Os 130 anos da abolição 13/05/2018
- MARCO ANTÔNIO VILLA - ISTOÉ
O Brasil novamente vai ignorar uma importante efeméride: os 130 anos da abolição da escravatura.
O 13 de maio de 1888 foi uma ruptura revolucionária em um País marcado pelo conservadorismo, pela conciliação entre as elites, pela enorme dificuldade de enfrentar as graves contradições sociais.
Não é possível falar da abolição sem recordar o primeiro movimento de massas da nossa história: o abolicionismo.
PUBLICIDADE
A mobilização popular nos anos 1880 foi fantástica. Jornais, panfletos, livros — o célebre “O Abolicionismo”, de Joaquim Nabuco, foi um marco —, reuniões, músicas, peças teatrais, passeatas, transformaram a última década do Império em um momento especial.
O abolicionismo entusiasmou o Brasil.
Três províncias — como eram chamados os estados durante o período imperial – aboliram a escravidão muito antes da Lei Áurea (denominação dada por José do Patrocínio): Amazonas, Ceará e Rio Grande do Sul.
No Ceará — a primeira província a abolir a escravidão —, a grande figura foi Francisco José do Nascimento, o dragão do mar.
Liderou os jangadeiros que se recusaram transportar escravos para os navios que se dirigiam ao sul do País.
Nas principais cidades foram formadas associações que lutaram pelo fim da escravidão.
Em São Paulo marcou época a Sociedade dos Caifazes, liderada por Antônio Bento, que, com o apoio dos ferroviários, transportou milhares de escravos fugitivos para o quilombo do Jabaquara, em Santos.
Raul Pompeia e mais 80 colegas abolicionistas foram obrigados a terminar o curso de Direito em Recife, tendo em vista a perseguição que sofreram por parte de professores escravocratas das Arcadas.
Com a República, o 13 de maio acabou entrando no calendário dos feriados cívicos.
Foi passando o tempo e a data acabou sendo esquecida.
Mais que a data, o acontecimento, seu significado para a nossa história — não custa recordar que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão no continente americano — foi apagado, como se não tivesse importância.
Como se a abolição fosse uma concessão da elite dominante e não produto da maior mobilização popular que o País tinha assistido até então.
Hoje, com o domínio da (medíocre) sociologia produzida nos EUA, falar no 13 de maio é considerado démodé.
Os ventríloquos do novo imperialismo cultural querem fomentar uma guerra racial.
Até os negros não são mais brasileiros; agora são afrodescendentes.