Daciolo tem o Senhor Jesus, e Álvaro Dias, o Senhor Moro 10/08/2018
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
A Band realizou ontem o primeiro debate entre candidatos à Presidência da República na disputa deste ano.
Participaram 8 dos 12 postulantes: Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede).
O ausente da noite, e sem lamento dos presentes, foi o PT. Apanhou de quase todo mundo e não pôde se defender.
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Por que o tal Daciolo estava lá, e João Amoedo (Novo) não?
Já chego lá.
Antes, comentarei alguns desempenhos.
No critério do ridículo, Álvaro Dias só perdeu para Cabo Daciolo. Se este emendava uma “para honra e glória do Senhor Jesus” a cada bobagem que dizia, Dias não fazia por menos: “Para honra e glória do senhor Sérgio Moro”.
Prometeu nomear o juiz Ministro da Justiça umas 200 vezes. Vem fazendo isso há tempos. E não foi desautorizado, até agora, pelo coruscante magistrado, que chega a competir com os holofotes…
No momento mais engraçado da noite, o destrambelhado Daciolo acusou Ciro Gomes de ser fundador do “Foro de São Paulo”, o que é mentira, e pediu que o pedetista explicasse o que é “Ursal”…
E Ciro, mal contendo o riso:
“O que é o quê? O que é isso?”
O ex-bombeiro, ora deputado, com gramática peculiar, explicou tratar-se da “União das Repúblicas Socialistas da América Latina”.
Ciro, então, afirmou:
“A democracia é maravilhosa, mas tem seu preço”.
Daciolo acabou sendo útil a Jair Bolsonaro.
E nem tanto pela dobradinha que chegaram a ensaiar.
É que, no contraste com o deputado do Patriota, até o “Bolsomito” assume ares de Schopenhauer…
Não!
O candidato do PSL não disse nada de relevante e não explicou uma miserável de suas propostas.
Mas demonstrou que sabe se conter.
Conseguiu driblar o despreparo com generalidades sobre isso e aquilo.
Até tentava sorrir.
A minha pegada é psicanalítica: acho que Bolsonaro se via no espelho.
Ele certamente ouvia a própria voz quando o bombeiro falava e, digamos, viu materializar-se, no desempenho do outro, o seu próprio ridículo.
Guilherme Boulos cumpriu o papel de “o socialista da turma”: contra os ricos, os bancos, os demais candidatos, todos eles “tons de Temer”, expressão repetida à exaustão.
Encarnava o Lula de 1989, com a gramática no lugar, mas não as ideias.
A realidade mudou, mas está ali um esquerdista em construção.
Henrique Meirelles tem o que dizer, mas ainda está pouco à vontade: tentou um tom um pouco mais agressivo, mas o figurino não se ajusta à sua fala.
Aquele que é, provavelmente, o único verdadeiramente liberal do grupo apelou mais de uma vez ao governo Lula para exaltar os próprios feitos.
Geraldo Alckmin (PSDB) foi quem vestiu melhor o figurino “presidencial”.
De longe, foi o que adjetivou menos e detalhou mais as propostas.
Como é sereno e fala com desenvoltura, acabou tendo um bom desempenho em meio às falas desencontradas e à pletora de generalidade da maioria dos adversários.
Ciro demonstrou a retórica azeitada de sempre — é quem tem o discurso mais arrumado, goste-se ou não do que diz —, mas o formato não permitiu que desenvolvesse o seu melhor.
Marina Silva foi Marina Silva, mas, como já notei, ela anda com menos clorofila.
Parece estar cada vez mais em outra dimensão.
Resolveu assumir o papel de ombudsman dos demais candidatos e se saiu com uma patetada ao tentar pegar no pé de Alckmin por causa do apoio do centrão:
“A forma como se ganha determina a forma de governar”.
É?
Bom saber.
Como Marina só se coligou com o PV, se ela ganhar, governará sem ninguém, como ditadora.
E por que Amoedo não estava?
Porque o Artigo 46 da Lei Eleitoral determina:
“Independentemente da veiculação de propaganda eleitoral gratuita no horário definido nesta Lei, é facultada a transmissão por emissora de rádio ou televisão de debates sobre as eleições majoritária ou proporcional, assegurada a participação de candidatos dos partidos com representação no Congresso Nacional, de, no mínimo, cinco parlamentares, e facultada a dos demais (…).
Emissoras deveriam ser livres para convidar quem lhes desse na telha.