GUERRA DOS SEXOS 08/03/2018
- EDUARDO SIMBALISTA - DIÁRIO DO PODER
É curioso que 50 anos após terem queimado sutiãs as mulheres ainda tenham tão pouco a comemorar no seu dia.
Desrespeito, preconceito, discriminação, exploração, dupla jornada compõem a via sacra do dia-a-dia sacrificado das mulheres.
O clamor do “não é não” cresce entre as que andam de saco cheio com agressões, provocações machistóides e cantadas sem graça.
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Na França, gestos abusivos e comentários obscenos já custarão R$ 3 mil para tentar inibir comportamentos de índole sexista ou sexual.
A partir de agora, galanteios baratos e sem risco apenas entre homens, esse gênero desmoralizado, mal-educado e a caminho de tornar-se inservível, por desuso.
Oi, gato! Oi lindão! Dirão uns aos outros, pagando mico em vez de multa.
Talvez por essa patente inutilidade, uma mulher – sim, uma mulher – acaba de propor a extinção da classificação “homem”.
Certamente filha da geração espontânea, com essa sacada genial, a ativista acabará por merecer o Prêmio Nobel da Paz, conseguindo o que se almeja desde os antigos gregos: o fim da guerra dos sexos.
Desaparecendo o crime, desaparecerá a pena: afinal, “nulla poena sine crimine”. E o ensino das línguas ficará incrivelmente mais fácil sem femininos e masculinos para atrapalhar.
Tudo começou quando a socióloga Rosslyn Kerr, num artigo publicado em “The Conversation”, defendeu, com muitos bons argumentos, o fim da divisão das categorias no esporte, dando o exemplo do avanço alcançado já nos Jogos Paraolímpicos, em que o mérito está na habilidade de cada um, independentemente da questão de gênero.
Como na disputa histórica dos anos 70 entre os tenistas norte-americanos Billy Jean King e Bobby Riggs, um dos eventos mais vistos da televisão até hoje.
É oportuno lembrar que essa guerra do “não é não” começou no teatro grego com “A greve dos sexos – Lisístrata”, de Aristófanes, traduzida aqui por Millor Fernandes.
As mulheres atenienses, de saco (de novo, ooops) cheio com as aflições da guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta, fecham-se no templo e deflagram uma greve sexual até a negociação de paz.
O curioso dessa bandeira branca, hasteada no século V antes de Cristo, é que mulheres não eram admitidas nem no elenco, nem na platéia.
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O diálogo de surdos atual, essa coisa de vaginas que dialogam “não é não” e de pênis que se calam e, murchos de culpas, sequer piam como pintos, ficou chato.
Afinal toda forma de amor tem risco, seja de homem com homem e mulher com mulher.
Há um ano, para decepção de alguns fãs, o cantor e dançarino belga Loïc Nottet, andrógino com voz aguda de castrato, ousou fazer a perigosa confissão de que não é homo.
Digo perigosa, não por experiência própria nem de cantar “Telma, eu não sou gay” no banheiro, mas baseado no testemunho recente de dois casais homossexuais da Tunísia, um franco-tunisiano e outro franco-mauriciano (das Ilhas Maurício): “aqui se não se confessa logo, se alguém diz não, eu não sou homo, a polícia aplica logo o teste anal, e é horrível”.
Melhor nem pensar.
Enquanto a discussão não acaba, a boa sacada é do/a humorista e atriz francês/francesa Muriel Robin que proclamou esta semana ao jornal Le Monde: “eu não sou homo. Eu sou eu”.
Como diria o filósofo Ortega y Gasset, “eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim”.