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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Demagogia no pé
15/02/2018 - BLOG DE REINALDO AZEVEDO

Até carnavalesco já aprendeu que é preciso “apelar ao social” e gritar contra a política e os políticos se quiser ter, como diz a blague, aquele “plus a mais” que vai fazer a diferença entre os jurados.

Também na avenida, a demagogia triunfa sobre a técnica, a estética e, pois, na rima sem solução, sobre a ética.

Curioso: assistimos a um “Carnaval politizado” na terra do “direito carnavalizado”.


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No país em que juízes não portam a bandeira da Constituição e em que ministros do Supremo manipulam os códigos legais como se fossem alegorias de mão, faz sentido assistir à premiação da discurseira pedestre, com samba no pé…

A escola que venceu o desfile do Rio, o principal do país, foi a Beija-Flor, com o samba-enredo “Monstro É Aquele Que Não Sabe Amar (Os Filhos Abandonados da Pátria Que Os Pariu)”.

O trocadilho dispensa tradução.

Lá estão estes versos:

“Ganância veste terno e gravata
Onde a esperança sucumbiu
Vejo a liberdade aprisionada
Teu livro eu não sei ler, brasil!
Mas o samba faz essa dor dentro do peito ir embora
Feito um arrastão de alegria e emoção o pranto rola
Meu canto é resistência
No ecoar de um tambor
Vêm ver brilhar
Mais um menino que você abandonou”.

No “terno e gravata”, vai a referência óbvia às ditas elites e aos políticos.

É mesmo?

Venham cá: nos morros, de onde provêm a maioria das escolas, e nas periferias, de onde vem a Beija-Flor, os, digamos assim, “locais” conseguiram fazer um sistema mais justo do que aqueles que se transformaram em alvos do samba-enredo?

O presidente de honra da Beija-Flor é o bicheiro Anísio Abraão David.

No dia 7 de junho do ano passado, ele comemorou seus 80 anos numa festa de gala no Museu de Arte Moderna do Rio.

Todos os engravatados estavam lá.

Anísio é um veterano de investigações da Polícia Federal — foi protagonista de ao menos três delas.

Seu irmão, Farid Abraão David, exerce o terceiro mandato à frente da Prefeitura de Nilópolis.

Ricardo Abraão, seu sobrinho, já foi deputado estadual.

Simão Sessim, seu primo, exerce o 10º mandato de deputado federal.

O filho de Simão, Sérgio, também já foi prefeito da cidade que abriga a escola.

Mas, obviamente, a culpa pelas misérias do país — e do Rio — é dos outros engravatados.

O júri se deixou comover por uma comissão de frente que simulava vítimas de balas perdidas.

Afinal, se nada mais há a fazer, que se carnavalize a tragédia e se ouça: “Deeeeezzzz”.

Abraão David agora é também da ala das vítimas.

POR UM DÉCIMO

Por um décimo, a Paraíso do Tuiuti não empatou em pontos com a Beija-Flor.

Seu samba-enredo: “Meu Deus, meu Deus, Está extinta a escravidão?”

A letra do dito-cujo, obviamente, conclui que não.

Lá está esta maravilha:

“Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti, o quilombo da favela,
É sentinela da libertação”

Uma das alas da escola protestava contra a reforma trabalhista, associada, ora vejam, ao trabalho escravo.

Não é coisa do morro, mas de algum subintelectual esquerdista e pé-de-chinelo por lá infiltrado.

Afinal, a dita reforma vai servir para garantir direitos a milhões de trabalhadores informais.

Portanto, terá um efeito contrário ao anunciado pela escola.

A demagogia e o populismo também levaram para a avenida boneco do presidente Michel Temer, caracterizado como vampiro.

Nas redes, as esquerdas babavam de satisfação.

E lá se ouvia o samba-enredo: “Pela luz do candeeiro, liberte o cativeiro social”.

Candeeiro?

Temer é o presidente que reestruturou o setor elétrico, que Dilma Rousseff havia quebrado, o que nos livrou de um apagão, aí não for falta de água da chuva.

A luz está garantida.

Seja a regular, sejam os tais “gatos”, muito comuns nos morros do Rio.

O autor do samba-enredo da Tuiuti não aprendeu nada.

Na década de 60, uma música de protesto chamada “Morro (Feio não é bonito)” cantava:

“Feio, não é bonito
O morro existe
Mas pede pra se acabar”.

A música é de Carlos Lyra, e a letra, de Gianfrancesco Guarnieri.

Segundo os sábios do Tuiuti, o feio não é apenas bonito: a favela, agora, é sentinela da libertação.

Todos amarrados, claro!, ao tronco da CLT, já que os valentes são contra a reforma trabalhista.

Mas os jurados acharam aquilo tudo uma lindeza, e os esquerdistas deram plantão do Twitter.

Convenham: nada é tão doce, tão fácil e tão politicamente correto como resolver as misérias do Brasil com um sambinha, não é mesmo?

Que tempos estes!

Juízes do Supremo se comportam como carnavalescos, e carnavalescos, como juízes do Supremo.

Inclusive do Supremo Saber.

Você quer se libertar, amigo?

Corra para o Morro do Tuiuti.


  

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