Explicado deserto de ideias 05/03/2018
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Dá para entender por que a intervenção no Rio gera reações virulentas à esquerda e à extrema-direita e não conta com o entusiasmo de algumas forças de centro. A verdade é que as pessoas estão em busca do que dizer.
Não deixa de ser estupefaciente que, dados os dias em vivemos, ninguém possa se lançar como o “candidato da ética”.
Jair Bolsonaro até que tenta avançar por aí, mas o seu público, vamos convir, não se interessa muito por isso. Com a sua turma, é na base do tiro, porrada e bombas — no caso, e se for o caso, de gás lacrimogênio. Para fazer chorar os esquerdistas. Ele não tem muito a oferecer a não ser porte de armas e mais fuzis…
PUBLICIDADE
Se resolver encampar o papo-furado da ética, terá de explicar como se tornou um milionário. Não aos seus convertidos. Esses apostam que ele anda sobre as águas turvas.
O problema é quem ninguém vence eleição só com o apoio dos seus fiéis.
Os esquerdistas estão fazendo um esforço danado para convencer os brasileiros de que o país está à beira do caos econômico. Mas ele não está.
Também bate na tecla dos direitos sociais que teriam se degradado na gestão do presidente Michel Temer. O discurso é obviamente mentiroso porque isso não aconteceu.
Os candidatos que se colocam ao centro tentam descobrir um discurso que se descole do Planalto, mas aí surge um problema: afinal de contas, quais medidas desse governo não merecem o apoio do tal centro?
Ninguém saberia dizer.
Eis um desafio que tem se mostrado, até aqui, intransponível para essa turma: como falar alguma coisa que se distancie, de fato, da defesa do que se pode chamar “statu quo”?
A agenda de Temer não tem sido, justamente, a agenda de quem aposta no livre mercado, na racionalidade econômica, do controle de gastos? Como inventar a pólvora?
Já observaram?
O grande esforço dos pré-candidatos — e não importa o viés ideológico — é encontrar um discurso que seja de oposição, não importa o matiz.
Não que Temer tenha descoberto, no poder, o “emplastro anti-hipocondríaco”, destinado a aliviar a nossa “melancólica humanidade”…
Ocorre que, fora do terreno da esquerda e seu discurso aloprado, os lugares de fala dos pré-candidatos de centro não os distingue do governo em curso.
É claro que lhes resta saída.
E a saída razoável consiste justamente em aplaudir o que está certo, propondo, eventualmente, aprimorar medidas em curso, alertando para o risco de um retrocesso caso o país caia nas garras insanas do populismo de extrema-direita ou de esquerda.
Mas, para isso, é preciso superar a situação verdadeiramente surreal de que esse centro e hoje refém voluntário: defender medidas que estão em curso, porém dissociando-as da atual gestão.
É a quadratura do círculo.
Aí volto à intervenção: ainda que a intenção possa não ter sido esta, o fato é que ela se transformou num fato político e constitui uma novidade num ambiente preenchido, sucessos do governo à parte, por um deserto de ideias e propostas.
“Ah, é difícil apoiar um governo ainda tão impopular”.
Pois é…
Então o desafio é opor a ele sem cair no populismo rasteiro de extrema-direita ou de esquerda.