O PMDB sinalizou ontem à noite para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que pretende ocupar papel de protagonista na disputa presidencial de 2010. O recado foi dado pelo presidente nacional da sigla, deputado Michel Temer (SP), durante jantar que o PMDB ofereceu para o petista. Mesmo afônico, Temer anunciou a disposição do seu partido de ter candidato à sucessão do presidente Lula.

¨Não sei se é o estado febril que está me dando coragem para dizer na frente do presidente que está na hora de o PMDB ter um projeto de poder para 2010¨, afirmou Temer, segundo relato de peemedebistas presentes ao jantar.

Lula discursou horas depois de Temer, mas respondeu ao peemedebista. Disse que não pode ser candidato em 2010 e observou que não sabe como estará o cenário político daqui a quatro anos.


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Lula também fez elogios rasgados ao PMDB pelo apoio ao seu governo e a alguns dirigentes por terem ficado do seu lado mesmo em momentos mais difíceis o que animou os defensores da candidatura própria.

O presidente ressaltou que a aliança com o PMDB é estratégica e minimizou a divisão interna da legenda ao citar o exemplo do PT. ¨Se o meu partido tivesse só dois deputados teria divergência¨, brincou.

E usou da própria experiência para enfatizar que as divergências são naturais. ¨Sou casado com dona Marisa há 33 anos e tivemos divergências ao longo desse período, mas eu não largo dela de jeito nenhum. Mesmo se ela quiser, eu não a deixo. A coalizão é para valer. Sempre quis ter o PMDB como um parceiro de destaque¨, disse.

Afagos

O presidente procurou aparar as arestas com alguns quadros do partido com quem ele teve divergências recentes. Ao ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim, Lula lembrou que fez todos os esforços para que ele fosse seu vice na chapa que o reelegeu, mas que isso não foi possível porque as regras da eleição não permitiram.

Lula ressaltou que tem ¨grande apreço¨ por Jobim. Sentado longe da mesa do presidente, Jobim apenas sorriu. A relação entre os dois se desgastou depois que Lula abandonou Jobim na disputa pela presidência do PMDB favorecendo Michel Temer.

Paes de Andrade também recebeu elogios públicos do presidente. Embaixador do Brasil em Portugal no primeiro mandato do presidente Lula, o ex-deputado ficou de fora do governo neste segundo mandato. No discurso, Lula destacou que admira muito o ex-deputado e lembrou que ele é presidente de honra do PMDB.

Até mesmo o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) e o ex-governador Orestes Quércia (PMDB-SP) foram citados por Lula como referências na política brasileira. ¨Quem não votou em Quércia em 74 e no Jader em 78?¨, questionou.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP), que também tiveram atritos com Lula por terem sido substituídos na interlocução com o Planalto por Michel Temer, foram os mais citados por Lula.

Segundo relato de peemedebistas, Lula disse que Sarney é o único ex-presidente que sabe se comportar como tal. Em reduto peemedebista, o recado foi interpretado como uma indireta a Itamar Franco. E que Renan esteve ao seu lado em todos os momentos.

Gafes

O jantar não foi bem digerido, no entanto, por dois ministros. Lula se esqueceu de citar os nomes de Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) e Reinhold Stephanes (Agricultura) na introdução do seu discurso. ¨Quero aqui agradecer aos ministros Silas Rondeau, Hélio Costa, José Temporão, Walfrido e quem mais mesmo?¨, perguntou. O ¨público¨ gritou: ¨O Geddel, o Stephanes¨. ¨Também eles não estão na mesa e não me deram nominata¨, justificou Lula.

Também chamou a atenção o discurso do governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), considerado interminável, que representou os governadores presentes.

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