Movimento agora abraça pauta política 29/05/2018
- O Estado de S.Paulo
As medidas anunciadas pelo governo federal para atender às demandas dos caminhoneiros em greve no País não aliviaram a tensão em pontos de bloqueio na Região Metropolitana de São Paulo.
Nos bloqueios no ABC e na saída para o Sul do País, na Rodovia Régis Bitencourt, os motoristas diziam que o movimento ganhou na segunda-feira, 28, força política, defendiam “intervenção militar” e afirmavam que o governo federal terá de cortar em 25% os preços de todos os combustíveis na bomba, além de eliminar o PIS/Cofins.
No início da noite, o clima era de revolta em pontos da Rodovia Anchieta, no ABC, e na área de Embu das Artes, na ligação do Rodoanel com a Régis Bitencourt.
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“Desde a noite de sábado, 26, já sabíamos que esse acordo não ia atender a gente”, afirmou o caminhoneiro Alexandre Alencar, do Embu, que tem dois caminhões no protesto.
“Isso não resolve nada. Ele tem de cortar 25% em todos os combustíveis na bomba”, afirmou Alencar, diante da barraca de alimentação dos motoristas paralisados na rodovia.
Na Régis desde quarta-feira, 23, o motorista José Jari, de São João do Sul (SC), disse que os caminhoneiros vão resistir.
Na Rodovia Anchieta, em São Bernardo do Campo, também não havia o menor sinal de fim da greve dos caminhoneiros que ocupavam o acostamento e parte do canteiro central na altura dos km 23 ao 25, sentido litoral.
“Só vamos sair daqui quando o Temer sair de lá”, avisa Alexandre Alves, de 36 anos, que trabalha com um caminhão de abastecimento de combustível e tem auxiliado na triagem dos alimentos doados por comerciantes locais.
“Não sei se você está sabendo, mas hoje [terça-feira, 29], à meia-noite, os militares vão tomar conta de tudo”, dizia ele, enquanto conversa com a reportagem de dentro da van onde estão estocados os mantimentos.
A expectativa pela intervenção militar está presente no local, mas não que seja um norte, um desejo coletivo representado por algum núcleo organizado.
Na verdade, encontra-se de tudo um pouco pelo asfalto na Anchieta. Desde caminhoneiro que deixou a pauta inicial – a redução no preço do óleo diesel – para reivindicar mudanças políticas maiores até gente que mora nas redondezas e passa por lá para dar algum tipo de apoio ao movimento.
O “Fora Temer” é a única unanimidade presente em cartazes pendurados nas cercas das fábricas que circundam a região e no discurso de quem está envolvido com a greve.
“Agora ele está perdido, não imaginava que o povo ficaria do nosso lado. Isso aqui virou algo maior, as pessoas estão cansadas desse governo. De que adianta resolver a questão do óleo diesel e descontar na gasolina? Eu não sou só caminhoneiro”, afirma Gilson Antônio Benedecti, de 41 anos, sendo dez nas estradas.
Com seu veículo parado no acostamento desde o primeiro dia da greve, ele não acredita que os caminhões voltarão a circular tão cedo.
“Não enquanto o Temer estiver lá”, aponta.
BUZINAS E DESVIOS
Enquanto a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo esteve no local, presenciou motoristas que passavam e buzinavam em sinal de apoio aos grevistas, incluindo um grupo de motoboys.
Um agente da Polícia Federal Rodoviária orientava os motoristas que se aproximavam do trecho com cones, desviando o fluxo em alguns momentos para a pista central.
Na altura do km 280 da Régis, as faixas pedindo intervenção militar estão no alto da passarela e no gramado do local que serve de estacionamento para caminhoneiros.
Um caminhoneiro que não quis revelar seu nome completo, mas identificou-se como Ademir, reclamava que o prazo de 60 dias estabelecido pelo governo é o problema.
“Se o Temer colocasse na lei não os 60 dias, mas seis meses, isso aqui se esvaziava.”