitos contrários à família brasileira e a nossa cultura judaico cristã, porque se assim não procederem arriscam não “dar ibope”, perdem seus empregos, vão para o olho da rua e são despidos de sua fantasia de famosos.
A verdade é uma só. Um dia aí na frente o jornalão vai se socorrer de um soberbo servidor público qualquer e este pressuroso o atenderá.
É disto que falo.
É disso que vive a imprensa que nos quer fazer de idiotas e não são por outros motivos que as “Excelências” desafiam a Nação Brasileira para que tudo continue como “dantes no quartel d’Abrantes”, inclusive quanto suas vidas privilegiadas.
Há muito que um velho provérbio inglês adverte para a volta do chicote sobre o lombo do chicoteador: “the back of the whip” (the backlash).
A propósito, quero lembrar novamente que surgiu para o cidadão de bem a alvissareira oportunidade para difundir a verdade e a dura realidade deste Brasil enfermo através da fantástica e incontrolável rede mundial de computadores que, a exemplo desta tribuna, considera tão somente o livre pensamento de nossa gente.
As redes da internet os graúdos não podem ainda manipular, desvirtuar ou punir.
Assim que uma nova e livre consciência nacional se formar, esse pessoal que hoje nos açoita experimentará, como se diz, a volta do chicote e igualmente sentirá aí toda a dor do nosso sofrimento e de nossa vergonha.