As rosas falam 11/04/2018
- Vera Magalhães - O Estado de S.Paulo
E, de novo, os olhos do País estão postos sobre a sempre tão discreta Rosa Weber. Rosa esta que, como lembrou ontem o juiz Sérgio Moro – como a ecoar a canção de Cartola – não fala.
Numa quadra em que ministros do Supremo se digladiam em plenário, quando não escracham os juízes de carreira sem cerimônia, o não falar de Rosa, ainda que seja em parte angustiante para os jornalistas, não deixa de ser educativo.
Mas Rosa fala, sim. Nos votos. E aquele que ela exarou ao julgar o habeas corpus de Lula pareceu um tanto hermético quando pronunciado na TV Justiça, mas traz, em sua versão integral, os fundamentos que permitem decifrar o pensamento de Rosa.
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Não para tutelá-la, como quiseram fazer alguns de seus pares de forma desrespeitosa na quarta-feira passada. Mas procurando extrair o sentido profundo de seu entendimento.
A convicção da ministra de que o momento do cumprimento da pena é após o trânsito em julgado foi por ela manifestada nas ocasiões, em 2016, em que a Corte, por iniciativa de Teori Zavascki, se propôs primeiro a rever uma jurisprudência que vigorava desde 2009 e, depois, lhe deu repercussão geral.
E agora? Embora reconheça no voto do HC de Lula que o plenário do STF é o local para se rever questões de mérito, Rosa indica que é cedo demais para se rever esta jurisprudência, pois isso faria da Corte fonte de insegurança jurídica.
Está lá, na página 8:
“Por isso aqui já afirmei, mais de uma vez, que, compreendido o Tribunal como instituição, a simples mudança de composição não constitui fator suficiente para legitimar a alteração da jurisprudência como tampouco o são, acresço, razões de natureza pragmática ou conjuntural”.
Os grifos, e as palavras, são de Rosa.
ELEIÇÕES
Bolsonaro pauta o debate e dita timing de suas aparições
Sem contraposição de seus adversários, Jair Bolsonaro é o maior beneficiário da prisão do ex-presidente Lula, da concentração da pauta eleitoral em questões como combate à corrupção e segurança pública e das tentativas de vários setores da política e do Judiciário de rever decisões que se tornaram ativos da sociedade em pouco tempo, como a que determina a prisão após condenação em segunda instância.
Não por outra razão, o candidato do PSL deu um jeito de seu partido entrar como parte no debate, em contraposição à maioria dos políticos, que torce pela revisão da jurisprudência.
Também está sob o controle do deputado o timing de suas aparições em eventos de pré-campanha.
Assim, ele evita debates e ambientes em que pode ser minimamente contestado e concentra suas mensagens nas próprias redes sociais e em palcos dominados, como o da semana passada, em Curitiba.
De novo, sem contraposição de seus adversários.
Talvez venham a notar Bolsonaro só quando ele estiver no segundo turno.