A MISTERIOSA PALAVRA DA LEI 27/06/2018
- CARLOS BRICKMANN - CHUMBOGORDO.COM.BR
Um grande político baiano, Otávio Mangabeira, dizia que, por mais que um fato fosse estranho, na Bahia havia precedente.
No Brasil também: o único país do mundo a ter Justiça do Trabalho e Justiça Eleitoral criou também três Supremos Tribunais Federais.
Um está na cabeça do ministro a quem o caso é entregue, e que prende e solta a seu critério.
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Outro é o do plenário, com os onze ministros que a Constituição determina.
O terceiro é o das turmas, cada uma com cinco ministros.
Sabe-se que o ministro Édson Facchin, ao ver que Lula seria solto pela Segunda Turma, decidiu levar seu caso ao plenário, que o julgará depois das férias.
Lula fica preso até agosto ou setembro.
Mas a Segunda Turma decidiu ontem soltar seu braço direito, José Dirceu, que Lula chamava de “capitão do time”.
O que um fez, o outro sabia.
Os recursos de ambos tinham o mesmo fundamento: o STF autorizou a prisão de condenados em segunda instância, mas não a tornou obrigatória.
Dirceu foi solto; e Lula, se o recurso fosse julgado pela Segunda Turma, talvez estivesse na rua em campanha, embora inelegível, pois é ficha suja.
Com Dirceu, foi libertado também João Cláudio Genu, ex-tesoureiro do PP.
O Brasil tem ainda outro precedente: muitos réus escolhem quem irá julgá-los.
Alguns dos condenados por tribunais regionais federais recorrem direto ao Supremo, sem passar pelo STJ.
Mas não se pode dizer que sempre ganharão por 3×2.
Ontem, por exemplo, Celso de Mello faltou.
E foi 3×1.
O NOSSO CRISTIANO
Geraldo Alckmin é contestado por Fernando Henrique, Aécio, Temer, Rodrigo Maia.
Pode se aproximar do DEM, mas não terá, por exemplo, o apoio de Ronaldo Caiado, porque preferiu se aliar a Marconi Perillo, que Caiado conhece e prefere ver longe.
É contestado por Doria, que gostaria de ser o candidato; é contestado por causa de Doria, já que tinha prometido apoio à candidatura de seu vice, Márcio França, do PSB, mas se vê forçado a acompanhar o candidato do PSDB.
Corre o risco de disputar sozinho, ou com o apoio de Marconi Perillo.
E até nisso o Brasil tem precedente: em 1950, o candidato oficial Cristiano Machado foi abandonado pelo PSD, o seu partido, o maior do país, que fez campanha pela volta do ex-ditador Getúlio Vargas.
Quando disserem a Alckmin que está sendo cristianizado, talvez pense que o estão transformando em Cristiano Ronaldo.
Mas estarão pensando em Cristiano Machado e em sua campanha que não foi.
SURPRESA!
O apresentador José Luiz Datena, astro da Rede Bandeirantes, se dispõe a ser candidato ao Senado pelo DEM paulista.
Mas há no partido quem o queira mais alto: como Luciano Huck, é bem visto pelo público, tem o dom da comunicação, junta a condição de nome conhecido à de alguém que nunca participou da política – em bom politiquês, a língua preferida dos especialistas no setor, um outsider.
Não tem escândalos.
Por que limitar-se ao Senado?
Considerando-se que a grande estrela dos partidos de centro é Alckmin, que não sensibiliza nem o presidente de honra de seu partido, há em Datena um possível candidato à Presidência, com força em São Paulo, Goiás, Bahia; capaz de atrair apoios que lhe deem tempo de TV e presença na maior parte dos Estados; e de comandar um poderoso horário eleitoral.
O SOM DO SILÊNCIO
A eleição está próxima, mas os candidatos podem mudar.
Bolsonaro, em marcha ascendente, terá pouquíssimo tempo de TV.
Marina até poderia ser forte, mas não montou estrutura para seu partido, a Rede. E também não tem tempo de TV.
Álvaro Dias, com base no Paraná, tem quase a mesma intenção de voto de Alckmin; mas também tem pouco tempo de TV e pode preferir se aliar a outro candidato.
João Amoedo, do Novo, poderia ser a novidade na eleição – mas como mostrar a cara, sem tempo de TV e com campanha curta?
Há o PT: quem sai no lugar de Lula, Jaques Wagner, Haddad?
Ciro é difícil: Lula não passaria a liderança a outro partido.
E Ciro tem tradição de começar bem, impressionar bem e falar demais.
A pergunta é: quem conseguirá transformar-se na voz da maioria silenciosa?
AQUI, TUDO IGUAL
No Congresso nada muda: apesar dos escândalos, deve haver muita reeleição.
Não há tempo (nem dinheiro) para fazer com que candidatos desconhecidos sejam lembrados.
O não-voto (nulos, brancos e ausências) crescerá, mas candidato novo dificilmente conseguirá capturá-lo.
Outra coisa que não muda é o sistema de trabalho: nesta semana, o Congresso vai parar hoje, por causa do jogo, e só volta a trabalhar na terça-feira que vem.
TUDO IGUAL, TAMBÉM
Crise?
Isso é para os fracos.
Deputados estaduais do Rio descobriram um projeto há anos esquecido pelo qual 13 mil servidores da Justiça devem ter aumento extra de 5%.
A PM do Rio está pedindo doações para colocar suas viaturas em ordem, mas não importa: que venha mais um aumento!