O baile da ilha Fiscal e a festa dos ratos 06/07/2018
- CELSO TRACCO*
Em 9 de novembro de 1889, a agonizante monarquia brasileira organizou um baile em homenagem aos oficiais do navio chileno Almirante Cochrane.
Um baile grandioso, um exagero de comidas e bebidas sem limites, para mais de 4000 participantes entre convidados e penetras.
Ocorreu na ilha Fiscal, na baia da Guanabara, pois lá se localizava a alfândega da época, onde se arrecadava dinheiro para o Erário Público.
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O nome do navio chileno era em honra a um mercenário escocês, Thomas A. Cochrane, que vendeu suas habilidades navais para as incipientes marinhas do Brasil e do Chile no período da independência.
A ilha antes da construção da Alfândega era conhecida como a ilha dos Ratos.
Seis dias após o baile, a monarquia terminou. (GOMES, L., 1889, ed. Globo).
Como último ato público um regime moribundo gastou dinheiro público com uma dispendiosa festa, para homenagear marinheiros de um outro país, cujo nome do navio era de um estrangeiro mercenário e oportunista.
Creio que a ilha deveria continuar se chamando dos Ratos.
O regime político mudou mas a essência do baile continua.
Os “ratos”, agora eleitos, seguem devorando o erário público em “bailes” diários e cada vez mais dispendiosos.
Como isso pode mudar?
Há várias respostas para essa pergunta.
Arrisco algumas:
1. Intervenção militar, golpe de Estado. Rasga-se a Constituição Federal e começamos de novo. Obviamente que isso não daria certo.
A história mostra que, principalmente na América Latina pródiga em golpes de estado, isso nunca levou a uma necessária transformação.
No início pode-se ter uma sensação de melhora, alguns políticos opositores fogem, outros são presos, mas depois a vida volta ao “normal”.
Não creio em solução de força.
2. Eleger os “líderes” carismáticos de plantão, os salvadores da pátria, os que tem a certeza de tudo e todas as soluções para nossos males seculares.
Esta opção é a que está nos primeiros lugares nas pesquisas eleitorais, com pré-candidatos autodeclarados de direita ou de esquerda.
Não importa a ideologia ou o ideário político, o importante é vender ilusões na campanha, uma vez eleito tudo será diferente.
Não creio em “salvadores da pátria”.
3. Tentar algo novo, que muitos chamarão de utópico.
As mudanças que transformam se iniciam com novas ideias e ideais.
Assim, creio que devemos incentivar a que todos votem, a lutar por uma baixa abstenção.
Não votar em branco e nem anular o voto, mas não votar em políticos tradicionais.
Votar apenas em candidatos íntegros, com novas ideias.
Creio em soluções democráticas e participativas.
Posso ter a certeza que esses, se eleitos, vão fazer as reformas que o país precisa?
Não, não posso, mas o que sei é que se os de sempre ganharem, nada vai mudar.
Nesse caso o Brasil permanecerá sendo o país do déficit fiscal para a alegria dos “ratos” e o baile continuará.
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*Economista e autor do livro "Às Margens do Ipiranga – a esperança em sobreviver numa sociedade desigual".