O DEM em busca do protagonismo 14/03/2018
- RUDOLFO LAGO - ISTOÉ
Embora tenha apenas a oitava maior bancada na Câmara, com 33 deputados, o DEM sempre foi o fiel da balança das grandes decisões do governo no Congresso, especialmente a partir da ascensão do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à Presidência da Câmara.
Foi graças à sua articulação que o presidente Michel Temer conseguiu escapar das duas denúncias por corrupção desautorizadas pelos parlamentares.
Agora, o DEM quer escapar da sina de coadjuvante.
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Para alcançar o Olimpo político, a legenda lançou na quinta-feira 8 a candidatura de Rodrigo Maia à Presidência da República.
Desde 1989, quando disputou as eleições presidenciais com Aureliano Chaves (na época o DEM chamava-se PFL), o partido parecia destinado a se coligar com as forças majoritárias que venciam as eleições, como aconteceu com o apoio a Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998 (o vice de FH foi Marco Maciel, do PFL).
Mas para mudar a sua sorte, o DEM precisa mais do que apenas almejar o protagonismo.
Será necessário superar as desconfianças de que o projeto político é mesmo para valer.
Não será tarefa trivial.
Como Maia permanece com míseros 1% nas pesquisas, o DEM precisa dar um salto – quase uma sequência de duplo twist carpado eleitoral – para conseguir chegar a pelo menos 15% das intenções de voto até junho e ter condições de disputar a Presidência com chances reais de chegar ao segundo turno.
Caso isso não ocorra, o partido corre o risco de ficar condenado, novamente, a se aliar com quem apresentar maior musculatura política no espectro da centro-direita.
Por ora, tudo são flores.
Em clima de campanha, na convenção do DEM, Rodrigo se apresentou como “o novo”, termo da moda adotado pelos novos velhos políticos para que, ante o eleitorado, eles não pareçam como verdadeiramente são: um museu de grandes novidades.
“Queremos construir com o povo brasileiro um pacto para rompermos com o que há de velho e atrasado na política brasileira”.
Para demonstrar unidade interna, o prefeito de Salvador, ACM Neto, alçado ao comando do partido, destacou a capacidade de diálogo do presidente da Câmara, formada nos bastidores do Congresso.
“Rodrigo foi decisivo para a manutenção da estabilidade da democracia no País”, disse.
CACIFE
Em meio à euforia inicial, os articuladores da candidatura de Rodrigo Maia apostam que o cacife do presidente da Câmara pode subir caso a Procuradoria-Geral da República venha a denunciar novamente o presidente Michel Temer, que durante a semana teve a quebra de seu sigilo bancário determinada pelo ministro do STF, Luís Roberto Barroso.
Pelo raciocínio dos Democratas, uma eventual nova investigação contra Temer poderia ensejar uma terceira denúncia contra o presidente.
Para a denúncia andar, ela precisará ser aprovada em votação na Câmara.
Na primeira vez que Temer foi denunciado, o pedido foi rejeitado com facilidade.
Na segunda vez, o placar já foi mais apertado.
Por isso, acreditam os apoiadores de Maia, que a tendência é que uma terceira denúncia encontre um cenário muito mais difícil.
Ainda mais se a Câmara for presidida por alguém que, além de presidente da Casa, seja candidato à Presidência da República – lembram eles.
Menos dificuldade haverá, no entanto, se tal candidatura estiver afinada com o Palácio do Planalto, daí o movimento de xadrez de Rodrigo Maia.
A hipótese do cacife de Maia aumentar com uma terceira denúncia contra o presidente é algo que até os analistas próximos a Temer no Palácio do Planalto consideram como o ponto central da pretensão lançada pelo DEM na quinta-feira, ainda que no Planalto não se acredite que a investigação sobre o Porto de Santos prospere.
LUZ PRÓPRIA
Do ponto de vista menos policial do que político, há uma avaliação de que existe uma avenida a ser percorrida na eleição por uma candidatura de centro-direita.
Principalmente se o PSDB não deslanchar.
Na avaliação do DEM, o maior problema do PSDB hoje reside na formação de seus palanques estaduais.
Os Democratas, ao contrário, estariam conseguindo construir esses palanques.
Em Minas, o deputado Rodrigo Pacheco trocou o MDB pelo DEM e será candidato ao governo.
No Rio, o candidato será o pai de Rodrigo, César Maia.
Na Bahia, ACM Neto será o candidato a governador.
Em Pernambuco, o nome do partido pode ser o ministro da Educação, Mendonça Filho.
Em Goiás, conta com a força eleitoral do senador Ronaldo Caiado.
No Amazonas, há conversas para filiar o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, insatisfeito no PSDB.
Na convenção de quinta-feira, o partido ainda recebeu o reforço de Laura Carneiro (RJ), ex-MDB, relatora da intervenção no Rio, e de Heráclito Fortes, ex-PSB.
No seio do partido, a sensação é de que, na pior das hipóteses, o DEM se fortalece para influir na sucessão.