Semimorto no Ibope, Ciro renasce no Datafolha 20/09/2018
- JOSIAS DE SOUZA - UOL
Num intervalo de pouco mais de 24 horas, Ibope e Datafolha despejaram na praça dados frescos sobre a corrida presidencial.
No atacado, detectam o mesmo sinal: a polarização entre Bolsonaro e Haddad. No varejo, expõem pelo menos uma diferença notável, fora da margem de erro.
Num levantamento, Ciro aparece semimorto. Noutro, permanece vivo na briga por uma vaga no segundo turno.
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Ciro manteve-se estático nas duas pesquisas: 11% no Ibope, 13% no Datafolha. A diferença está no movimento de Haddad.
No Ibope, o preposto de Lula deu um salto de 11 pontos percentuais. Bateu em 19% das intenções de voto, abrindo sobre Ciro um abismo letal de oito pontos.
No Datafolha, o poste petista avançou três casas. Foi a 16%, distanciando-se apenas três pontos percentuais de Ciro.
Como a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais — para cima ou para baixo —, a dupla estaria ainda em situação de empate técnico.
O mais importante na leitura de uma pesquisa é enxergar os movimentos que ela insinua.
A transferência de eleitores de Lula para Haddad fica evidente nas duas sondagens. E não parece ter batido no teto, eis o movimento mais relevante.
Entretanto, dependendo do instituto, a candidatura de Ciro pode estar na UTI, respirando por aparelhos, ou na enfermaria, com os sinais vitais preservados.
Para avançar, Ciro terá de conquistar votos do eleitorado de centro, hoje acomodado no cesto de rivais como Alckmin e Marina.
Há diferenças também nos cenários de segundo turno.
No Ibope, Bolsonaro (39%) encosta em Ciro (40%). No Datafolha, Ciro ainda aparece como único candidato que venceria todos os rivais.
Num embate direto contra Bolsonaro, prevaleceria com seis pontos de frente: 45% a 39%. Há dez dias, essa distância era de dez pontos.
Numa disputa em que quatro de cada dez eleitores admitem mudar de voto, a informação sobre o grau de competitividade no segundo turno é valiosa.
Permite pelo menos que Ciro continue fustigando Haddad com perguntas como a que fez na quarta-feira: "Se houver uma crise grave, ele vai a Curitiba?"
De resto, os dois institutos trouxeram a mesma aferição da curva ascendente de Bolsonaro.
O capitão oscilou dois pontos para o alto. Amealhou 28% das intenções de voto, cristalizando-se como o polo anti-PT.
Quanto aos outros candidatos, as diferenças situaram-se dentro da margem de erro.
Nos dois institutos, Alckmin e Marina, abaixo dos dois dígitos, saíram da disputa pela vaga de adversário de Bolsonaro no segundo round.
Numa campanha presidencial de quinta categoria, marcada pelo excesso de raiva, as pesquisas acabam ganhando mais cartaz do que as ideias.
As estatísticas têm valor e merecem toda a atenção. Não é razoável que apenas candidatos e financiadores disponham dos dados. O eleitorado tem direito à informação. E pode fazer com ela o que bem entender.
Mas do jeito que a coisa anda, quando perguntarem ao brasileiro em quem pretende votar ele vai acabar respondendo que está em dúvida entre o Datafolha e o Ibope.
Verba pública que bancou candidatura cenográfica de Lula não foi devolvida
Até o momento, o PT já gastou em sua campanha presidencial algo como R$ 26 milhões. Dinheiro majoritariamente público. O grosso serviu para cobrir despesas da candidatura-fantasma de Lula.
E o partido trata a verba do contribuinte como pasta de dente que deixou o tubo. Não cogita devolver. Incorporou as cifras à contabilidade da campanha do substituto Fernando Haddad. E espera que tudo fique por isso mesmo.
Todos no PT — do porteiro aos dirigentes — sabiam que Lula seria proibido de disputar o Planalto.
O partido estava tão ciente de que a Justiça Eleitoral barraria o seu ficha-suja que enfiou na chapa um candidato-laranja: Fernando Haddad.
A insistência de Lula em prolongar a polêmica sobre sua falsa candidatura teve o propósito de ludibriar o eleitor.
Sob instruções de Lula, mobilizou-se uma infantaria de advogados para esticar um processo sabidamente inviável.
Por quê?
A polêmica dava contornos emocionais ao caso, preparando o ambiente para a transferência de votos de Lula para Haddad.
As pesquisas sinalizam que o cambalacho pode ser um sucesso.
Se nada for feito, o PT terá atingido o ápice da malandragem perfeita: retirou do bolso do eleitor o dinheiro usado para ludibriar o mesmo eleitor.
É como se a verba pública, nas mãos do petismo, fosse dinheiro gratuito.