Três imagens que não dá para esquecer 26/05/2018
- BOLÍVAR LAMOUNIER*
Três imagens me vieram hoje à memória, duas de uns 20 dias atrás e outra de há dez ou doze anos. As duas primeiras, se não me engano, apareceram na internet no mesmo dia.
A primeira mostrava o ministro Gilmar Mendes descendo os degraus da saída do STF. A seu lado, uma moça (ou seria já uma senhora) cobria-lhe a cabeça com um guarda-chuva. Mas não chovia.
A assistência que ela prestava ao ilustre ministro devia ser para proteger a avantajada área exposta que ele ostenta na superfície superior da cabeça. Muito sol nessa área talvez prejudique a atividade cerebral.
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A segunda imagem veio de Lisboa. Numa rua comum, à sombra de uma árvore, sentado numa cadeira, um senhor de terno e gravata lia o jornal enquanto um engraxate lustrava-lhe os sapatos.
Perguntei-me por que alguém decidira estampar uma imagem tão prosaica. Ao pé da foto, a explicação. Acontece que aquele pacato senhor era ninguém mais ninguém menos que o Dr. Marcelo Rabelo, presidente de nossa terra-irmã, a República Portuguesa.
A terceira cena, que presenciei de perto, ocorreu em Madri lá pelos idos de 2005 ou 2006.
Desde 2001, na condição de membro da comissão de assessoria acadêmica, compareço às reuniões anuais do Clube de Madri, entidade criada por ex-presidentes e ex-primeiros ministros com o objetivo de apoiar internacionalmente os regimes democráticos.
As reuniões são sempre excelentes. No ano a que me refiro, quando a sessão já se aproximava do fim, vários dos ex-mandatários demonstravam certa impaciência, pois tinham voos agendados para logo depois.
Esperavam apenas a leitura e se necessário a discussão da declaração final da conferência.
Tal discussão era geralmente pro forma, mas eis que, naquele caso, a comissão de redação não fora de todo feliz.
Feita a leitura do documento, três ou quatro membros do Clube suscitaram objeções. Os sinais de impaciência aumentaram, claro.
Eis senão quando o ex-presidente norte-americano, Sr. Bill Clinton, simplesmente tirou o paletó, foi ao computador, abriu o arquivo, reescreveu o documento, imprimiu-o e levou-o à mesa diretora dos trabalhos.
Feita a leitura, o texto foi aprovado por aclamação, a sessão foi encerrada e os impacientes partiram apressadamente.
A moral da história fica a critério de cada leitor.
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*Sociólogo e cientista político foi o primeiro diretor-presidente do IDESP