O crupiê não mudou 28/07/2018
- Mario Vitor Rodrigues - IstoÉ
Lá se vão mais de três meses desde que Lula foi preso depois de um comício eleitoral disfarçado de missa.
Se pensarmos no impeachment responsável por apear o PT do poder, então, quase dois anos.
O desgaste é inequívoco.
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A narrativa de um partido preocupado com os pobres e avesso à corrupção foi arranhada.
Contudo, embora ambos os episódios tivessem potencial para ferir de morte a capacidade de uma legenda em influenciar o debate, não se dá exatamente assim com o Partido dos Trabalhadores.
Muito pelo contrário, o petismo permanece sendo referência.
A disputa presidencial que se avizinha exemplifica bem essa realidade.
Indiretamente, a conduta de partidos e candidatos, se esses forem adversários do PT ou, em última análise, da esquerda, vem sendo pautada pelo juízo moral de quem já não reúne condições para apresentá-lo.
Pois sim, ao longo dos anos, enquanto refinou toda sorte de conchavos e maracutaias, o partido liderado por Lula contou com o aceite obsequioso de grande parte da classe artística, dos chamados intelectuais e de cientistas políticos simpáticos à causa.
E não apenas houve silêncio, mas endosso e até a defesa ferrenha de um mecanismo desenhado para viabilizar o enriquecimento pessoal e a perpetuação no poder.
Agora, entretanto, tudo mudou.
A Geraldo Alckmin, por exemplo, não é permitido fazer composições políticas para ampliar a sua capilaridade eleitoral e aumentar o tempo da propaganda na televisão.
Pouco importa se tanto Luiz Inácio quanto Dilma Rousseff usaram da mesma estratégia.
Acertos que incluam a partilha de ministérios entre aliados?
Um escândalo.
E só sendo muito desavergonhado para tergiversar sobre um tema espinhoso às vésperas do pleito, como no caso da contribuição sindical.
Cinismos à parte, talvez não exista maior prova de tal influência nessa eleição do que a própria candidatura de Jair Bolsonaro.
A construção do seu fiel eleitorado se deu pela reprodução de gatilhos comuns ao petismo: dividir para conquistar, a manipulação do rancor, a fabricação de um líder e a intransigência como premissa.
Ponto esse, aliás, bem sustentado por Janaína Paschoal durante a última convenção do PSL.
É natural que uma hegemonia política de quase duas décadas deixe sinais.
É de se lamentar, porém, que continue dando as cartas.
Pior mesmo, só a constatação de que nem o próximo pleito será capaz de remediar esse cenário.