Desembargador militante não quer Lula na cadeia 10/07/2018
- JORGE OLIVEIRA - DIÁRIO DO PODER
Não gostaria, francamente, de usar esse espaço para dizer o que penso do nosso Brasil de hoje. Não gostaria, por exemplo, de dizer que estamos numa Casa de Noca, onde até a cafetina do bordel perdeu o comando da sua tropa.
Não gostaria de dizer que estamos sem comando e que o parlamento, a justiça e o governo derretem como manteiga em um balde de imoralidade pública.
Me recuso a acreditar que um agente infiltrado do PT tentou, nas madrugadas conspiratórias de Porto Alegre, soltar o ex-presidente Lula, o chefe da organização criminosa que esvaziou os cofres das empresas estatais comandando uma gang que vive amontoada, dormindo nos presídios.
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É difícil imaginar que um desembargador federal se acumplicie com alguns deputados para se arvorar do direito de peitar os tribunais que condenaram o ex-presidente.
E se sinta à vontade para expedir dois alvarás de soltura para tirar da cadeia o seu ex-chefe de partido, cujo governo ele serviu até ser indicado pela Dilma para a função de desembargador do TRF4.
É incompreensível que esse senhor, na qualidade de plantonista no tribunal, tenha aparecido para a nação como um aguerrido militante petista ao decidir monocraticamente e sem nenhum respaldo jurídico pela soltura do seu ex-patrão.
Aos olhos do mundo viramos uma republiqueta de bananas (nanicas). Um desembargador fere os princípios jurídicos e o PT, onde ele militou, agora quer responsabilizar o juiz Sérgio Moro por ter evitado que Lula fosse solto ao alegar que Rogério Favreto, o desembargador, era incompetente para atuar em um caso já encerrado pelo seu próprio tribunal.
Arvoram-se os militantes do partido, os advogados de defesa e parte da imprensa petista em alardear que Moro desrespeitou a hierarquia, impedindo a saída de Lula da cadeia.
A vontade que a gente tem é de soltar um sonoro palavrão para demonstrar nossa indignação com esses golpistas da “madrugada”.
Veja que indecência: deputados do PT entraram com um habeas-corpus no tribunal na sexta-feira (06.07), já fora do expediente, que acabara às 17h.
No sábado e domingo o desembargador Rogério Favreto faria no tribunal seu primeiro plantão.
No domingo, ele expede um alvará de soltura para o Lula, como se a decisão de o libertar dependesse apenas da tinta da sua caneta.
Horas depois, juízes, procuradores, promotores, ministros de tribunais e até mesmo a presidente Cármem Lúcia, indignados, apressaram-se em condenar a atitude de Favreto, desqualificando-o para atuar no caso.
Frustrados, os aliados de Lula – políticos e advogados – vão à imprensa para criticar a atitude de toda essa gente, inclusive a da Polícia Federal que recebeu a contraordem do desembargador João Pedro Gebran Neto, relator do caso, para não soltar o condenado.
E como se o mundo se resumisse à turma do PT, todos, na verdade, estavam errados.
Certos, apenas os seus defensores que tentaram dar um golpe tão certeiro que antes da emissão do alvará de soltura estavam na porta da Polícia Federal para recepcionar o chefe que iria sair da cadeia para nunca mais voltar.
O que vem ocorrendo no Brasil é fruto da banalização dos poderes.
Resquício de um governo, do PT, que dominou o país durante quatorze anos e introduziu nos tribunais seus militantes que chegaram às cortes sem a qualificação necessária para atuar nos processos com competência, sobriedade e imparcialidade.
Padecemos, também, das nomeações equivocadas para os nossos tribunais que viraram depósitos de apaniguados, de ministros que sequer passariam em um concurso público.
Volto a repetir que a forma dessas nomeações está errada, elas são perniciosas.
Não se deve deixar nas mãos de apenas presidentes e governadores nomeações para tribunais de justiça e tribunais de contas.
Os governantes passam e seus apadrinhados permanecem em seus cargos até se aposentarem prestando serviço a quem os nomeou.
Favreto é um exemplo disso.
Ex-militante do PT, integrante do governo Lula, nomeado pela Dilma para o tribunal do Rio Grande do Sul, esperou o momento certo para retribuir a gratidão por ter chegado a desembargador.
E ainda tem gente que quer perpetuar o PT no poder.