Balbinotti desiste. Substituto pode ser de MS 17/03/2007
- Kennedy Alencar - Folha Online
O deputado federal Odílio Balbinotti (PMDB-PR) comunicou à cúpula do PMDB que desistirá ainda neste sábado da indicação para o Ministério da Agricultura. O noticiário negativo do final de semana mais o temor de um desgaste político prolongado para o governo, o PMDB e o deputado levaram Balbinotti à desistência.
Balbinotti divulgará nota em breve. Com sua saída, ganha força a possibilidade de o colega de bancada, o ruralista Waldemir Moka (PMDB-MS), substituí-lo. A cúpula do PMDB discutirá a indicação com Lula.
A posse de Balbinotti estava marcada para a próxima quinta-feira. No entanto, desde a quarta-feira passada, quando Lula acertou a indicação do deputado para a Agricultura, Balbinotti está sob fogo cerrado.
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Tramita no STF (Superior Tribunal Federal) um inquérito sigiloso que investiga a suspeita de falsidade ideológica e de crime contra a fé pública. A suspeita é que ele teria forjado documentação para obter empréstimo do Banco do Brasil.
Na atual fase, o inquérito aguarda a documentação oficial do empréstimo para perícia técnica. Ou seja, confirmar ou não a falsificação. Depois, o Ministério Público Federal decidiria se oferecerá denúncia ou não ao Supremo. Feita a denúncia, caberia ainda ao STF rejeitá-la ou aceitá-la.
Balbinotti argumenta que não há, portanto, uma acusação formal contra ele, mas suspeitas em investigação e sobre as quais ele se diz tranqüilo.
Além do aspecto legal (a possibilidade de uma denúncia), o desgaste político preocupou a cúpula do PMDB e o próprio Lula, este em menor grau, para surpresa dos peemedebistas.
Na conversa em que foi apresentado a Lula, na manhã de quinta-feira, Balbinotti se disse ¨pé vermelho¨ (bóia-fria) e contou que começou aos 10 anos a trajetória de menino pobre para homem rico.
O presidente comentou com ministros que gostou do ¨jeitão¨ de Balbinotti.
Na sexta, diante de um noticiário negativo, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), procurou Lula, para deixá-lo à vontade a respeito de eventual substituição. O próprio Balbinotti pediu ao peemedebista que dissesse ao presidente que, se ele desejasse, poderia trocá-lo.
Lula, então, teria resolvido aguardar 48 horas para tomar uma decisão. Mas Balbinotti e o PMDB se anteciparam para evitar desgaste.
Pecuarista de MS é o novo indicado para a Agricultura*
Em telefonema ao deputado Waldimir Moka (MS), o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), informou, neste sábado (17), que seu nome será levado a Lula como opção do partido para ocupar o ministério da Agricultura. Segundo Temer, com a desistência de Odílio Balbinotti (PR), Moka passou a ser a primeira opção do PMDB.
Em privado, Moka revela aos colegas de bancada o receio de que seu nome não seja digerido por Lula. Adversário do ex-governador Zeca do PT na política de seu Estado, o Mato Grosso do Sul, Moka apoiou e votou no tucano Geraldo Alckmin nos dois turnos da eleição presidencial do ano passado.
O nome de Moka sempre foi o preferido da bancada de deputados do PMDB para a pasta da Agricultura. Odílio Balbinotti foi à lista de ministeriáveis por decisão de Lula. Aliado do governador lulista do Paraná, Roberto Requião, Balbinotti, diferentemente do colega, votara em Lula, contra Alckmin.
A cúpula do PMDB acha que as opções políticas de Moka no passado recente não pesarão contra a nomeação dele. Argumenta-se que o próprio Michel Temer acaba de descer do palanque de Alckmin. Também o novo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), foi adversário de Lula antes de aliar-se ao governador petista da Bahia, Jaques Wagner, nas eleições de 2006.
A exemplo de Balbinotti, o nome de Moka figura em dois processos no STF. São, porém, casos muito distintos dos de seu colega. Ambos decorrem da ação política de Moka. Em nenhum deles a idoneidade moral do deputado é posta em dúvida.
Num dos processos, Moka é o autor. Trata-se de um mandado de segurança que impetrou, em março de 2006, contra a Mesa da Câmara. Envolve uma disputa que Moka travou com o colega de bancada Wilson Santiago (PMDB-PB) pela liderança do partido na Câmara. Acabaram se acertando. E Moka desistiu da ação, que foi ao arquivo.
No segundo processo, Moka figura como réu, junto com outros dois congressistas do PMDB de Mato Grosso do Sul: Ramez Tebet, morto no ano passado, vítima de câncer, e Nelson Trad. Os três foram acusados de ter cometido os crimes de calunia, injúria e difamação. O autor da ação é Heitor Miranda dos Santos, irmão de Zeca do PT.
Acusado de ter sido beneficiado pelo governo do irmão em negócios supostamente irregulares, Heitor foi mencionado numa nota vazada em timbre desairoso pela executiva estadual do PMDB, que era dirigida por Moka, Tebet e Trad. Por isso processou os três. O processo deu entrada no Supremo em junho de 2004. Relatou-o o ministro Cezar Peluso. Foi mandado ao arquivo em fevereiro de 2006, sem condenação.
Curiosamente, Moka é primo de primeiro grau de Zeca do PT e de Heitor. Foram afastados pela política. Na eleição do ano passado, Moka subiu no palanque do governador André Puccinelli (PMDB), adversário do grupo de Zeca do PT. Daí o seu receio de que Lula o enxergue de esguelha.
Pesam a favor do pecuarista Moka, além da simpatia da bancada de deputados do PMDB, o apoio da maioria dos integrantes da Comissão de Agricultura da Câmara e o suporte de duas entidades ligadas ao patronato rural: a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).