Enron usou gasoduto MT/Bolívia para inflar balanço e enganar investidores 25/02/2002
- Washington Post
A Enron acrescentou US$65 milhões à receita do projeto do gasoduto Mato Grosso/Bolívia, para apresentar um balanço mais otimista aos investidores.
A informação foi publicada na última semana pelo jornal Washington Post e republicda pelo jornal Los Angeles Times.
Através da subsidiária GasOcidente, a Enron implantou o gasocuto entre a Capital de Mato Grosso e os jazimentos de gás natural na Bolívia, para abastecer as duas termelétricas construídas em Cuiabá pela Pantanal Energia -- também subsidiária da falida multinacional norte-americana.
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Veja a íntegra da matéria:
Com operações em vinte países, a Enron tornou-se no início da década de 90 uma desbravadora do setor energético internacional, com projetos grandiosos e enormes investimentos, com apoio do governo americano, em locais onde nenhuma outra companhia tinha ido. Derrubou árvores da floresta tropical brasileira - um dos ecossistemas mais ameaçados do hemisfério - para passar um gasoduto.
Depois que a Enron pediu proteção contra falência, os credores e os desapontados governos estrangeiros calculam os danos causados pelos projetos internacionais da companhia. E à medida que se esclarecem os fatos sobre os projetos, fica claro quer a Enron não ganhou um tostão com os projetos, mas usou alguns deles em criativos esquemas contábeis que escondiam a verdadeira situação financeira da empresa.
Na semana passada, a Overseas Private Investment Corp., que apoiou muitos dos projetos, cancelou um empréstimo de US$590 milhões à companhia que já foi uma de suas maiores clientes. A Enron tinha perdido os prazos exigidos pela OPIC para financiar projetos no Brasil.
Uma investigação interna divulgada este mês mostrou que dois projetos internacionais, no Brasil e na Polônia, entraram na rede de parcerias "fora dos livros" da Enron, esquemas contábeis controlados pelo então diretor financeiro Andrew S. Fastow, que escondiam as enormes dívidas dos investidores.
O relatório mostrou que a Enron realizou uma operação nada ortodoxa para acrescentar US$65 milhões à receita do projeto do gasoduto brasileiro, mesmo antes de ele estar concluído, de modo a apresentar um balanço mais otimista aos investidores.
Outras parcerias no centro da investigação da Enron também estavam envolvidas no esquema. A Whitewing tinha interesses na usina de Trakya na Turquia e na Elektro, distribuidora de energia do Brasil. Outra parceira, a Ponderosa, tinha interesses na CEG, na CEGRIO e na Gaspart, companhias brasileiras de fornecimento de gás.