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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

PT puro-sangue esquerdista esconde nos Estados aliados golpistas
09/08/2018 - BLOG DE REINALDO AZEVEDO

Quem se liga ao discurso oficial do PT logo pensa: “Eis aí! Os petistas realmente cumprem a palavra e não querem conversa com o que eles chamam ‘golpistas’. Desta vez, eles nem têm na chapa aquela dose de direitismo ou conservadorismo que servia para amenizar a pimenta esquerdista do discurso”.

Afinal, em 2002 e 2006, Lula tinha como segundo na chapa o empresário José Alencar. Em 2010 e 2014, Michel Temer.

Desta feita, assim que Lula receber o cartão vermelho do TSE, Fernando Haddad assume a candidatura, com Manuela D’Ávila como vice, numa chapa esquerdista puro-sangue — sem trocadilho, claro, com o que se passa na Nicarágua e na Venezuela.


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No apoio luxuoso, o ultrarradical PCO… Deve agregar uns 300 votos ao combinado, mas serve de credenciais para deixar claro: “Vejam quem somos desta vez”.

Vamos ser claros! Não é por boniteza, mas por necessidade. Como o PT resolveu levar a candidatura de Lula até o fim, os partidos que o PT chama “golpistas” procuraram outro caminho.

Nem o quase-esquerdista PSB se aliou aos companheiros. Depois de dura negociação, o partido desertou do acordo com Ciro Gomes e declarou neutralidade.

Ainda assim, pesou a questão regional: o PSB cedeu para tentar garantir a reeleição de Paulo Câmara em Pernambuco. Os petistas retiraram a candidatura de Marília Arraes para apoiar o pleito do governador. Em troca, a isenção na disputa nacional.

Mas essa, digamos, “pureza” imposta pela necessidade não se de verifica nos Estados. Aí não tem essa conversa de golpista.

Levantamento publicado pelo Estadão ontem evidencia que os petistas são bastantes promíscuos nos Estados. Aliás, o próprio Lula já havia deixado claro que era preciso, vá lá, “perdoar”.

Em seis Estados, o partido é cabeça de chapa de coligações de legendas que apoiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff: Minas, Bahia, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Acre.

Em outro nove, integra coligações que tem representantes dos ditos golpista na cabeça: Tocantins, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas, Amapá, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

Nesse caso, a conversa do “golpe”, que certamente fará parte do discurso da campanha presidencial, não conta. MDB, PSD, PTB, PR, Rede… Como diria Tim Maia, vale tudo. O importante mesmo é tentar ganhar.

E que se note: se todas as legendas do país, com as possíveis exceção de PSDB e DEM, quisessem se aliar o PT, as portas estariam abertas. Nem o MDB estava descartado, desde, claro!, que renunciasse a Michel Temer. Seria uma impossibilidade prática, não de princípio.

Tomem o caso de Alagoas: o mais fiel escudeiro de Lula no Estado e o MDB de Renan Calheiros. Os petistas vão apoiar a tentativa de reeleição de Renan Filho.

E como explicar a contradição? A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tem uma explicação que a gente poderia dizer ser de natureza quase religiosa a respeito.

Desde que haja arrependimento e abjuração, Lula perdoa os traidores, como um Cristo encarcerado. Ela explica, à moda Gleisi:

“Não há (contradição) porque estamos deixando claro que eles têm de apoiar Lula. Em todos esses casos, tem apoio a Lula e uma autocrítica inclusive.”

Ah, bom, se é com autocrítica, então tudo é permitido. Vale à máxima, ao avesso, que não está, mas poderia estar, em Irmãos Karamazov, de Dostoiévski: “Se Lula existe, então tudo é permitido”.

Assim, entende-se que ser ou não ser golpista não é uma questão que remete ao passado, às escolhas que essas legendas fizeram, mas ao presente e ao futuro: deixa de ser merecer essa designação aquele que se ajoelhar aos pés do PT e bater no peito: “mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”.

NEM SEMPRE ÀS CLARAS

E olhem que as coisas nem sempre são feitas com clareza solar, mesmo num Estado como o Ceará. Ali, o MDB apoia informalmente a reeleição do governador petista Camilo Santana. Os petistas mandaram pelos ares a candidatura à reeleição do senador José Pimentel.

Abre-se o caminho para a reeleição do atual presidente do Senado, Eunício Oliveira, que pertence àquela banda do MDB com a qual Ciro diz não querer conversa, embora seu grupo político faça parte do arranjo.

Camilo dará palanque também a Ciro, e Cid, seu irmão e coordenador de sua campanha, concorre à outra vaga ao Senado.

Em Minas, o PMDB só não entrou no trem de Fernando Pimentel por causa de Dilma Rousseff, que concorre a uma vaga ao Senado e diz não querer os “golpistas” do partido.

Mas com “golpistas” de outras legendas, aí tudo bem!

Em Sergipe, a petista Eliana Aquino é vice na chapa de Belivaldo Chagas, do PSD de Gilberto Kassab, que é ministro de Temer — e, é bem verdade, integrou também o ministério de Dilma.

Wellington Fagundes, do PR, disputa a reeleição em Mato Grosso. Votou, como senador, a favor da deposição de Dilma. No caso, os petistas têm uma desculpa: “Ah, mas ele foi contra a cassação dos direitos políticos”. Ah, bom. No combo, entram PMN, PRB e PROS.

A melhor explicação para o conjunto da obra é mesmo a do presidente do PT nesse estado, Valdir Barranco. Como disse ter sido impossível formar uma aliança com partidos de centro-esquerda, foi preciso fazer essa opção.

Ele justifica: “A política está em permanente mudança. Neste momento, a melhor tática é essa. Sem o ‘chapão’, não teríamos cociente eleitoral para eleger deputados.”

Entendi.

“Sapo pula por necessidade, não por boniteza”.

Ou ainda:

“Não atire pedra naquele que hoje você chama de golpista. Ele pode ser seu aliado amanhã.”

A política, enfim, está em permanente mudança, como diria Barranco.

E isso não muda.


  

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