Bolsonaro, o bagre no mar dos robalos 11/06/2018
- JORGE OLIVEIRA - DIÁRIO DO PODER
Chamavam-se antigamente essas pessoas que tem os miolos fora de “cabeças de bagres”. Nem sei se o termo ainda existe para definir um porralouca, mas é certo que a expressão surgiu no Nordeste depois da descoberta de que o bagre é um peixe que tem um cérebro muito pequeno e uma cabeça muito grande, desproporcional em comparação ao seu corpo. O Brasil arrisca-se a ter na presidência da república um bagre.
O capitão Bolsonaro assemelha-se em tudo a essa espécie, por sinal muito saborosa lá em Alagoas, na cidade de Pilar, onde é pescado na Lagoa Manguaba.
As últimas declarações do capitão, contestadas por seus adversários, não deixam dúvidas quanto ao seu despreparo ao mudar de posições por conveniências políticas sempre que é questionado sobre os grandes problemas do país. Por exemplo: declarou- se contra o Bolsa Família.
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Agora, na posição de candidato a presidente, defende a manutenção financeira das quase 14 milhões de famílias que vivem desse dinheiro principalmente nas regiões mais pobres do país como Norte/Nordeste.
Em um de seus arroubos, disse para empresários que a solução para acabar com a violência na Rocinha, no Rio, seria metralhar a população de helicóptero.
E para proteger o povo dos bandidos, promete armas para todo mundo.
Em um país inseguro, governado por um presidente impopular, com políticos na cadeia, com o esfacelamento da esquerda, com o domínio do narcotráfico e a violência acelerada nas cidades, Bolsonaro, não resta dúvida, é um prato cheio: o justiceiro que os brasileiros querem para acabar com toda essa agonia da população. Chama-se a isso, o candidato do momento.
E esse filme é conhecido dos brasileiros. Veja: Jânio, em 1960, com a sua vassourinha, prometia varrer os corruptos do país. Deu no que deu, amargamos uma ditadura militar de vinte anos.
Trinta anos depois, apareceu o Collor, o caçador de marajás. Aproveitou-se da impopularidade de Sarney, o sufoco da inflação, da economia em coma para se projetar como candidato e ganhar a eleição.
Tinha também a seu favor o apoio da população que via no Sarney um governo ilegítimo.
Naquele momento, como agora, a nação também estava em frangalho moralmente.
O capitão também surfa nesse momento em que o brasileiro está desiludido, abandonado pelos poderes públicos, refém dos bandidos e decepcionado com os políticos da esquerda que se diziam éticos e preparados para mas terminaram dentro dos presídios – todos.
Assim a corja petista que se beneficiou da organização criminosa, formada por militantes alienados e idiotizados, transforma-se hoje no principal cabo eleitoral do capitão Bolsonaro, pois esse grupo, que dilapidou o patrimônio dos brasileiros, é que levou desesperança à população ávida, hoje, por mais um salvador da pátria.
Bolsonaro sempre foi um personagem menor da política brasileira. Homofóbico, despreparado como parlamentar – nos seus vinte anos de mandato apresentou apenas quatro projetos na Câmara – radical de direita, político de soluções radicais, tipo exterminador do futuro.
Lembra muito o Hugo Chávez, o ex-presidente da Venezuela que se elegeu em 1998 e ficou no poder durante quatorze anos, depois de mudar a Constituição do país várias vezes para se manter como presidente.
Travestiu-se de esquerda, criou a tal da Revolução Bolivariana, culpou o imperialismo norte-americano pelo fracasso do seu governo, forma de esconder as mazelas da sua administração, e aliou-se ao bloco cubano para sobreviver como um revolucionário.
Morreu e deixou um país destroçado, um povo abandonado, e amordaçado pela fome e pela miséria, que hoje procura refúgio em países vizinhos como o Brasil.
O capitão que ora desponta nas pesquisas como favorito às eleições deste ano não tem, como já demonstrou, propostas para tirar o país do atoleiro, radicaliza nas suas ideias como apresentador de programas policiais na TV, defende a tese de que “bandido bom é bandido morto”, não se aprofunda nos problemas sociais, não tem um plano econômico sequer para manter o país longe da ameaça da inflação, mas gosta de se apresentar como um novo Messias, acenando com soluções milagrosas para iludir os incautos.
Até nisso os extremos se encontram: Lula usou dos mesmos métodos.
Dizia-se ético e restaurador da moralidade quando vociferava na televisão. Está preso.
É assim que se apresentam os cabeças de bagres em uma eleição, com soluções rápidas para problemas complexos.
O mais estranho é que o discurso do capitão agrada boa parte da população como mostram as últimas pesquisas.
As pessoas esquecem que desde que o país entrou na normalidade democrática, depois da ditadura militar, já foi governado por três vice-presidentes: Sarney, Itamar e Temer, sem contar o Goulart antes de 64.
No caso do Bolsonaro se eleger, atente para algumas coisas: nesse regime presidencialista ninguém governa se não tiver uma folgada maioria no parlamento, se não fizer concessões fisiológicas no parlamento e se não encontrar soluções, meticulosamente estudadas e planejadas, para os grandes problemas sociais que afligem a nação.
No caso do Bolsonaro, ainda existe outro agravante: general não bate continência para capitão.
E é na caserna, de onde ele saiu, que existem as maiores resistências à sua candidatura.
É natural, portanto, que o bagre, nesse momento, procure fugir do cardume de robalo apenas abanando o rabo para se orientar em meio as águas turvas.
Mas o bagre, ao contrário de outros peixes, não costuma andar em bando. Por isso se expõe ao pescador com mais facilidade.