Os Trapalhões contra o crime 18/02/2018
- CARLOS BRICKMANN - CHUMBOGORDO.COM.BR
O Governo Federal, que não consegue conter o contrabando de armas e munições, que não consegue fechar a fronteira aos narcotraficantes, acha-se apto a combater o crime no Rio.
E começou o combate demonstrando que, ao intervir no Estado, não tem a menor ideia do que fez.
A intervenção, diz o ministro da Defesa, Raul Jungmann, não é militar.
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O interventor é o general Braga Netto, comandante militar do Leste; reuniram-se, para discutir os caminhos a tomar, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, o ministro da Defesa, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, e só.
Mais civil, impossível.
O governador do Rio, Pezão, que não fede nem cheira, mantém-se no cargo que não ocupa: a intervenção se limita à segurança pública.
Embora o governador não tenha sido atingido, o interventor estará subordinado só ao presidente da República.
E seus amplos poderes não incluem a punição de funcionários – por exemplo, soldados da PM.
Como envolvidos em tráfico e participantes de milícias serão punidos?
Vai ver que há algum jeito, né?
O fato é que as Forças Armadas já agiram outras vezes no Rio, com TV e armas pesadas; em todas, houve êxito inicial, antes que tudo voltasse ao estado de sempre.
Não se pode imaginar que a presença do Estado em boa parte do Rio se limite a policiais e soldados, sem médicos, sem professores, sem saneamento básico.
Não é só na política que há esgoto a céu aberto.
GENTE CERTA...
O general Braga Netto foi o responsável pela coordenação de segurança (boa) nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio.
Entende do assunto.
Mas teve na época as condições e o tempo necessários para montar seu trabalho.
...JEITO ERRADO
Para que se tenha uma ideia do planejamento oficial: de acordo com a Constituição (artigo 60, parágrafo 1°), não pode haver emenda constitucional com um Estado sob intervenção.
E a reforma da Previdência, apontada pelo Governo como essencial e urgente, fica impossível.
Temer, professor de Direito Constitucional, sabe disso.
Mas comentou que poderia revogar a intervenção para votar a reforma, retomando-a logo em seguida.
Supõe que os bandidos terão o cavalheirismo de não abusar dessa pausa.
E HAJA CARGOS!
Nas discussões que levaram à intervenção no Rio, falou-se muito na criação do Ministério da Segurança Pública.
O Governo acredita que será útil – ao menos para parecer que está fazendo alguma coisa.
Se ministério resolvesse algo, o Brasil estaria melhor que os Estados Unidos, já que temos o dobro dos ministérios.
E pessoas como Luislinda a ocupá-los.
DETALHE CURIOSO
A violência no Rio é inaceitável (como é, a propósito, no Brasil inteiro).
Mas os índices atuais – 6,13 mortes violentas por 100 mil habitantes – são inferiores aos de 8,63 de 1995, quando ninguém falou em intervenção.
CRÍTICA SEM AUTOCRÍTICA
Amplos elogios aos sambas de crítica da situação da Beija-Flor e Tuiuti, primeira e segunda colocadas no desfile de escolas de samba do Rio.
O problema é o telhado de vidro de quem atira pedras.
A Beija-Flor é controlada por Aniz Abraão David, um dos chefes do sorteio zoológico do Rio; a Tuiuti é a escola do carro alegórico que, no ano passado, atropelou e matou uma pessoa no caminho para o desfile, e que deu ordem ao motorista para seguir em frente e esquecer a vítima – o que ele, obedientemente, fez.
GUERRA SUJA
Há alguns anos, este colunista aconselhou uma respeitada empresária do Interior paulista a desistir da disputa pela Prefeitura de sua cidade, embora fosse a favorita destacada nas pesquisas.
A cidade provavelmente ganharia por ter uma prefeita como ela, mas ela seria vítima do moedor de carne que são as campanhas, onde vale tudo para destruir o adversário.
De lá para cá, a coisa piorou: há hoje grande quantidade de profissionais da difamação.
MENTIRA, E DAÍ?
Tanto Luciano Huck quanto João Dória foram acusados de comprar jatos da Embraer com financiamento do BNDES a juros subsidiados.
Foram favorecidos?
Não: se o caro leitor for à Embraer para comprar um avião, terá à disposição a mesma taxa de juros oferecida a Dória e Huck.
O BNDES auxilia com seu crédito a venda de aviões produzidos por brasileiros no Brasil, e isso vale para todos os compradores.
Competir com a Airbus/Bombardier significa também oferecer juros competitivos.
Se a besteira se limitasse às redes sociais, vá lá; mas ganhou as páginas de grandes jornais, como se fosse uma denúncia a sério.
Um dos motivos de ter de optar nas eleições entre tantos maus candidatos é que os que seriam bons preferem ficar fora, sem sofrer o desgaste de calúnias e difamações, sem expor a família e as empresas ao risco das notícias falsas.