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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O discurso de Lula
08/04/2018 - BLOG DE REINALDO AZEVEDO

Lula fez um discurso de 54'28" antes de ser preso. Vou analisa-lo segundo duas perspectivas. A primeira diz respeito ao conteúdo: trata-se de uma fala forte, com eixo e com método claros, goste-se ou não deles. A segunda já é um juízo de valor sobre o conteúdo.

E a minha síntese inicial é esta: o líder petista nunca esteve tão certo e tão errado. Infelizmente para ele, e disto o PT dificilmente se dará conta, o ex-presidente está sendo vítima de uma concepção de mundo que ele mesmo consagrou na política.

Num dado momento de sua fala, afirmou o ex-presidente:


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“Todos nós dizíamos: só prende pobre, não prende rico. Tem de prender rico”.

Sim, isso é verdade. Só corrijo, por precisão histórica, o seu vocabulário num aspecto: o PT e Lula preferiam a palavra “elite”.

Bastava, então, que se pespegasse tal pecha em alguém, e aí tudo era permitido.

Quantas reputações de pessoas inocentes Lula não manchou pelos palanques da vida!

Quantas biografias mais sujas do que pau de galinheiro ele não ajudou a lavar!

E, para tanto, bastava que o ogro moral passasse a servir à causa petista.

Bem como uma biografia impoluta podia ser alvo dos ataques mais vis se isso interessasse à causa.

Lula nunca se deu conta de que juízos políticos, a depender da máquina que os movimenta, também condenam e também destroem.

Pior: não se deu conta de que eles podem ganhar uma dimensão jurídica.

E ganharam.

A Lava Jato, nos seus aspectos viciosos — e também há os virtuosos, claro! — é fruto da “petização” das universidades e dos cursos de direito.

A operação, nos seus desvarios, representa a materialização do chamado “direito achado na rua”, do “direito do alarido”, do direito que ouve o ruído das praças e ignora o rigor dos autos.

O já lendário procurador Luiz Francisco era a forma larvar do que é hoje o Ministério Público Federal, que só é aquilo em que se tornou por responsabilidade do PT.

Os procuradores passaram a ouvir aquele diz-que-diz-que a que recorria Lula para destruir seus adversários.

Passaram a achar que mais valia a convicção do que a prova.

Esses valores distorcidos chegaram à Justiça.

No despacho em que determina a prisão do petista, o juiz Sérgio Moro é explícito ao se referir a um recurso legal:

“Hipotéticos embargos de declaração de embargos de declaração constituem apenas uma patologia protelatória e que deveria ser eliminada do mundo jurídico”.

Vale dizer: Moro se dá o direito de fazer uma seleção das leis que servem e das leis que não servem.

E Lula avançou numa afirmação que poderia estar correta, mas que traz um erro essencial:

“Quem quer fazer julgamento com base na opinião pública que largue a toga e vá disputar eleição. O juiz tem de ter a cabeça mais fria”.

Pois é…

Juiz, procurador e político não podem sair por aí a fazer acusações a esmo.

Ocorre que parte da construção da figura mítica de Lula decorreu do fato de ele ter se comportado, ao longo da vida, como o grande juiz, erro que voltou a cometer ainda neste sábado, quando acusou a imprensa, sem matizes, de ser, no fim das contas, a responsável pelo mal que o atinge.

Jornalistas estão sendo atacados por trogloditas do petismo, que estariam lá para defender o ex-presidente.

Há um homem internado em estado grave, vítima de brutamontes.

Eis um dos erros essenciais de Lula, que certamente estão na origem das falcatruas em que o PT se meteu — e, no caso, pouco importa saber se foi com a sua anuência ou não, se foi com o seu conhecimento ou não: ele acha que, em política, vale tudo.

E não que os petistas não tenham tentado judicializar a política desde sempre.

E não que repudiem o expediente ainda hoje.

LAVA JATO

Lula, ora vejam, exaltou a Lava Jato, elogio este atrelado à máxima de “prender os ricos”.

Ora, “prender ricos” não é crivo jurídico, mas político e de classe.

Ao largar essa afirmação no ar, aquele que foi preso ontem. sábado, endossava, na prática, os métodos nefastos a que também recorre a operação.

E por óbvio, esqueceu-se o ex-presidente de que ele próprio e muitos de seus companheiros já são “ricos”, fazem parte da demonizada “elite”.

Por mais que tenha um vínculo importante com os pobres, e isto é inegável, Lula sabe não ser mais um deles.

Ele agora é establishment.

E a Lava Jato, em muitos aspectos, representa uma volta àquele petismo primitivo dos anos 1980 — o PT foi fundado em 1981.

A síntese poderia ser esta: a sociedade é formada de espoliados e de espoliadores, e Lula insistiu nessa clivagem em seu discurso, e os políticos, quase sem exceção, falam pelos espoliadores.

Mais próximos do PSOL do que do que do PT — e notem que o globalizado Marcelo Freixo não estava presente ao palanque —, os senhores procuradores não poupam de suas arbitrariedades nem o partido dos companheiros.

