Por que Gleisi e Lindbergh serão os primeiros a abandonar Lula 16/04/2018
- Maicon Tenfen - Veja.com
Se é verdade que Lula está preenchendo o tédio da prisão com leitura, gostaríamos de sugerir um título que lhe será útil.
Não cometeremos a maldade de indicar "Caminho Suave", a famosa cartilha de alfabetização escolar, tampouco a obviedade de um clássico como "Crime e Castigo", ainda que a obra de Dostoiévski seja amplamente usada nos projetos de leitura existentes em algumas penitenciárias brasileiras.
A propósito, aí está uma iniciativa louvável: a cada livro lido e resenhado, os presos diminuem alguns dias de cárcere, forma mais legítima de abreviar a pena do que recorrer a habeas corpus que só seriam possíveis com a mudança da lei.
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O livro que indicamos a Lula se chama "Como Distinguir o Bajulador do Amigo", de Plutarco, escrito no princípio da Era Cristã.
Desde aquela época se sabe que “cada um de nós é o primeiro e maior bajulador de si próprio”.
Se não tomamos consciência da absurda necessidade de aprovação que trazemos da infância, facilmente nos tornamos vítimas de oportunistas que nos afagam e elogiam para tirar vantagem no final.
O texto de Plutarco tem menos de 100 páginas e é muito fácil de ler.
É baratinho nos sebos e, com os direitos livres, pode ser legalmente baixado da internet.
Alguém por favor leve um exemplar ao ex-presidente.
Se nunca é tarde para aprender, o livro terá o efeito de uma revelação.
Convenhamos, um sujeito que diz o que Lula costuma dizer em público — “não sou mais um ser humano, sou uma ideia” — precisa de um mínimo de humildade para seguir em frente.
Tanto adularam o operário-símbolo do Brasil, tanto lhe deram tapinhas nas costas, tanto lamberam as suas botas com as intenções do arrivismo, que ele acreditou — ah, meu Deus! — acreditou que é um ser especial, talvez etéreo, uma força da natureza, uma mente predestinada a trazer a redenção.
Ah, claro: acreditou também que merecia um tríplex como recompensa.
Depois da leitura, seria bom se Lula ficasse um pouco quieto no seu “cantinho do pensamento”, tarefa difícil com a claque acampada a alguns metros de sua cela para diariamente saudá-lo com um “bom dia, presidente!”
Nada como o tempo, porém.
Pagos ou não, esse pessoal logo se cansa e vai embora, assim como os maiores nomes do oportunismo político nacional, Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, a Barbie e o Ken do PT, os mesmos que chegaram ao cúmulo da bajulação ao adotar o nome de Lula.
Esse esmero ridículo, segundo Plutarco, é prova suficiente de que os dois são inconfiáveis, mesmo dentro do partido, e só continuarão a lambança enquanto for vantajoso.
O grande problema para eles é que Luís Inácio foi preso por corrupção vulgar, um fato triste e comprovado, e a imprensa internacional não comprou a lorota do Mandela Barbudo da América do Sul.
Houve quem apostasse que a influência de Lula cresceria com a prisão, mas as pesquisas mostram que está diminuindo, e é muito provável que, em breve, os ratos mais cabeludos do PT deem um salto ornamental no oceano.
Será o grande momento individual de Lula, a sua hora da verdade, o instante em que finalmente ficará sozinho, longe dos puxa-sacos, e poderá conversar de si para consigo num grau de concentração que não experimenta há meio século.
— Por que não li esse livrinho antes?
Será o lamento solitário daquele que poderia ter sido, mas não foi.