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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

A captura da política
17/04/2018 - BLOG DE REINALDO AZEVEDO

O PT já foi um bom leitor do que ocorria no Brasil. Tão bom que eu, que abomino boa parte de sua visão de mundo em qualquer área que se queira — economia, política, cultura, educação, segurança pública, escolham aí — me irritava com a capacidade que a legenda demonstrava de entender o que estava em curso no país, dando respostas que eu julgava quase sempre erradas.

Até porque elas não tinham por desiderato resolver os problemas a que se propunham, mas fortalecer o partido, qualquer que fosse a medida.

Isso não quer dizer que tais escolhas não pudessem, eventualmente, beneficiar determinados grupos, incluindo os pobres. Mas os ricos, vamos ser claros, nunca tiveram do que reclamar nas gestões petistas.


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O partido perdeu a mão, está completamente por fora, não consegue ler mais nada.

Ontem, segunda-feira, foi um dia rico na demonstração disso que estou dizendo.

Para que a gente possa entender o que está em curso, é preciso estabelecer uma linha direta entre o Sindicato dos Servidores Públicos Federais do DF, onde falou José Dirceu, e a Harvard Law School, em Massachusetts, nos EUA, onde discursaram Roberto Barroso, ministro do Supremo, e os juízes Marcelo Bretas e, claro!, Sérgio Moro.

Em Brasília, Dirceu, que tem clareza de que vive os últimos dias de liberdade antes de mais uma temporada na prisão — e não será curta — exibiu um lado que não deixa de ser admirável por quem cultiva os seus valores.

Na esfera estritamente psicológica, ele é do tipo que jamais vai enlouquecer em reclusão porque mantém o foco no inimigo, ou naquele que ele considera como tal.

Esse fundamento de sanidade fornece ao encarcerado uma razão: “Você está aí porque foi alvo da ação de seus adversários”.

O ex-ministro, em suma, é do tipo que resiste e não se esgueira, gelatinoso, nas fileiras de quem o encarcera em busca de facilidades, como fez e faz Antonio Palocci.

Por mais indigna que os adversários possam considerar a sua luta, Dirceu fala ao menos a um dos lados que poderá contar a história como ele deseja.

Palocci restará como a maldição do pai ao filho que, aprisionado, implorou ao inimigo por sua vida no poema “I Juca Pirama”, de Gonçalves Dias: será “rejeitado da morte na guerra/ rejeitado dos homens na paz”.

Aquele que já foi o segundo homem mais poderoso do PT terá julgado seu último recurso pelo TRF-4 no dia 19.

E acho que ele sabe que vai perder.

Aí virá pela frente a cadeia, com uma condenação de 30 anos e 9 meses.

E Dirceu avisou no sindicato:

“Meus companheiros de cela muitas vezes, pela inocência, se desesperaram, e eu falei: ‘Está vendo esse cisco?’ É o Moro’. Ele não é nada, é um instrumento. O aparato policial-judicial é um aparato de perseguição política. Não é só de criminalizar o PT; há setores que estão percebendo isso”.

Cisco à parte, existe, com efeito, um aparato policial-judicial no país, hoje, que reivindica a sua autonomia — autonomia, inclusive, em relação às leis e à Constituição.

E não criminaliza, com efeito, apenas o PT.

Logo mais, o senador Aécio Neves vai ser transformado em réu pela Primeira Turma do Supremo.

E Rodrigo Janot nem mesmo se deu o trabalho de provar que o senador obstruiu a justiça — uma das acusações — ou praticou corrupção passiva: nesse caso, o ex-procurador diz que a prova está no fato de que a JBS doou R$ 60 milhões ao PSDB e recebeu incentivos fiscais do governo de Minas de R$ 24 milhões.

É o tal “aparato”.

E, de fato, não tem apenas o PT na mira.

Mas aí Dirceu se saiu com esta:

“Nosso principal inimigo é o sistema financeiro e bancário, o rentismo e a Rede Globo. Vocês sabem que eu gosto de uma aliança, mas vamos precisar rever a forma petista de governar. A questão é como governar sem aderir à receita neoliberal. Os desafios são muitos, mas eu sou otimista. Nós precisamos tirar lições do que aconteceu no País.”

Se você perguntar o que o sistema financeiro e bancário e o rentismo têm a ver com os excessos e maluquices da Lava Jato — que poderia, com efeito, estar fazendo um importante trabalho de saneamento da vida pública —, a resposta óbvia será esta: nada!

No evento mais espetacular da turma, André Esteves foi preso pela operação, o BTG Pactual teve perdas bilionárias em razão da ação e, depois, concluiu-se tratar-se de um engano.

E ponto.

A Rede Globo entra no seu discurso apenas como exemplo de “imprensa”, que vive sendo demonizada pelo PT.

E isso não é recente.

Em seu discurso antes de ser preso, Lula voltou a repetir que a Lava Jato atende a uma demanda da imprensa.

E isso tudo quer dizer uma única coisa: eles não entenderam nada mesmo.

O PT perdeu a leitura da realidade.

Então vamos lá para Harvard.

Bretas, o do auxílio-moradia duplo, deixou claro que o papel do Judiciário é mesmo servir de bedel do Executivo e do Legislativo.

Arvorando-se no papel de analista político, Moro — que se tornou bem mais do que o “cisco” de que fala Dirceu — dedicou-se a fazer digressões sobre a democracia, que ele assegurou não estar em risco no Brasil, dando a entender que agora ela vive seu esplendor, com a possibilidade de o Judiciário mandar para a cadeia quem achar que tem de ir para a cadeia desde que o magistrado entenda ser a causa justa.

Ou por outra: ainda que a corrupção não tenha sido provada, basta que se possa presumi-la.

Esplendor democrático.

E Roberto Barroso, fazendo as vezes do pensador, afirmou que o país passa por um processo de desintoxicação.

É o magistrado supremo de um país doente.

Logo, qualquer remédio desagradável que ele aplique, será certamente para o nosso bem.

Barroso, cabe lembrar, é o ministro que interpreta como quer a Constituição e que foi guindado ao tribunal justamente pelo PT, o partido de Dirceu, quando a legenda imaginava ser necessário adaptar a jurisprudência a seus desígnios.

Não se esqueçam de que foram os petistas a lançar a tese do fim da doação de empresas a campanhas.

E Barroso era seu grande entusiasta.

Foi o advogado original da Ação Direita de Inconstitucionalidade que resultou na proibição.

A propósito: os pré-candidatos que percorrem o Brasil o fazem com que dinheiro?

O Judiciário que falou e foi aplaudido em Harvard advoga a autonomia — inclusive em relação aos controles da democracia — para impor-se acima dos demais Poderes e da própria Constituição.

E chama a isso de “verdadeira democracia”.

Esse monstrengo, que não distingue o combate à corrupção do combate à política, foi criado pelo PT e era parte do projeto que tinha o partido de substituir a própria sociedade.

O tiro saiu pela culatra.

Só que não atinge apenas a legenda.

O setor financeiro e bancário não tem nada com isso.

A imprensa não tem nada com isso — nem quando erra ou se alinha a uma causa.

Ainda que eu fosse pensar segundo os perturbados padrões da esquerda, não se trata de um capítulo da luta de classes.

O PT tem errado sistematicamente nos remédios porque ainda não entendeu qual é o mal.

Os inimigos tradicionais do partido também são vítimas do “aparato” que ele próprio pôs em funcionamento.


  

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