O livro das lamentações 19/03/2018
- Germano Oliveira - IstoÉ
Poderia ser apenas uma comédia bufa, mas os ingredientes do livro “A Verdade Vencerá” compõem o cenário de mais uma das farsas montadas pelo ex-presidente Lula na tentativa de reescrever a história de despautérios em que se transformou sua vida nos últimos anos.
Auxiliado por dois jornalistas petistas (Juca Kfouri e Maria Inês Nassif), Lula deu três açodados depoimentos nos últimos dias 7, 15 e 28 de fevereiro, a toque de caixa, sem qualquer compromisso com a realidade, para rebater, em vão, os argumentos juridicamente consistentes de que ele cometeu crimes de lavagem de dinheiro e corrupção.
Por ter recebido um tríplex no Guarujá como propina da construtora OAS, beneficiada por facilidades nos contratos da empreiteira junto a Petrobras, Lula foi condenado, em segunda instância, a 12 anos e 1 mês de prisão e deverá ser preso nos próximos dias como manda a lei.
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Porém, em nenhum momento das 216 páginas do livro, que chegou às livrarias na sexta-feira 16, Lula apresenta fatos que contestem os inúmeros documentos, depoimentos e fatos sobre os desvios que cometeu na Lava Jato.
Dedica-se apenas a fazer bravatas e ditar frases de efeito, como: “Estou pronto para ser preso”.
Vestindo o figurino de vítima, para variar, o ex-presidente diz que ainda vai recorrer a instâncias superiores (STJ e STF), mas que está conformado com o cárcere.
“O que não estou é preparado para a resistência armada. Como sou democrata, nem aprender a atirar eu aprendi. Então, isso está fora de cogitação”.
Nega também que esteja arquitetando fugir do País.
“Não vou me esconder em embaixada. A palavra fugir não existe no meu dicionário”.
Promete ficar em sua casa em São Bernardo do Campo à espera dos agentes da Polícia Federal, pois acorda sempre às 5h para fazer ginástica.
Chega a fazer-se de coitado, ao dizer que desde que se curou de um câncer na laringe em 2012, “não tenho mais medo de nada”.
E garante que não vai liderar “nenhuma desobediência civil” – sim, sua tropa pode fazê-lo sem que lhe exija sujar as mãos.
Como não tem argumentos para defender-se das bem fundamentadas acusações feitas na Justiça, o ex-presidente aproveita o livro panfletário até para atacar o ex-ministro Antonio Palocci, que já foi seu principal colaborador e tido como seu eventual sucessor, mas que agora está negociando delação premiada com o Ministério Público, fazendo-lhe pesadas acusações.
O ex-ministro já afirmou em juízo que Lula fez um pacto de sangue com a Odebrecht e recebeu R$ 300 milhões em propinas da construtora.
“Eu tenho pena do Palocci. Ele diminui a figura dele fazendo o que fez. Ou ele não aguentou a prisão e quer liberdade ou ele tem dinheiro e está negociando uma parte. Eu lamento”.
O livro todo é um corolário de lamentações.
Sem argumentos de defesa, o ex-presidente aproveitou para fazer análises políticas, incluindo críticas à sua sucessora.
Afirma, por exemplo, que faltou empenho a Dilma Rousseff para evitar o impeachment.
“Em todas as conversas que eu mantinha, as pessoas se queixavam 100% do Mercadante e 101% da Dilma.
Cheguei ao ponto de dizer para a Dilma: ‘Olha, você vai passar para a história como a única presidente que nem os ministros te defenderam”.
Ele diz ainda que em 2014, depois da vitória, Dilma lhe pareceu uma pessoa “triste e inquieta” e que sua sensação foi a de que ela “não tinha gostado de ganhar”.
Produzido pela editora Boitempo em prazo recorde, a “Verdade Vencerá” começou a ser concebido depois que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de Porto Alegre, confirmou, no dia 24 de janeiro, a sentença de condenação do juiz Sergio Moro, majorando a pena de prisão em mais dois anos e meio.
A decisão de colocá-lo nas livrarias, contudo, veio na semana passada, depois que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou o habeas-corpus preventivo por 5 a 0, praticamente sacramentando a prisão do ex-presidente.
O livro, dessa forma, serve apenas como rascunho mal-acabado da verdadeira história de um ex-presidente que assumiu como “a alma mais honesta do mundo” e acabou virando ícone da corrupção.