Crise teve serventias 25/05/2018
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Sim, dá para questionar se o governo não foi, vamos dizer, frouxo demais na resposta. Acontece que as coisas são um pouco mais complexas do que parecem.
Para usar uma medida de força, um presidente da República precisa contar com o apoio de lideranças e da sociedade.
Dada a indignação de muitos com a correta política de preços da Petrobras, o que se viu foi um movimento estúpido de solidariedade aos grevistas nas redes sociais.
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Às pencas, as pessoas davam seu apoio ao movimento sem saber que estavam sendo usadas como massa de manobra de um locaute, de uma greve de patrões. Mas não só.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, elegeu como alvo, ora vejam, o presidente Temer. E armou uma conspirata na Câmara para zerar a cobrança de PIS-Cofins sobre combustíveis.
Como paga, ele resolveu, finalmente, votar o projeto de reoneração da folha de pagamentos. E o fez de modo capenga: passaria a valer apenas para 28 dos 56 setores que estavam inicialmente no projeto.
O governo alertou: o rombo fiscal com a extinção dos impostos seria de R$ 14 bilhões.
Exibindo contas feitas no joelho, Maia, aquele que gosta de posar de liberal, agitava os bracinhos e dizia, entre esgares de mau humor: são apenas R$ 3 bilhões.
Quando ficou evidente que estava errado, e o governo certo, não se deu por vencido: o rombo é de "apenas" R$ 9 bilhões.
Só então e tardiamente, passou a ser alvo de piadas em setores do mercado financeiro que o consideravam uma pessoa fiscalmente responsável, coisa que nunca achei.
Todas as vezes em que o governo tentou arrumar a equação fiscal, a verdade é que ele resistiu.
E por que fez uma burrada desse tamanho?
Porque, de verdade, ele tem mais sede de poder do que clareza de convicções.
O eleitorado do Rio bem que poderia dar um presente ao Brasil mandando esse rapaz pra casa.
Armada a bomba fiscal, Eunício se mandou para o seu estado.
Com o país à beira do colapso, o presidente de um dos Três Poderes da República resolveu cuidar da sua paróquia.
É o tipo de político que, entre tentar deixar o Ceará do tamanho do Brasil ou o Brasil do tamanho do Ceará, escolhe o segundo caminho.
Teve de voltar às pressas.
Debelada a fase mais aguda da crise, então falou grosso: o Senado não votaria agora a patuscada armada por Maia.
Para endurecer, o governo precisava de apoio.
E deu de cara com sabotadores.
E se junte ao conjunto da obra a frouxidão dos governadores, a quem cabe, por óbvio, a garantia da segurança pública.
O governo federal não tinha como intervir no país inteiro.