Bolsonaro x Haddad no segundo turno 19/09/2018
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Jair Bolsonaro (PSL) com 28%; Fernando Haddad (PT), com 19%; Ciro Gomes (PDT), com 11%; Geraldo Alckmin (PSDB), com 7%, e Marina Silva (Rede), com 6%.
A pesquisa Ibope divulgada na noite de ontem evidencia que o país caminha para um confronto de brasileiros que não se falam.
Tudo vai confirmando aquele que é o cenário que sempre antevi: a aniquilação do centro político — ao menos nessa disputa.
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Sim, claro!, 2014 ainda está aí a nos advertir contra resultados de véspera, mas, vamos convir, desta feita, o cenário se mostra um tantinho diferente.
O confronto que se anuncia é o resultado mais claro dos métodos empregados pela Lava-Jato.
Num extremo das opiniões, a mensagem foi lida assim: “Se ninguém presta, e todo mundo é igual, Lula é melhor".
Antevi tal ocorrência em coluna na Folha no dia 17 de fevereiro do ano passado.
Ali eu alertava para práticas que estavam ressuscitando Lula e o PT politicamente.
Muito gente achou que se tratava de um delírio.
Bem, Lula só não será presidente de novo porque impedido pela Justiça, não pelos eleitores.
Se alguém duvidava de sua capacidade de transferir votos, não precisa duvidar mais.
No outro extremo, a leitura foi a seguinte:
“Se ninguém presta e todo mundo é igual, então vamos procurar o que há de mais diferente na praça”.
E Jair Bolsonaro pareceu suficientemente diferente porque esse público não queria apenas alguém tido como “fora do esquema”.
Era preciso ter virulência.
O que passou a contar é “dar uma resposta a essa turma” que está aí.
O centro, mais esfacelado do que seria prudente, ainda assim se reúne em torno de Geraldo Alckmin.
Ocorre que, até agora, a racionalidade resolveu desertar das eleições.
As soluções para problemas difíceis são sempre complexas mesmo, não?
Ocorre que não há paciência para teretetê: Bolsonaro anunciou que deixaria a economia com um economista, e o resto, se eleito, será com ele: combater a ideologia de gênero, combater os bandidos, combater os corruptos.
E pronto!
Notem: o candidato cresce também nos estratos populares, mas suas melhores marcas estão entre os mais ricos e os universitários, evidenciando que aqueles que costumam atuar como filtros contra arroubos de populismo deixaram de exercer esse papel.
O voto no “capitão” virou a aposta contra os políticos, que é defendida pela Lava Jato — não por acaso, a operação recebe mais apoio justamente nesses nichos.
Mas não poderia ter surgido um “outsisder” autêntico, de verdade, que não fosse deputado há 28 anos e que tivesse maior domínio da, digamos, “coisa administrativa”?
Eles surgiram.
Mas ninguém diz as coisas que Bolsonaro é capaz de dizer.
Existe o voto da raiva, estimulada, reitero, pela Lava Jato e por setores da imprensa.
Nesses territórios, qualquer explicação de natureza legal, por exemplo, fica com cheiro de tolerância com a corrupção.
E os que estão com menos paciência para atentar para aspectos jurídicos são justamente aqueles que teriam mais condições de entender as explicações.
Eu já ouvi médico a defender voto em Bolsonaro justamente porque sua crueza em administração e economia seria sinônimo de pureza — e, por alguma razão, daí nasceria a eficiência.
Seria dispensável eu indagar se o doutor em questão entregaria seu abdômen a um especialista, ainda que não fosse um anjo, ou a um leigo de comportamento impecável.
A raiva é inimiga do pensamento.
Ela só é boa conselheira daquele que instrumentaliza o ódio alheio em serviço próprio.
Nas simulações de segundo turno, há dois empates numéricos — entre Haddad e Bolsonaro, em 40% e entre este e Geraldo Alckmin, em 38%; uma vitória do candidato do PSL, contra Marina (41% a 36%) e um empate técnico do capitão reformado com Ciro Gomes, com o pedetista numericamente à frente: 40% a 39%.
Há 14 dias, Bolsonaro só empatava com o petista.
Perdia de todos os outros.
O empate com Haddad se mantém.
Também isso aponta para um afunilamento entre as duas candidaturas.
A índice de rejeição ainda parece favorável a Haddad: 42% a 29%, mas é sabido que isso costuma acompanhar a curva de crescimento do candidato.