E, com isso, o chefão petista não se conforma; é isso que deixa o PT aturdido.

A Justiça e o MPF politizados que o petismo criou deveriam ter como alvos apenas seus adversários.

MPF

Lula destacou a importância do Ministério Público Federal, que tem de ser, segundo ele, uma instituição forte, mas, ressalvou, “com responsabilidade”.

E lembrou que nomeou quatro procuradores-gerais da República.

Pois é…

Eu vou refrescar a memória do ex-presidente.

Ele é o responsável por ter introduzido uma prática nefasta no seio do Estado brasileiro.

Instituiu a eleição direta para procurador-geral, entregando tal atribuição a uma entidade sindical: a Associação Nacional dos Procuradores da República, que era, então, umbilicalmente ligada ao PT.

A coisa é absurda de dois modos:

1 – a Constituição é explícita ao definir que indicar o procurador-geral, que será submetido ao Senado, é uma das atribuições do presidente da República.

Quando Lula, no exercício do cargo, abriu mão de tal prerrogativa, não o fazia apenas para si mesmo; impunha a seus sucessores uma “obrigação” que fere a Constituição;

2 – o procurador-geral não é chefe apenas do Ministério Público Federal, formado pelos procuradores da República, mas do Ministério Público da União, que inclui ainda o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.

Os membros desses demais entes não votam.

Vale dizer: fiel à sua tradição, Lula entregou ao sindicalismo, que ele imaginou eternamente atrelado ao partido, o papel de escolher o procurador-geral da República.

Imediatamente teve início a campanha da corporação pela chamada “independência”, discurso hoje presente também na Polícia Federal e na Defensoria Pública.

Ou por outra: a visão sindical-corporativista do Estado, que o PT levou para o centro do poder, começou a mostrar as suas garras e não tardou a se voltar contra o seu próprio criador.

RÁPIDA MEMÓRIA

Essa Polícia Federal que não é avessa a espetáculos, que concede entrevistas coletivas — como fazem os procuradores — em que meros investigados são condenados sumariamente; que bate à porta das pessoas com um batalhão de repórteres, bem, isso também é cria genuína do poder petista.

A primeira vítima no país desse linchamento que precede a julgamento foi a empresária Eliana Tranchesi, já morta, então dona da Daslu.

Ficou evidente que a empresa havia montado uma estrutura para sonegar impostos — e não estou eu aqui a endossar tais práticas.

Mas a humilhação a que Eliana foi submetida, então, não encontrava paralelo na história.

Um aparato quase de guerra foi montado para prendê-la, surpreendida, em casa, de camisola, sob a mira de armas e câmeras de televisão.

Ela foi vendida à opinião pública como o símbolo dos “sonegadores destepaiz”, que prejudicam os “pobres destepaiz”, que agora vão encontrar “o que merecem nestepaiz”…

A imprensa delirou.

E revistas deram capa, sim, para a “Polícia Federal de Lula”, que “não brincava mais em serviço e, ora bolas, não era mais omissa como fora no governo FHC, aquele que tinha deixado a tal ‘herança maldita’”.

Sabem quem, na imprensa, se levantou não contra a prisão de Eliana, mas contra o espetáculo?

Um tal “Reinaldo Azevedo”.

Preciso dar um jeito de achar os textos. Foram publicados no site “Primeira Leitura”, que o PT conseguiu fechar.

Então presidente, Lula deu um recado, e ele deve se lembrar: quem não quiser ser surpreendido, na cama, pela Polícia que não faça coisa errada.

Moral da história: “nestepaiz”, os ricos também choram.

Chamei a tática de fascistoide.

Os petistas e a esmagadora maioria da imprensa petizada babavam de prazer.

O Lula que acusou os desmandos da Polícia Federal e do Ministério Público, na condição de líder máximo do PT, é o responsável pela politização desses entes.

PROCESSO DE EXCEÇÃO

Lula se referiu, em tom furioso, a uma palavra que criei: “petralha”.

Pois o criador da palavra “petralha” reitera: Sérgio Moro condenou Lula sem provas no caso do tríplex de Guarujá.

O andamento do processo do TRF-4 obedeceu a critérios de exceção, e, na base dessa coisa toda, convenham, está o ódio à política, de que a Lava Jato é hoje a voz, digamos, mística, o que encontra, sim, guarida em amplos setores da imprensa.

Isso tudo tem de ser combatido e corrigido.

O problema é que a crítica a esse estado de coisas é feita por liberais, uma minoria tratada a tapas e pontapés pelo próprio petismo.

Os entes fora do controle democrático criados pelo PT foram adotados pela extrema-direita, e os dois grupos se estreitam num abraço insano.

Sim, o PT faz a pior colheita daquilo que ele mesmo plantou.

Mas não!

Não sou petista.

Não vou usar uma moral para julgar o que acontece com os meus e outra para o que acontece com os deles.

Lula é, sim, parafraseio Marx, vítima de sua própria concepção de mundo.

Nem por isso se deve perder de vista: foi condenado sem provas e é vítima de um processo de exceção.

LEIA A SEGUNDA PARTE AMANHÃ


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