Um general do barulho 23/09/2018
- Ary Filgueira - ISTOÉ
Num momento em que Bolsonaro quer passar imagem conciliadora, seu vice, o general Mourão, põe mais lenha na fogueira, criticando de índios, negros a mulheres chefes de família
Há um grave problema de hierarquia no comando da campanha de Jair Bolsonaro (PSL). Há um general que resiste a cumprir as ordens de seu capitão.
Nas casernas, o general manda e o capitão obedece, mas na lógica da política é o capitão candidato à Presidência quem manda no general que escolheu para seu vice.
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Porém, desde que o capitão da reserva Bolsonaro levou uma facada e convalesce no hospital, seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão, ensaia se rebelar e sair em voo próprio pelo front da batalha.
E, nessa atabalhoada rebeldia, desfere com a língua golpes que, politicamente, vêm provocando aflições a Bolsonaro, quase equivalentes aos da recuperação da sua saúde.
A última pérola dita por Mourão agitou o comando da campanha do PSL.
Em um debate promovido em São Paulo pelo Sindicato do Mercado Imobiliário (Secovi), ao tentar fazer a defesa da família tradicional, composta por pai, mãe e filhos, o general disse que famílias pobres onde os filhos “são criados pela mãe e pela avó” são “fábricas de desajustados” que acabam servindo ao narcotráfico.
Mourão ignorou um triste dado da realidade brasileira.
Atualmente, cerca de 11 milhões de lares são comandados por mulheres, pela ausência, por diversos fatores, da figura paterna.
A declaração de Mourão provocou reação nas redes sociais e reforçou ainda mais a campanha das mulheres contra Bolsonaro.
Não foi a única vez em que Mourão desferiu golpes pesados com sua descontrolada língua.
Ainda quando estava na ativa, ele manifestou-se a favor da hipótese de um golpe, cujos simpatizantes preferem agora chamar de “intervenção militar”.
Numa palestra na Loja Maçônica Grande Oriente, em 2017, ele chegou a dizer que diante de uma situação em que os fatos são vistos com “temor e tristeza”, tal possibilidade seria possível.
“A gente diz: ‘Por que não vamos derrubar esse troço todo?”
Na época, o então ministro da Defesa, Raul Jungmann, chegou a cogitar uma punição.
Desistiu diante do fato de que Mourão estava próximo a ir para a reserva.
Mais recentemente, já como vice de Bolsonaro, ele voltou a falar na hipótese de “autogolpe”, caso o governo verificasse a existência de uma situação de total “anarquia”.
Sugeriu também a redação de uma nova Constituição por um grupo de “notáveis”, sem a eleição de uma Assembleia Constituinte.
De seu leito, Bolsonaro preocupa-se com a desenvoltura de seu vice.
Logo depois da facada, sem consultar ninguém da campanha, Mourão ameaçou ir à Justiça requerer a possibilidade de participar dos debates e entrevistas diante da impossibilidade de ida do candidato.
A atitude do general irritou Bolsonaro, que decidiu colocar o deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS) para monitorar seus passos.
Com um vice desses, ele não precisa de inimigos.
O BOQUIRROTO MOURÃO
O general da reserva Hamilton Mourão fala o que vem à cabeça sem pensar muito nas conseqüências:
INTERVENÇÃO MILITAR
“Ou as instituições solucionam os problemas políticos, com o Judiciário retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso (uma ação militar).”
Dia 16 de setembro de 2017
INDOLÊNCIA E MALANDRAGEM
“Temos uma herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano”.
Entrevista em Caxias do Sul (RS)
AUTOGOLPE
“Quando você vê que o país está indo para uma anomia, anarquia generalizada, que não há mais respeito pela autoridade, pode haver um autogolpe por parte do presidente com apoio das Forças Armadas”.