Lula é apenas um presodenciável 17/08/2018
- MARCO ANTONIO VILLA*
Desde o final dos anos 1970, Luiz Inácio Lula da Silva está presente na cena política. Como presidente de sindicato liderou três grandes greves. Todas fracassadas. Porém, aparecia como vitorioso, o dirigente autêntico dos metalúrgicos, mesmo derrotado.
Em 1982, ficou em quarto lugar, na eleição para o governo do estado de São Paulo. Mesmo assim, foi considerado o vencedor moral.
Tinha na imprensa e na universidade devotos que o transformaram em símbolo maior do novo Brasil que surgia em pleno processo de redemocratização. Candidatou-se à Assembleia Constituinte.
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Foi eleito com uma grande votação — o PT fez campanha quase que exclusivamente para ele. Era uma forma de registrar que não aceitava qualquer tipo de concorrência, especialmente no “seu” partido.
Teve uma atuação pífia na Constituinte. Notabilizou-se pelas noitadas acompanhado de parlamentares, um deles teve papel central na confecção da nova Constituição.
Desiludiu-se do Parlamento. Lá tinha de apresentar qualidades que não possuía. Odiava ler, debater e encontrar saídas para as divergências. Desejava — e não conseguia — ser idolatrado. Desprezava ser “apenas” um constituinte.
Candidato à Presidência da República, surpreendentemente foi ao segundo turno, porém não conseguiu enfrentar as tensões daquele momento.
No debate final que antecedeu à eleição, foi derrotado pelo seu oponente, Fernando Collor.
Mas logo seus seguidores apresentaram outra versão: Lula estava abalado emocionalmente e foi prejudicado pela edição do debate, no dia seguinte, realizado pela emissora que promoveu o evento — o que é uma falácia.
Concorreu e perdeu duas vezes enfrentando Fernando Henrique Cardoso. Como de hábito, as derrotas — as duas no primeiro turno! — foram transformadas em vitórias.
Na quarta tentativa, em 2002, apresentou-se com novo figurino. O ídolo tinha descido à terra. Era — momentaneamente — um simples mortal. Venceu.
Contou com a ajuda indireta do seu opositor nas duas eleições anteriores que fez corpo mole, desinteressando-se em eleger seu sucessor.
Governou despoticamente. Organizou o maior esquema de corrupção da história. Teve como princípio não ter princípio. Cooptou por meio do uso de recursos públicos grande parte da elite política e econômica.
Elegeu duas vezes Dilma Rousseff.
Graças à Lava Jato acabou na cadeia. Deve por lá permanecer. Hoje é um "presodenciável", nada mais.
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*historiador, escritor e comentarista da Jovem Pan e TV Cultura. Professor da Universidade Federal de São Carlos (1993-2013) e da Universidade Federal de Ouro Preto (1985-1993). É Bacharel (USP) e Licenciado em História (USP), Mestre em Sociologia (USP) e Doutor em História (USP)