O mito está nu 01/06/2018
- Mario Vitor Rodrigues - IstoÉ
Não são poucos os ângulos merecedores de uma análise crítica quando nos debruçamos sobre a paralisação dos caminhoneiros. A começar pela atuação do governo.
Por mais que Padilhas, Maruns e o próprio presidente aventurem-se em cambalhotas retóricas, fato é que a administração Temer dormiu no ponto: não se antecipou a um problema que já ganhava corpo, demorou a reagir e, quando o fez, acabou cedendo à chantagem, incentivando outros grupos a seguirem o exemplo.
Já no campo político, o oportunismo tem sido generalizado. Seguindo a estratégia do “quanto pior, melhor”, não faltou quem aproveitasse o caos para surfar no populismo, de olho nas eleições de outubro.
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De Ciro Gomes a Gleisi Hoffmann, passando inclusive pelo tucano Cássio Cunha Lima, sobraram pedidos taxativos pela demissão de Pedro Parente.
Convenhamos, nada mais natural. Estranho seria se um debate honesto ganhasse corpo embasado em uma agenda apartidária e cobrando uma maior responsabilidade por parte dos donos das empresas de caminhões.
Entretanto, nada foi mais emblemático do que a reação de Jair Bolsonaro. Melhor dizendo, as reações.
Recapitulando: logo de cara, o líder nas pesquisas afirmou ser favorável aos caminhoneiros, mas contrário ao bloqueio das estradas; depois anunciou que possíveis sanções seriam revogadas caso fosse eleito, e em seguida apelou pelo fim do movimento, elencando os prejuízos que trazia ao País. Tudo isso no espaço de 72 horas.
Insisto, o oportunismo foi generalizado. Além do mais, não faria sentido esperar de alguém que já passou por oito legendas e está há quase três décadas na vida pública um comportamento diferente.
Ocorre, porém, que não é esse o marketing de Bolsonaro. Não é o que a sua feroz militância costuma apregoar e ele próprio gosta de repetir. Bem ao contrário, o discurso oficial atesta que o “mito” veio para quebrar paradigmas.
Pois bem, se logo no primeiro fato que exigiu o seu posicionamento público o candidato se mostrou esse ioiô opinativo, mais preocupado em agradar do que em defender as suas idéias, a turma do liberalismo tropical deveria ficar preocupada.
Convenhamos, é melhor assim. Não bastassem os argumentos desconexos com o mundo moderno, tanto no âmbito econômico quanto no humano, aguentar outro estelionato eleitoral seria demais.