Ainda é só chute 24/09/2018
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Faltam duas semanas para o primeiro turno das eleições de 2018. É claro que há uma tendência esboçada de segundo turno entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad, do PT.
Pode mudar? Bem, é claro que pode. Basta voltar os olhos para 2014 para saber que há a possibilidade de o eleitor preparar surpresas na boca da urna.
Sempre é possível malhar os institutos de pesquisa, acusando-os de manipulação. É parte da gritaria própria de períodos eleitorais, ainda mais em tempos de redes sociais.
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Dia desses, descartando a existência de um complô para adulterar as urnas e fabricar um resultado diferente da vontade do eleitor, o presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, afirmou que há quem acredite em Saci Pererê.
Bem, eu diria que o travesso nativo é só o ente mais ingênuo que assombra certas mentalidades.
Há verdadeiros malandros disfarçados de pensadores a alimentar a paranoia de desinformados cheios de certeza.
Bem, o fato é o seguinte: quem quer que vença a disputa de 2018, o que se terá é a vontade da maioria dos votantes. E pronto!
Será o presidente legítimo do Brasil. Se cumprir a Constituição e as leis, conclui o mandato. Se não, muito provavelmente, não.
Candidatos não concorrem segundo as regras da democracia para depois governar como ditadores, não é mesmo?
Não que aqui e ali não se percebam certas vocações… Sigamos.
Ainda que alguns patriotas já se preparem para abandonar navios, o fato é que, por incrível que pareça, ainda não dá para dizer que a sorte está lançada.
Em 2014, o eleitor reservou surpresas.
Pesquisa Datafolha divulgada no dia 24 de setembro, a 11 dias do primeiro turno, que, há quatro anos, se deu no dia 5 de outubro, registrava Dilma Rousseff (PT), com 45% dos votos válidos; Marina Silva (Rede), com 31%, e o tucano Aécio Neves, com 21%.
Computadas as urnas, a petista ficou com 41,59% dos válidos; o tucano, com 33,55%, e Marina, então concorrendo pelo PSB, com 21,32%.
“Ah, o Datafolha errou feio, né?”
Bem, o Ibope do dia 23 de setembro dava praticamente o mesmo resultado do Datafolha: Dilma com 43,1% dos válidos; Marina, com 33%, e Aécio, com 21%.
A verdade é que parte considerável do eleitorado decidiu na hora H.
Nesta segunda, o Ibope divulga uma nova pesquisa.
Vamos ver se é possível notar algum movimento.
Em 2014, Marina teve uma ascensão meteórica depois que assumiu a titularidade da candidatura, com a morte de Eduardo Campos num acidente aéreo.
Chegou a encostar em Dilma — 33% a 37% no Ibope de 3 de setembro e 34% a 35% no Datafolha da mesma data —, mas os institutos apontaram registraram a tendência de queda depois que o PT deu início a um forte trabalho de desconstrução do seu nome.
Quatro das estratégias em voga têm potencial para interferir no curso dos fatos.
O tucano Geraldo Alckmin optou pela desconstrução da figura de Jair Bolsonaro (PSL).
Na sociedade civil, surgem correntes fortes e organizadas contra o seu nome, algumas de caráter suprapartidário.
O tucano também alerta para o risco que representaria, na sua visão, a eventual vitória do petista Fernando Haddad.
Mas, por óbvio, sabe que precisa ganhar votos do centro e da direita se anseia um lugar no segundo turno.
Bolsonaro tem uma militância aguerrida na Internet, mas não vence a eleição só com ela.
Parte do seu eleitorado certamente não gostou de saber que seu guru econômico flerta com a volta da CPMF — o que o candidato descartou.
O bolsonarismo contra-ataca não exatamente com uma resposta a Alckmin, mas com a pregação de que é preciso liquidar logo a fatura e insiste na possibilidade de vencer no primeiro turno.
Nem mesmo os números mais favoráveis ao candidato apontam para essa possibilidade.
Mas seus entusiastas apostam na existência de um voto encoberto, que seria pró-Bolsonaro, mas teria receio de revelar.
Duvido que isso exista.
Tenho visto bolsonaristas a se pronunciar sem vergonha nenhuma.
Haddad continua colado a Lula porque o partido avalia que o potencial de transferência de votos ainda não se realizou plenamente.
Segundo o Datafolha, entre os indecisos, 45% dizem que votariam com certeza num candidato indicado por ele, e 15%, que poderiam fazê-lo.
Nesse grupo, no entanto, 68% ainda não sabem quem o ex-presidente apoia.
Entre os eleitores com ensino fundamental, 47% votariam com certeza de acordo com a orientação de Lula, mas 49% não sabem que o ex-prefeito de São Paulo é esse candidato.
No grupo com renda mensal menor a dois salários mínimos, os índices são de 45% e 40%, respectivamente.
O candidato do PT tem uma outra vantagem: 44% dos eleitores ainda não sabem quem é ele.
É o menos conhecido dos cinco postulantes mais bem-colocados nas pesquisas.
Notem: sempre que os adversários do PT insistem em ligar o nome do candidato ao de Lula, podem estar prestando um serviço involuntário ao partido — ainda que, como é natural, tal associação venha escoltada por fatos negativos, como a prisão do ex-presidente e as acusações ligadas ao petrolão.
Ciro Gomes (PDT) vive uma situação que não foi antevista por analistas, aliados ou adversários.
Como o seu discurso é inequivocamente de esquerda, parecia razoável supor que parte considerável de seus votos migrasse bem depressa para Haddad.
Ciro tem resistido. E isso tem servido para balizar a estratégia do candidato: ele decidiu bater em Haddad, apontando a sua inexperiência e também tem-se apresentado como o antibolsonarista mais eloquente, associando o pleito do candidato do PSL ao nazismo, não evitando nem mesmo evocar a figura de Hitler.
Assim, se Bolsonaro pretende ser o antipetista por excelência, Ciro se oferece para ser o antibolsonarista mais qualificado.
Nas simulações de segundo turno do Datafolha e do Ibope, ele venceria o deputado, que fica em empate técnico com Haddad.
Assim se dará a reta final: Bolsonaro insistirá no antipetismo e falará em vitória no primeiro turno; Alckmin alertará contra o caos de uma disputa entre o capitão reformado e o PT, com ênfase no autoritarismo do adversário à direita; Haddad continuará colado a Lula, enquanto o PT se encarrega de mobilizar desde já a sociedade civil contra o candidato do PSL, e Ciro dirá ter mais experiência do que Haddad e ser ele o mais competente para enfrentar aquele a quem associa ao nazismo e ao fascismo.
Em 2014, Sua Excelência o eleitor tomou decisões na última hora.